00:00
21° | Nublado

Setembro Amarelo: a vida com mais atenção e carinho

O suicídio está no mundo e, como humanos, precisamos conhecer os indícios de seu movimento e de sua eclosão (Foto: Reprodução)

Publicado em 29/09/2020

Para além de uma questão de saúde pública, é preciso conhecer a natureza de sua existência e aprofundar as relações de sua manifestação, pois pode atingir todas as pessoas em seu processo de viver.

Como consequência, não alcança apenas um núcleo familiar e nunca se restringe somente aos laços familiares e proximidades, mas atinge toda a humanidade, pois é uma dor que faz ressonância no campo da vida onde todos os sistemas estão incluídos.

Dentre os diversos motivos da ação intencional do suicídio, algumas vezes perceptíveis e outras não, estão as mobilizações internas e externas da pessoa, decorrentes de possíveis distúrbios psíquico emocionais, de condições de pobreza, de desagregação social, bem como outros componentes relacionais da vida humana e que resultam em exclusões de diferentes dimensões.

Independente das características de ordem e de fatores socioculturais e econômicos que se concluem em mobilizações para o suicídio, o Setembro Amarelo é um anúncio de cuidado e de prevenção.

Neste texto, não se tem o objetivo de conjecturar as diferentes situações de estigma, delinquência, desespero, desamor, covardia, coragem e tantas outras nominações na ação do suicídio, mas se objetiva enunciar e assim contribuir nas discussões de um tema profundamente sensível nas formas de abreviar a vida.

O suicídio é sempre incompreendido pela família, por amigos e pelo conjunto das relações. No entanto, é plenamente aceito pelo suicida como a sua única percepção e possibilidade diante de sua incompletude, seus conflitos e suas dores. É nessa aceitação que cabe a intervenção e as ações de prevenção.

Quem se lança ao suicídio, geralmente se percebe como uma vítima incompreendida e, nesse lugar muitas vezes incompreensível aos outros, mas confortável à ação intencional, encontra todos os mecanismos de engendrar essa ação. Na decisão de renunciar à vida, em um complexo abandono de si, coexistem inumeráveis situações, pois que cada um de nós é único.

Contudo, a decisão de finitude pelo suicídio pode ser percebida e identificada nos núcleos familiares e nos núcleos de proximidades, quando uma percepção de sensibilidade se coloca em movimento de acolhimento da incompreensão do outro diante de seus desafios e da sua inconclusão.

O acolhimento das dificuldades do outro não nos permite nos colocarmos e estarmos em seu lugar, mas nos impõe um olhar e um agir com amor diante de suas das dores físicas ou psíquicas.

Quem intenciona o suicídio não deseja, de fato acabar com a vida, mas sim com a dor, tão insuportável para si. Assim, perguntar onde dói? O que posso fazer para ajudar? São um caminho para estabelecer ajuda no enfrentamento da dor. Esta é uma atitude de amor. O Amor como desprendimento e como ação é então uma possibilidade que temos de impedir o abandono da vida na decisão alheia.

Não existe um condão magistral que arroga um poder de cessar uma decisão pessoal, mas existe uma sensibilidade única e humana, que já produziu muitos saberes e conhecimentos, e que nos permite formas de cuidados para intervir nas possibilidades de renúncia da vida.

O pensamento sistêmico, a constelação familiar, a psicogenealogia, assim como diferentes fundamentos teórico-práticos e técnico-científicos, são conhecimentos sistematizados capazes de perceber e identificar a drástica decisão de desesperança e desamor. Estes conhecimentos se colocam como formas mediadoras de aprofundar a ajuda. Toda forma de tristeza exige uma intervenção humana e quando estamos atentos a essa tristeza alheia que nos avizinha temos de agir nas possibilidades de promover a ajuda.

Pela compreensão sistêmica é possível depreendermos que o entregar-se ao amor cego e infantil decorre da decisão de amar de forma incondicional os destinos e as lealdades ocultas, e nisso não cabe nenhum julgamento, mas cabe, sim, o acolhimento generoso como possibilidade de mostrar destinos. Ao segurar a mão do outro não impedimos suas decisões, mas empenhamos todas as forças da vida nas formas de um outro pensar.

O suicídio existe. Ele é inevitável? Às vezes sim, às vezes não.

Qual é o desafio que a atitude do suicídio deixa ao legado do sistema familiar e, por conseguinte, para a humanidade?

Muitas vezes estamos imobilizados e somos incapazes de impedir uma ação intencional, mas não somos incapazes de, humanamente, agir nos movimentos e percepções da manifestação das muitas expressões do abandono e da renúncia da vida.

O Setembro Amarelo é um anúncio, é um alerta, é um fluido de sons que nos convida, nas diferentes formas de ajuda, a exercitar nossa sensibilidade em defesa da vida, a olhar para os lados. Compreender o outro exige um começar. A vida é sempre mais que um tempo.