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Um novo plano para SC: O desafio das nossas cidades, por Vinicius Lummertz

Foto: Divulgação

Publicado em 15/02/2022

No final de 2021 o Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado do Produto Interno Bruno (PIB) das cidades, tendo como referência o ano de 2019. O estudo é feito desde 2002, o que permite enxergar algumas tendências. Em uma perspectiva curta de tempo, o que leva algumas cidades a crescer e outras não? Será interessante acompanhar os resultados de 20/21, que certamente virão marcados pelos efeitos municipalizados dos impactos econômicos e sociais da pandemia do coronavírus. 

O Brasil tem cerca de 5.600 municípios. Nos últimos 50, 60 anos, o país passou por uma profunda mudança: de uma sociedade principalmente rural, a pelo menos 85% de sua população morando em cidades. Esse crescimento, beirando ao inchaço, explica a dificuldade no fornecimento de serviços básicos de transportes e saúde em muitas cidades que tiveram um crescimento exagerado: não é possível atender tanta gente de forma tão rápida, além da necessária correção de aspectos negativos, como moradias sem qualidade.

Aduzindo, segundo o IBGE, oito cidades concentram 25% do PIB do País. As 70 mais ricas respondem pela metade – ou seja 1% dos municípios com metade da riqueza nacional. Só a capital paulista, maior mancha urbana nacional, detém 10,3%. Em população, se incluirmos outros 38 municípios que formam a região metropolitana, são mais de 20 milhões de moradores, 10% da população brasileira. 

Santa Catarina vive uma situação diferente. Entre as cem cidades mais ricas do país, quatro são catarinenses: pela ordem, Joinville, Itajaí, Florianópolis e Blumenau. Não há uma concentração na capital do Estado, como em São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais ou Rio de Janeiro, só para citar as mais próximas.

Da mesma forma, percebe-se em Santa Catarina uma distribuição menos extremada geograficamente ou mesmo de população. Nesses quase 20 anos do estudo do IBGE é possível enxergar algumas nuances interessantes: Joinville segue na liderança estadual; Itajaí evolui continuamente, saiu da quarta posição em 2002 para a segunda em 19; Florianópolis e Blumenau caíram uma posição: a capital está em terceiro; Blumenau é quarta – ambas ultrapassadas por Itajaí.

Há uma faixa intermediária bastante simbólica, como São José, quinta economia catarinense; Chapecó, que evoluiu para sexta; Jaraguá do Sul para a sétima, Criciúma, consolidada em oitava, Brusque em nona. Balneário Camboriú subiu de 13ª para décima desde 2002. 

Esses números dizem muito, mas não tudo. É importante observar e entender o que levou Araquari a saltar da 78ª posição para 13ª em 17 anos – com certeza temos que levar em conta a instalação da BMW na cidade, trazendo junto um parque industrial. Mas haveria alguma relação com os bons resultados da vizinha Joinville? Pode-se dizer o mesmo de Balneário Barra do Sul, que teve performance bastante positiva no período? Ou é justamente o contrário: Joinville cresce motivada também pela boa performance das vizinhas? E São José, recebe influência benéfica da capital? 

No sentido contrário, o que teria acontecido com Abelardo Luz, que saiu de 50ª para 85ª, Campo Erê, de 92ª para 136ª, Canoinhas, que perdeu quase vinte posições, de 19ª para 37ª, ou Caxambu do Sul, de 150ª para 201ª?

Do ponto de vista da gestão pública a “cidade ideal” equilibra a produção de riqueza com o bem-estar dos moradores. Não há necessariamente um “tamanho certo”, geográfico ou de população, mas sim uma equação que permita compatibilizar o desenvolvimento econômico com o social. Descolar essas dimensões só gerará desigualdade em um país já desigual.

Santa Catarina tem uma chance, contudo, de evitar os possíveis problemas de um crescimento desordenado ainda não verificado plenamente. Cidades com 200 mil habitantes, por exemplo, que fazem parte de muitos modelos de desenvolvimento urbano, são mais fáceis de gerir que outras com mais de um milhão. Ou seja, cidades de pequeno e médio porte, bem trabalhadas, conseguirão transformar em ganho social o crescimento econômico e populacional.

É importante, fundamental, olhar este cenário “de cima”. Sem ele, como fazer um Plano de Vida para o nosso Estado – um plano com políticas públicas duradouras? Um Plano de Vida que evite o crescimento desordenado e concentrado, enquanto algumas regiões decrescem e deveriam ser contempladas com projetos regionais vocacionados para o seu desenvolvimento.   

Este é o desafio do próximo governo. Por isso é importante que os partidos e os pré-candidatos mostrem à população quais são os seus planos para SC – e não fiquem apenas no jogo de bastidores, do qual os catarinenses não fazem parte.

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