Ecopsicologia e as Emergências Climáticas, por Denise Evangelista Vieira
“Olhe profundamente a Natureza e então você entenderá tudo melhor.”
Albert Einstein
Em 1866, o zoólogo alemão Ernst Haeckel forjou pela primeira vez o termo Ecologia, no estudo chamado de Generelle Morphologie der Organismen. Nessa obra, Haeckel definiu a Ecologia como “o estudo científico das interações entre os organismos e seu ambiente”.
Já a história da Psicologia remonta à mitologia grega. O mito sobre Psique, narrado por Apuleio, filósofo platônico romano, revela como uma bela mortal tornou-se imortal através do amor. E por isso Psique chegou até nós como sinônimo de alma ou de princípio da vida.
A Ecopsicologia é o encontro entre a Psicologia e a Ecologia e atua como ciência, como psicoterapia e como movimento social. Ela pesquisa os nossos vínculos psíquicos com a natureza, demonstrando que as dimensões biológica, psíquica e espiritual se interconectam com os ecossistemas, em estado natural ou modificados pelo ser humano.
Em 1968 o mundo se reuniu em Paris, pela primeira vez, para discutir o meio ambiente, na Conferência da Biosfera. De lá para cá muitos esforços têm sido empreendidos pela sociedade, no âmbito político, pela ciência e em outros campos do conhecimento, no sentido de ampliar a consciência de que somos seres em estreita e recíproca relação com a natureza. Existimos em função dessa relação. Somos interdependentes.
A palavra ecopsicologia apareceu pela primeira vez em 1989, entre estudiosos da Universidade de Berkeley. Nesse grupo estava Theodore Roszak, que em 1992 lançou o livro The Voice of The Earth: An Exploration of Ecopsychology. Em 1995, Alan Gomes e Mary Kanner, também membros do grupo de Berkeley, publicaram Restoring the Earth, Healing the Mind, obras responsáveis pela difusão mundial da Ecopsicologia.
Em 1995, foi realizada em Berlim a Primeira Conferência das Partes – COP-1, inaugurando os encontros anuais dos países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC). As COPs existem para promover o diálogo e a cooperação entre os países e territórios com o objetivo de diminuir as emissões de gases do efeito estufa (GEE) e conter o aquecimento global.
No final do ano 2000, eu estava voltando de Brasília num voo muito turbulento. Para me distrair, entabulei uma conversa com a moça que estava ao meu lado. Ela me contou que era diplomata e que estava indo a Paris para uma reunião preparatória que aconteceria entre líderes mundiais, quando seria discutida a crise climática.
Graciela Tejada Pinell, doutora em Ciência do Sistema Terrestre, do INPE, em entrevista à revista Torta, esclarece que os raios de Sol que chegam à Terra são refletidos novamente para o espaço…”. A atmosfera funciona, segundo a cientista, como um cobertor que mantém a temperatura da Terra em níveis habitáveis. É esse “cobertor” de gases que faz do planeta um lugar propício para a vida. Entretanto, se nós emitimos mais gases para a atmosfera, esse cobertor aumenta de espessura e a parcela de calor que deveria retornar para o espaço, fica retida e desequilibra a média da temperatura da Terra. Nos últimos séculos passamos a acentuar de diferentes formas a relação de exploração dos recursos naturais. Foi nesse contexto que fomos desconsiderando a natureza, como se não fôssemos parte dela. Passamos a interferir agressivamente nos ecossistemas e a emitir um excesso de gases, de maneira inconsequente.
Foi em 2015, na COP 21, que foi firmado entre os 195 países participantes, o Acordo de Paris. Desde 1850 a temperatura média da Terra aumentou em torno de 1,1°C. O objetivo desse acordo era reduzir as emissões de gases de efeito estufa para manter a temperatura média global abaixo de 2°C, de preferência a 1,5°C, em comparação com os níveis pré-industriais.
Na modernidade e na pós-modernidade, o pensamento científico foi se fragmentando, criando especialidades. Passou por um longo período com significativa dificuldade em estabelecer um diálogo entre os saberes. Aglutinar Eco e Psique não se trata de unir palavras de um modo superficial, mas representa uma tentativa em reconhecer que é preciso olhar para o todo se quisermos compreender, de fato, que somos nós. Responder a essa pergunta, “quem somos nós?”, talvez seja a base sobre a qual possamos recriar a humanidade, passando da era da exploração, da competição e das guerras para uma nova era, na qual olharemos, com profundo respeito, para todas as formas de vida. E assim como a Psique, será tornada eterna pelo amor.
No dia 24 de outubro último, foi publicado o Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2024 pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), nos alertando para o fato de que a temperatura global caminha para um aumento de 3,1°C ao longo deste século. Isso significa dizer que, se mudanças globais não forem efetivadas, a vida tal qual a conhecemos, ficará inviável.
Na segunda-feira, 11/11, começa em Baku, capital do Azerbaijão, a 29° Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. A COP 29 acontece em meio a um sentimento de urgência, compartilhado por todo o mundo que não pode mais fechar os olhos diante das catástrofes ambientais que se intensificam e se tornam cada vez mais frequentes — desequilíbrios que causamos e que podemos fazer cessar.
Pierre Teilhard de Chardin disse: “O futuro pertence àqueles que dão às próximas gerações motivos para ter esperança”. Talvez possamos pensar neste momento que o futuro pertencerá àqueles que herdarem a esperança que precisamos plantar agora.
Texto por Denise Evangelista Vieira
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Sobre o autor
Denise Evangelista Vieira
Psicóloga formada pela UFSC e em Artes Cênicas pela Udesc. Escreve sobre o universo humano. Quem somos e em quem podemos nos tornar? CRP 12/05019.
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