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Quebrando padrões
Rodas de conversa estimulam um olhar mais sensível sobre a masculinidade

Durante os encontros do Brotherhood, participantes sentem-se à vontade para expor seus sentimentos sem serem julgados pelos colegas (Foto: Divulgação)

Publicado em 27/05/2019

É numa casa no bairro Córrego Grande, em Florianópolis, que um grupo de homens se reúne quinzenalmente para uma roda de conversa. Mas não é uma roda comum como em muitos grupos, regada a cerveja, petiscos e conversa fiada. É um encontro em que todos estão em busca de autoconhecimento e se expor faz parte do processo. Esses encontros fazem parte de um movimento chamado Brotherhood - ou irmandade, em português -, cujo principal objetivo é desconstruir a imagem masculina que perpetua há tanto tempo na sociedade.

“O movimento começou a partir de uma vontade que eu tinha de ter conversas mais significativas e profundas com outros homens”, lembra o escritor Gustavo Tanaka, criador do Brotherhood. "Há muitos anos organizando e participando de eventos de autoconhecimento, eu percebia que as mulheres eram praticamente a totalidade do público presente. De certa forma, isso começou a me incomodar um pouco, pois eu gostaria de ter esse tipo de conversa que as mulheres têm com tanta facilidade, em que falam sobre suas vivências e carências emocionais, com os homens, e não estava encontrando esse espaço”, lembra.

Há cerca de dois anos, Tanaka convidou alguns homens de seu círculo de convívio para iniciar o movimento Brotherhood e, com o auxílio da internet, logo a rede começou a ganhar potência, inicialmente em São Paulo (SP). Nos encontros quinzenais, somente para o público masculino, a atenção é dada a assuntos relacionados aos desafios da masculinidade e a influência nos relacionamentos e no mundo. “Percebo uma necessidade de desconstrução de vários padrões, de uma visão que nós recebemos a vida toda de como o homem precisa se comportar. Isso de certa forma limita bastante o nosso desenvolvimento e prejudica a sociedade, pois cria uma separação do homem com o seu lado feminino, no qual ele é capaz de demonstrar suas emoções, seus sentimentos e a liberdade de ser quem é”, destaca.

Ancorado nesse mesmo ideal, o terapeuta transpessoal e empreendedor social Ricardo Neto, de Florianópolis, sentiu a necessidade de trazer o movimento para a capital catarinense. Nos encontros que duram cerca de três horas, o propósito é oferecer um novo referencial sobre o masculino. “Nós entendemos que a energia masculina tem sido responsável pelo mundo que criamos, um mundo extremamente masculinizado, materialista, sem empatia com a natureza. As relações entre os homens são muito tóxicas, a sexualidade é completamente distorcida, preconceituosa e violenta com as mulheres”, salienta Ricardo, que promove os encontros há seis meses.

Ele lembra que os homens sofrem por não conseguirem lidar com as emoções, pois a maioria nunca recebeu orientação, afetando, assim, os relacionamentos em geral. “Sempre aprendemos que chorar é coisa de mulher. Nós fomos ensinados a competir, desde a escola até a vida adulta, e a mostrar o nosso lado mais duro”, observa.

Liberdade de ser

Durante os encontros, os homens são orientados a se manifestar verdadeiramente e, lá, são cúmplices para rir, chorar, falar e desabafar sobre tudo o que quiserem. “O Brotherhood para mim é um encontro com muita autenticidade, verdade e integridade. São amigos que se conhecem e se reconhecem, em busca de evolução pessoal e de reconhecimento do seu verdadeiro papel na sociedade. Uma vivência em que todos se permitem aprender e ensinar, compartilhar e trocar experiências”, conta o empreendedor social Bruno Becker, participante dos encontros em Florianópolis. Quem compartilha da mesma ideia é Lucas Biguete: “temos um espaço para a evolução como ser humano. Em nossos encontros, eu consigo entender mais sobre as dúvidas e questionamentos que passam pela minha cabeça, entendo que não sou o único passando por isso e aprendo como superar os desafios de ser homem no século XXI”, desabafa o líder de equipe de uma empresa de marketing digital.

A ideia é que o movimento seja difundido em diversas regiões brasileiras e no exterior – recentemente o Brotherhood chegou à capital de Portugal, Lisboa -, e que os encontros aconteçam também em grandes empresas, corporações e órgãos públicos, locais onde existem níveis hierárquicos ocupados principalmente por homens. “Entendemos que a energia masculina desarmonizada hoje em dia é um grande problema no mundo, porém também é um grande portal para a solução. Os mesmos homens que estão ignorantes, detonando o mundo, são os mesmos homens que podem curar o mundo”, finaliza Ricardo Neto.

Interessou? Conheça mais sobre o Movimento Brotherhood: facebook.com/brotherhoodbrasil.
Fale diretamente com Ricardo Neto e faça parte do grupo Brotherhood Floripa: (48) 99999-4495.

Por Gabriela Morateli