A crônica social de Vicente de Melo, por Luzia Almeida
“São cidadãos brasileiros, resilientes e verdadeiros heróis”
A crônica “Gente humilde do dominó supera a plutocracia” do escritor Vicente de Melo tem alguma coisa de luar e de tempestade. Mas, antes de definir o luar e a tempestade que há no texto, quero lembrar a vocês o conceito de plutocracia que, de acordo com o dicionário é: 1. a influência ou o poder do dinheiro; argentarismo; 2. Sociologia: exercício do poder ou do governo pelas classes mais abastadas da sociedade. Plutocracia se fosse verbo seria impessoal porque é desumano e a crônica do Vicente deixa isso bem claro nas linhas que configuram a sociedade brasileira.
A leitura de uma crônica sempre conduzirá a uma reflexão e a leitura de uma boa crônica conduzirá ao deleite além da reflexão e foi isso o que aconteceu... O deleite! “No meio do caminho, comecei a refletir sobre aqueles homens, a maioria velhos aposentados, de rostos sulcados e cabelos grisalhos parados sob a generosa sombra de uma árvore”. E o que eles estão fazendo? Estão jogando dominó. A beleza da crônica social vai além da generosidade do autor, parte dela toca a realidade e segue na direção da reflexão. “Certa vez, eu parei, olhei mais uma vez para trás e estendi as minhas reflexões”. Estender as reflexões significa um despertar social sobre o Brasil tendo como base homens aposentados jogando dominó. E isso é tão simples, é uma visão comum de todos os dias, mas a reflexão não é comum: é ímpar: “Porém o que dizer destes homens? São desocupados? São malandros?”. A interrogação a respeito desses homens procede à medida que o autor lança luz a condição social deles e é formidável!... O Vicente vê além do dominó, ele vê a condição social e nos convida a ver também: “São com certeza pessoas honestas, probas e de boa índole buscando momentos efêmeros de prazer... são cidadãos brasileiros, resilientes e literalmente verdadeiros heróis”. Eis o parágrafo de luar — o heroísmo da sobrevivência, a construção da brasilidade de nossa gente. A lua ´prateada sobre os cabelos daqueles que já trabalharam tanto e nem sempre tiveram o pagamento das horas extras. O luar do doce encontro nos jogos os torna meninos olímpicos.
Todavia, avancemos com nosso parágrafo de tempestade que aponta para a parte mais fina e mais alta da pirâmide: quando o autor percebe a história de vida de cada um deles e suas lutas e suas resiliências... um sentimento de revolta o domina na visão de um Brasil como uma sociedade “vil, inescrupulosa e hipócrita”: adjetivos que marcam a opressão de um povo. Pensar nas riquezas do Brasil e na qualidade de vida do povo é pensar fora da racionalidade, é pensar além do paradoxo. Mas o texto tem a força de uma lente para regular a miopia e mostrar claramente os polos que simbolizam o Brasil de classes, o Brasil de ricos e de pobres. E ele segue num ritmo de reflexão: O “Brasil das injustiças, das desigualdades sociais e da violência visceral”. E a metáfora-tempestade que ele usa é cheia de veneno: “Pensei no ninho de cobras formado por políticos desprezíveis atolados na lama da corrupção”. Como seria o Brasil sem esse ninho? Sem esses ovos?
A tempestade provocada pela reflexão do cronista, fruto de um cenário feliz, concede-nos argumentos de esperança. A corrupção está solta é verdade, mas não está mascarada. Ela é alta e isso pode ser um recurso para o combate. Primeiro mede-se o inimigo, depois escolhe-se as pedras.
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Sobre o autor
Luzia Almeida
Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação
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