Falando de amor II, por Luzia Almeida
Os pequenos rituais, como encontros em padarias, são provas da conexão emocional que construímos com aqueles que amamos
Muito bem!... Vamos continuar nossa conversa sobreo amor até porque é necessário. E já vou começar fazendo novamente menção à flor da pitaya que abre uma noite apenas e depois se fecha eternamente... nosso coração não é assim!... Por exemplo, o primeiro amor: é o primeiro desabrochar de uma série. Quem esqueceu o primeiro amor? Quem não sofreu? Quem não chorou? Quem não viveu?
O meu primeiro amor foi terrível!... Eu tinha dezessete e ele tinha treze e uma moreninha na outra rua. Eu tinha dezessete e esperanças e ele era feliz com nossa amizade. Mas as coisas pioraram quando eu fiz dezoito. Ele zombou de mim. Disse que estava “ficando velha”. Vocês podem imaginar o tamanho da minha frustação?!... Eu, simplesmente não poderia descartar minha idade... e ainda tinha a tal moreninha na outra rua... eu seria capaz de enfrentar um exército por causa dele e ele zombando de mim!... Mas essa zombaria era mascarada porque ele não podia acrescentar idade aos seus treze. Era treze e pronto! Acabou-se. Eu começava a juventude e ele vinha se arrastando atrás de mim com os seus treze e a moreninha para, talvez, acrescentar alguma coisa de maturidade na vida dele. Às vezes, zombamos de uma pessoa, mas é só da boca pra fora: pode ser ciúme, pode ser inveja, pode ser tolice...
Apesar da zombaria havia amor. Nós nos encontrávamos nas tardes de sol em frente de casa, na rua Marcílio Dias, e íamos à padaria todas as tardes. Era um ritual e, se alguém quer saber se o sentimento é amor, é só verificar se há ritual. O ritual é a prova cabal do amor mesmo com todas as morenas do planeta... Acho, também, que ele tinha medo de mim. Eu era muito impetuosa e ele gostava, mas ainda não tinha aprendido a arte do domínio, era só um menino crescido. Conversávamos sobre banalidades no muro da casa dele embaixo da castanheira. Eu queria ser uma águia e ele queria ser um tigre (foi por causa dele que fiquei conhecida como Luzáguia). E teimávamos sobre qual dos animais era o mais poderoso. Acho que esse duelo não seria nada fácil. E antes que houvesse um verdadeiro duelo, ele se mudou para outro bairro. Mas levou consigo esse amor porque há amores que guardamos em gavetas bem altas, tão altas que ultrapassam as nuvens... e olhando assim para as nuvens quem poderia dizer que além delas há gavetas!...
Outra coisa, além de ritual (lembram da raposa? Pois é!...), no amor tem que haver provas: era uma tarde como qualquer outra e eu estava com febre e não poderia ir à padaria com ele. Às três horas eu já o esperava no pátio de casa e disse que não iria e falei sobre a febre. Ele não disse nada. Seguiu sozinho e eu fiquei partida. Uma tarde sem ir à padaria com ele era como perder um baú cheio de ouro. Ele foi e eu fiquei esperando-o voltar. Vi quando passou de volta. E fiquei olhando até ele entrar na casa dele. Depois o vi sair e vinha correndo em minha direção com uma coisa na mão: eram folhas de canela para “eu fazer um chá”. Era uma prova de amor e ele não sabia. Eu nunca me senti tão amada em toda a minha vida mesmo com dezoito anos!...
Acho que meu marido não vai gostar muito de ler esse texto. Mas ele não precisa se preocupar com nada, guardei pra ele o voo da águia e o aroma da canela e, declaro que ele é o meu tigre verdadeiro: o único que dorme nos meus braços de amor.
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Sobre o autor
Luzia Almeida
Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação
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