Bullying, “Eugênio” e o “Abaporu” de Tarsila do Amaral, por Luzia Almeida
A prática do bullying tem sido constante na sociedade e, mais especificamente, nas escolas. Acabar com essa prática é mais que um dever, é uma obrigação. De acordo com a fala do senador Dr. Hiran: “Não podemos admitir que uma instituição voltada para a nobre missão de transmitir conhecimentos, desenvolver competências e, principalmente, formar valores que promovam a dignidade humana e a coesão social seja cenário de fatos tão deploráveis ou de outras ocorrências que atentem contra a integridade física, psíquica e moral das crianças e dos adolescentes”. É insustentável que estudantes não façam a distinção entre o certo e o errado nas suas atitudes e continuem fazendo o errado com a máscara do divertimento: o mesmo ato que produz riso em alguns, produz lágrimas em outros. Aquele que pratica o bullying “come” a vida do outro.
Quando Tarsila do Amaral em 1928 pintou o quadro “Abaporu”, esta palavra vem do tupi-guarani e significa “homem que come”, ela estava fazendo arte e no sentido nacionalista porque o quadro apresenta as cores nacionais: verde, amarelo e azul. O “Abaporu” da Tarsila é um tipo de canibal, mas um canibal que come arte e cultura.
Quem pratica o bullying come a vida do próximo. Comer vidas é próprio de quem pratica o mal. E, devido a esse tipo de comida, em dezembro de 2022, o Plenário do Senado aprovou o Projeto de Lei (PL) 4.224/2021 que tornam criminosas as práticas de bullying e de cyberbullying. Seguimos esperando a sanção do presidente. Mas, a lei resolve? Não! A lei não resolve um hábito, um comportamento. É necessário observar as causas do bullying porque a lei não previne, ela pune. A lei nem mesmo intimida, haja vista as estatísticas crescentes de violência contra as mulheres. Então, o que fazer?
Como ensinar uma pessoa a respeitar o próximo? Como ensinar empatia diante de uma situação vexatória? Situações existem e pedem compaixão, não vaia. Assim aconteceu com personagem de Érico Veríssimo na obra “Olhai os lírios do campo”: “Eugênio tapava com ambas as mãos o rasgão da calça, sentindo um calorão no rosto, que lhe ardia num formigamento. Os colegas romperam em vaia frenética: Calça furada! Calça furada! Calça furada-dá!”. Não é possível que não se compadeçam do colega numa situação tão constrangedora. É possível sim: “Gritavam em cadência uniforme, batendo palmas. Eugênio sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Balbuciava palavras de fraco protesto, que se sumiam devoradas pelo grande alarido”.
O “Abaporu” de Tarsila do Amaral tem formas diferentes de um ser humano: tem pés enormes e cabeça pequena. Está inserido na escola modernista. É uma obra de arte e pertence ao Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba): todos admiram este quadro pintado por uma brasileira. Mas, que ligação haveria entre esta pintura e o bullying? Além do verbo comer que é comum para ambos e a cabeça pequena (perceberam a metonímia?), não há ligação. O bullying somente tem conexão com o abominável. Todo aquele que zomba do próximo seja por qualquer motivo, nunca conheceu o real significado da palavra respeito.
Todavia, a Literatura pode capturar o valentão e prendê-lo num comportamento empático e sadio a partir das lágrimas e das dores de “Eugênio”. A Literatura não desqualifica a lei. A Literatura humaniza e onde há humanidade e amor ao próximo a lei não precisa ser aplicada porque o coração é grande.
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Texto por Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em comunicação.
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Sobre o autor
Luzia Almeida
Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação
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