WhatsApp: se beber, não use!
Brasileiros estão em segundo lugar no mundo em uso do aplicativo de conversas
Karin Verzbickas
Seja sincero: você consegue se imaginar por uma semana, ou um dia sequer, sem WhatsApp? É só lembrar das raras, mas marcantes vezes que alguns juízes de primeira instância, impulsivamente, decidiram suspender o serviço por algumas horas. Ou, ainda, quando recentemente o aplicativo apresentou problemas de instabilidade na conexão, e o povo simplesmente pirou... Essa ferramenta instantânea de mensagens já está totalmente incorporada à nossa rotina. Quer você queira ou não. Imagine quantas ligações são poupadas diariamente pelo aplicativo, ou quantas conversas e atualizações deixariam de ser feitas, ou quantas informações relevantes você não receberia, ou quantos relacionamentos jamais existiriam.
O brinquedo de Marc Zuckerberg, adquirido pela bagatela de 22 bilhões de dólares em 2014, já mobiliza diariamente mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo. E tem muita gente por aí que não sabe mais viver sem ele. Me inclua nessa. Para desespero das operadoras de telefonia móvel e provedoras de internet – a estimativa é que o WhatsApp já tenha “matado” pelo menos dez milhões de linhas só no Brasil – mais de 100 milhões de pessoas no país estão conectadas agora, nesse minuto, a essa rede social. É, isolado, o aplicativo de mensagens mais utilizado no Brasil. Aliás, somos o segundo maior usuário do mundo, só perdemos para a conectada África do Sul.
O fato é que se o WhatsApp prejudicou o faturamento das operadoras, ele vem também sacudindo a reputação de alguns usuários. Tudo porque muita gente não tem, digamos, a elegância necessária aliada à falta de discernimento sobre o poder de destruição dessa ferramenta. Beber e teclar nessa rede social, por exemplo, pode ser tão ou mais destrutivo quanto dirigir alcoolizado. Isto porque o WhatsApp tem na sua essência a característica de ser multifuncional, isto é, conecta você não só aos seus amigos e familiares, mas também ao mundo corporativo e acadêmico a que você pertence. Pelo perfil dinâmico que o aplicativo imprime às mensagens, é muito fácil você se confundir e mandar aquela fofoca maldosa que acaba de trocar com as amigas para ninguém menos que a sua chefe, personagem central da história. Ou publicar sem querer no grupo da família o vídeo do namorado te dando boa noite, se é que me entende. Quase todo mundo tem uma história de gafe para contar. E nem sempre elas acabam bem.
Altos executivos e teoricamente habituados a lidar com novas mídias também derrapam feio. O superintendente da Rede TV, por exemplo, Elias Abrão, teve que pedir demissão da emissora depois de publicar partes íntimas da modelo Ju Isen, nos bastidores da gravação de um programa. Pegou tão mal que ele se demitiu publicamente pelo Twitter. Outro caso? Lembram da médica que divulgou dados da ex-primeira dama, Marisa Letícia, enquanto estava internada para tratamento? Também foi avassalador e ela foi demitida no mesmo dia pelo hospital em que trabalhava. O Judiciário também tem estado atento aos casos de trabalhadores que utilizam o aplicativo de forma indevida. Recentemente, a Justiça do Trabalho de Campinas manteve a justa causa a um funcionário por ter realizado comentários pejorativos à empresa em um grupo de WhatsApp.
E há ainda aqueles que não perdem o emprego, mas perdem os amigos. Há, pelo menos, dois caminhos para isso. O primeiro é ser chato. Afinal, quem tem resiliência suficiente para aguentar aquele colega que manda vídeos eróticos, machistas ou infames a cada duas horas para você? Ou mesmo aquela prima distante que te pergunta por Whats as coisas mais esdrúxulas e desnecessárias, consumindo seu rico tempo virtual disponível? Então, meu caro, repense seu comportamento e veja se você não está se tornando aquele chato inconveniente que ninguém quer ter no menu de conversas. O segundo caminho para perder os amigos é dizer o que não deveria ser dito, não naquela hora, não daquela forma. O aplicativo não combina em nada com quem é impulsivo. Escreveu, enviou, não tem como voltar atrás. Não por enquanto, pelo menos. Isto porque a equipe de Zuckerberg anda trabalhando há meses nessa solução e deve lançá-la em breve. Tudo em nome da continuidade do planeta e da relativa paz mundial.
Para não arranhar sua reputação, veja como evitar algumas armadilhas:
1) Errar na hora de escolher a foto de perfil: Lembre-se que ela será vista por todos e não só pelos amigos. Nada de sensualizar ou revelar aquela tatuagem até então secreta.
2) Pesar a mão nos “emojis”: Nem todo mundo entende todos os gestos e intenções daqueles desenhozinhos lindinhos. Use com moderação e, de preferência, coloque alguma palavra compreensível entre eles.
3) Confundir o destinatário: Depois não adianta chorar ou pedir desculpas. Foi, tá feito. Releia o texto e cheque para quem está indo a mensagem antes de dar o “enter”.
4) Visualizar e não responder: Não quer ou não tem o que responder na hora? Deixe pelo menos um “ok” e diga que o fará depois. Do contrário, as interpretações para isso podem ser muitas.
5) Mandar frases de autoajuda, desabafos políticos ou piadas de mau gosto: Certifique-se de que você será bem aceito. Em geral, é melhor evitar os três casos em ambientes corporativos.
6) Errar no horário: Enviar mensagens ordenando atribuições a subordinados nas madrugadas e fins de semana pode gerar um barulho danado. Além de não trazer efeito produtivo algum.
7) Esquecer o português: Não é porque o aplicativo é amigável para conversas rápidas e informais que você deve esquecer das boas regras da sua língua materna. Assim como o conteúdo, o idioma precisa ser preservado.
8) Não pedir autorização: Se você tem o contato da pessoa no seu celular, não significa que você pode sair por aí criando grupos e a incluindo em todos. Convém perguntar antes, sempre.
9) Compartilhar contatos: Tem sempre gente pedindo contato de alguém. E não é porque você descolou o celular do Obama que tem que ficar compartilhando por aí. Preserve sua fonte e mantenha a discrição.
10) Exagerar na dose: Pra que um texto tããããão longo? WhatsApp pede mensagens curtas. Não se passe ou correrá o risco de ninguém ler o que você mandou. O mesmo vale para os áudios intermináveis.
11) Fugir do foco – Seja fiel ao tema para o qual aquele grupo foi criado. Se a motivação inicial foi juntar o pessoal da corrida e trocar experiências sobre treinos, pra que mandar a tabela do Brasileirão ou os novos horários da missa na Capela do Menino Jesus?
A ferramenta do Mark é boa. Basta usar com moderação. E se beber, desligue o celular!