Vincent van Gogh, o Imperador dos Sentidos, por Luzia Almeida
Do século XIX para o século XX, XXI, XXII, ... quem poderá deter o azul de Van Gogh? Ou o seu amarelo girassol? Sim, quem poderá detê-lo? Ele está no MASP e nos maiores museus do mundo, os quadros de Van Gogh são verdadeiras Monalisas. Leonardo da Vinci faz parceria com Vincent na entrega de um enigma que é verdadeira noite. Noite estrelada! Sim, senhor! E com casinhas ao fundo para serem interpretadas numa sedução de reentrâncias azuis. Quem interpreta? Ninguém! Mas há o convite e é isso o que importa. Ele, Vincent, convida-nos a um passeio de cor e emoção através dos tempos numa sinfonia azul para todos os sentidos.
Ernest H. Gombrich disse que “Van Gogh queria que seus quadros tivessem o efeito imediato e violento das coloridas gravuras japonesas”. Muito além destas gravuras, os quadros do pintor holandês anoitecem os sentidos da gente nesta inteireza da cor que leva à paixão. Ele sabia do imã da cor. Sabia do azul das noites infinitas expostas aos sentidos, e tão somente sabia para viver intensamente um sonho de amor. Uma impossibilidade. Várias impossibilidades e um traço marcante e único de quem conviveu com o outono, mas que nunca abriu mão de uma amendoeira em flor e de gestos encantadores refletidos em enigmas.
“A arlesiana” reflete esse enigma na expressão que sugere tamanha ternura num gesto intelectual ou reflexivo. Em que estaria pensando? Estaria apaixonada? Quem sabe o que significa o brilho do seu olhar neste mistério de amor entre o róseo e o verde escuro: combinação que promove saudades de uma tia querida ou do primeiro amor. Ah!... Quando se fala em amor, fala-se do irmão: “Theo, que grande coisa é mais tom e cor! E quem não aprender a ouvi-las vive longe da vida real”. Essa era a relação que ele tinha com a cor e com o irmão. Sentimentos voltados, arrebatados em direções que se cruzam, que se alinham, que se despedem num ponto que marca outro ponto nesta eterna canção que lembra João Cabral de Melo Neto. As manhãs de Van Gogh eram manhãs de outono e por isso mesmo se achegam a nós porque somos quebrados por dentro. Melancolia também é pincel e poesia...
Isso! Era como fruta madura e cheirosa. Vincent a capturava e a transformava em cor: verdadeiro manual de instruções a todos os olhos carentes de sentir. Uma agonia bendita de sentir partia do inédito da cor para todos os olhos e deixava escorregar o deleite até o coração... vida capturada de tudo que servia de pouso para seus olhos azuis. Tudo virava poesia. Quer ver? “O estudante”! Legítimo assunto lírico. Vida cheia de neblina, mas que deixa ver navio chegando devagarinho numa sombra infinita de tristeza. Assim, cada pessoa pode perceber a obra desse grande gênio da Holanda a partir de seus próprios sensores.
Se havia sapatos velhos na casa, havia música também. A velhice deles e seu aparente desgaste agarravam os olhos do pintor numa fúria perspicaz e ele, impregnado de amor, pintava. Trabalhava com o desespero dos seus dias porque nada nele era superficial, nada era pele que, mesmo sendo pós-impressionista, viveu a violência emocional do pincel ultrarromântico que arrebata a existência numa teia infinita de corações encontrados num só peito. Vários corações. Um só peito para dar conta de tantos impérios!...
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Sobre o autor
Luzia Almeida
Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação
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