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Turismo na Serra: para além do frio e da neve, por Vinícius Lummertz

O Eco Resort Rio do Rastro, criado pelo empresário Ivan Cascaes, é um exemplo de empreendimento de luxo em um lugar antes inóspito, na Serra Catarinense (Foto: Divulgação) **Clique na imagem para ampliar

Publicado em 31/05/2022

O que me inspira a retomar o tema Turismo na Serra Catarinense são as notícias veiculadas recentemente pela imprensa. Uma delas nos informa que Santa Catarina ficou fora da lista dos destinos mais procurados para o período de inverno deste ano, de acordo com a Booking. O município que lidera o ranking é Campos do Jordão, em São Paulo, famoso pelas baixas temperaturas. Depois está Gramado, no Rio Grande do Sul, que atrai turistas o ano todo.

Só para efeito de registro, neve em Campos do Jordão – que é a cidade mais alta do país, a 1700 metros de altitude – é algo muito raro, a última vez foi em 1975. Em Gramado neva, mas não é com muita frequência e, quando acontece, geralmente é um dia no ano. Em compensação, as duas cidades têm outra coisa em comum: uma super infraestrutura turística, acompanhada de um excepcional trabalho de divulgação e promoção. É a fórmula do sucesso no Turismo, não há muito segredo.

Outra notícia que me chamou a atenção foi de autoria do jornalista Ânderson Silva, que comentou exatamente sobre a ausência de SC no ranking de inverno do Booking. Ele foi no alvo: “O mais difícil está pronto. Santa Catarina não precisa inventar, nem mesmo fazer criações mirabolantes. Está tudo lá, na Serra Catarinense. O Estado tem um pote de ouro nas mãos. Agora basta sabe explorá-lo ao ponto de trazer emprego, renda e arrecadação”.

Há muitos anos venho afirmando o mesmo: poucos lugares de montanha e clima frio do mundo são tão privilegiados como a Serra Catarinense – “terra do leite e do mel, uma Canaã”, dizia o ex-governador Luiz Henrique. Lembra a Nova Zelândia e a Escócia – e um ator escocês, Ewan McGregor, impressionou o mundo num comercial do perfume Davidoff Adventure gravado nas nossas exuberantes paisagens serranas.

No entanto, essa riqueza precisa ser desenvolvida para gerar qualidade de vida, empregos e renda para seus moradores e para aqueles que estão chegando. Só há uma trilha para chegar lá: o Turismo. O mapa também está pronto e se chama Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo das Serras Gaúcha e Catarinense, que produzimos quando eu era secretário nacional de Políticas de Turismo, de 2012 a 2015, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID, para criação de um financiamento do Prodetur com foi feito no Nordeste – mas o projeto não foi levado à frente.

No que se refere ao setor público, o exemplo emblemático da ineficiência e falta de entendimento da importância desse Plano Estratégico para as Serras Gaúcha e Catarinense é interminável novela da pavimentação da BR-438, a Rota Caminhos da Neve, no trecho entre Bom Jesus (RS) e São Joaquim, que interliga de forma mais curta o trajeto entre Florianópolis e Gramado.

As obras em SC estão paralisadas desde 2018 e parece mentira que faltam apenas 11,4 km a pavimentar. Em abril passado, um pequeno avanço aguardado há 30 anos: o Governo do Estado assinou convênio com a prefeitura de São Joaquim para a construção da Ponte das Goiabeiras, sobre o Rio Pelotas, na divisa SC-RS. São R$ 12 milhões para uma ponte de pouco mais de 100 metros.

No que se refere à iniciativa privada, é importante lembrar que nem os planos e nem as linhas de financiamento – como o Prodetur, que conseguimos trazer para os estados do Sul depois de muitos anos de monopólio nordestino - vão ter resultado se não houve uma mudança de mentalidade e atitude por parte da própria comunidade e de suas lideranças políticas e empresariais. Além de pousadas, bares e restaurantes, é preciso promover festas e eventos como os de Gramado e trazer museus e parques temáticos – também como Gramado ou de Pomerode, por exemplo.  

Sempre é bom lembrar que os investimentos feitos pioneiramente na Serra são resultado de uma ação articulada promovida pelos agentes locais. Dilor Freitas foi investir por conta e risco na primeira vinícola da região, hoje consagrada. O mesmo pode-se dizer da maçã, hoje produto de exportação, iniciativa de colonos japoneses. Mais recentemente, o empresário do setor têxtil de Jaraguá do Sul, Vicente Donini, também subiu a Serra até São Joaquim para implantar vinícola e pousada.   

Há que se destacar também os investimentos privados desde Rancho Queimado, com muitos condomínios e as muitas pousadas de Urubici. E na área pública o asfaltamento da Serra do Corvo Branco, iniciado em novembro e que deve ficar pronto no início de 2024. Porém, reforço, só um Planejamento Global e investimentos indutores poderiam romper a barreira do tempo. Esta é a atenção política necessária.

O frio e a neve encantam na nossa Serra como em nenhum outro lugar do Brasil. Este é o destino de um Estado abençoado por Deus e bonito por natureza. Mas SC também precisa dar uma mãozinha ao Criador para transformá-la num grande destino turístico. 

 

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