Falando de amor, por Luzia Almeida
Um olhar sensível sobre a saudade e as relações
Faz tempo que quero falar de amor!... Mas não é de um amor de literatura de acordo com os autores: Drummond, Bandeira, Quintana e nem de acordo com a Cecília. Eu quero falar de amor com marca digital que também pode ser paraense: um amor com gosto de açaí. Açúcar é uma rede na varanda com o calor da tarde... mas, o que seria essa fala? Na verdade, nem sei direito: somos atravessados de toda sorte de notícias e situações. São guerras e rumores de guerras. Assaltos, racismos e enchentes e em todos esses tópicos percebo que falta amor e eu pretenderia, de alguma maneira, preencher o vazio deixado pela guerra, porque uma bandeira branca já não é mais suficiente... ou será que o meu sentimento é utópico, um sentimento adolescente com preguiça de crescer?
Então eu olho para os meus livros e os vejo tão desamparados, desarrumados em cima da mesa. Às vezes, encontro o Graciliano fora do lugar e o livro de contos do Machado... nem sei por onde anda!... Quero falar de amor, mas nem sei por onde andam meus livros favoritos e nem pretendo lutar por aqueles que emprestei, talvez não os veja nunca mais. O amor aos livros é igual ao amor à terra, deveria ser patriótico.
O amor ao Pará, por exemplo, tem a mesma conjugação do verbo esquentar: é de primeira, mas, com certeza, não será possível conjugá-lo ao meio dia. As coisas são assim, são quentes como o amor... são difíceis!...
E quanto aos meus amigos? Sinto-me abandonada como o personagem de “Noites brancas”, ele ficou sozinho quando todos foram ao campo. A solidão merece um dicionário todinho. Sinto-me quase só. É verdade que há comunicação, no entanto é uma comunicação velada ou cheia de sutilezas. Meus amigos estão envelhecendo comigo e usam calça jeans como eu, mas não pensam como eu, não percebem o perigo, o mundo pronto a tragá-los. O tempo e o mundo estão alentos como um enfermeiro de plantão.
Outro dia, a flor da pitaya abriu por cima do meu muro, eu não pude segurá-la mais que uma noite. Ela se foi e ficou apenas a saudade. Se sentimento fosse verbo seria pronominal e o pronome seria saudade. Como o verbo “queixar” que é classificado como um verbo essencialmente pronominal. Eu me queixo, tu te queixas, ele se queixa. Amor é irmão gêmeo de verbo pronominal e o pronome é sempre essa bendita saudade que poderia nem ser tão fiel assim. Por que será que nunca disse à minha mãe o quanto a amo? Poderia fazê-lo agora, poderia gritar para o mundo inteiro saber do meu amor por ela... e de que adiantaria se ela partiu sem saber que deixou a caneta comigo e com a Lili?
É isso! O amor que não deságua é como porco-espinho, não posso tocá-lo. Prendê-lo seria imprudente. Matá-lo seria perigoso como tentar secar uma fonte.
O amor!... Os anos passam e os projetos ficam... o coração vai se ajeitando por cima do muro como a flor da pitaya, só que mais resistente. Eu queria tanto falar de amor e marcar esta página de jornal como se fosse um farol. Um anúncio de luz. Dizer ao meu próximo de sua importância e maciez. Socorrer os aflitos. Levar um sorriso puro de bondade ao necessitado... às vezes, amar uma pessoa pode ser perigoso, a pessoa pode ser daltônica. Há uma cor verdadeira, a cor do amor, mas não temos certeza de seu azul. O daltonismo atrapalha os olhos e o coração pode errar o alvo.
Queria muito falar de amor, mas acho que vou deixar este assunto para a próxima semana.
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Sobre o autor
Luzia Almeida
Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação
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