Prisioneiro da agonia: o dia que a chuva fez tudo ruir
O personagem da semana, Edmilson Antônio Dias, ficou suspenso em um cratera, e levanta questionamentos sobre segurança e prevenção.
Na tarde do dia 16 de janeiro, enquanto a chuva dava uma trégua em Florianópolis, o psicólogo e professor aposentado da Universidade Federal, Edmilson Antônio Dias, de 74 anos, enfrentou o que ele descreve como "inominável". Morador do Caminho dos Açores há 44 anos, Edmilson viu o chão familiar de sua rua, que ele atravessa diariamente, literalmente desmoronar sob seu carro, transformando um trajeto rotineiro em um pesadelo que poderia ter custado sua vida.
O carro de Edmilson teve perda total, mas além do prejuízo material e ele reflete sobre vulnerabilidade humana.
Após a queda de energia causada pelas fortes chuvas, Edmilson decidiu sair de casa para comprar velas, acreditando que a interrupção no fornecimento de luz poderia se prolongar. Ele mal poderia imaginar que, ao engatar a segunda marcha de seu Citroën C4 Cactus, a rua cederia, levando seu carro a ficar suspenso precariamente sobre uma cratera. "Era a rua da minha casa, nunca imaginei que isso pudesse acontecer. O chão abriu no exato momento em que passei", relembra.
O impacto foi devastador. "O airbag bateu no meu rosto, havia fumaça, barulho de água... Achei que fosse morrer", conta Edmilson, ainda abalado. O susto foi tão grande que, num estado de choque, ele ficou completamente desorientado. "Não sabia o que estava acontecendo. Parecia um pesadelo, algo tão surreal que a única reação foi o terror, o pavor de que aquilo fosse o fim."
Em meio ao caos, os moradores que ouviram o estrondo do asfalto partindo rapidamente foram ajudar. Sem pensar duas vezes, improvisaram um resgate, jogando uma corda. Edmilson, ainda preso à porta do carro, amarrou a corda na cintura e foi puxado por pessoas que, como ele mesmo afirma, se tornaram verdadeiros heróis naquele momento.
"Foi um casal de vizinhos, que eu nem conhecia direito, que ouviu o barulho forte e foi me ajudar. Depois eles me levaram até minha casa e me checaram. Sem eles, eu não sei como teria saído dali."
Psicólogo aposentado descreve momentos de pânico durante o acidente. (Foto: Floripa em Foco)
A perna esquerda, presa na porta, foi machucada enquanto ele era arrastado pela rampa de asfalto quebrado. "Foi horrível. As costelas estão trincadas, fiquei todo arranhado, mas sobrevivi", relata, sua voz ainda marcada pela angústia.
O carro, inicialmente pendurado na beirada da cratera, foi engolido pelas chuvas que se intensificaram nos dias seguintes. A perda material é total, mas Edmilson sabe que o prejuízo emocional é ainda maior. "A sensação de que sua vida pode acabar em segundos é algo que transcende. Não há palavras que deem conta desse horror", desabafa. "Foi como um sufoco, uma angústia que não tem nome. Eu pensava: ou eu me afogo ou morro queimado. O medo de morrer de forma tão repentina, tão inesperada, foi insuportável. Aquele momento foi uma verdadeira tortura."
Morador do Caminho dos Açores desde a época em que a estrada era de chão batido e a SC-401 era praticamente deserta, Edmilson viu o bairro crescer, mas lamenta a negligência das autoridades. "A Ilha da Magia é uma mentira. Não é paraíso, é enganação. A rua onde vivi tanto tempo virou um inferno. O que aconteceu comigo poderia ter sido fatal, mas se fosse um ônibus ali, com 30 ou 40 pessoas, teria sido uma tragédia ", critica, revoltado. "É lamentável, é um total descaso. Em 1995, o mesmo problema aconteceu aqui, mas a solução foi tapar o buraco, jogar uma camada de asfalto em cima e achar que tudo está bem. A administração pública não se preocupa com a segurança dos cidadãos. O que está acontecendo aqui é uma vergonha."
Enquanto tenta se recuperar física e emocionalmente, Edmilson reflete sobre o que poderia ter sido um desastre ainda maior. "Se fosse um ônibus no lugar do meu carro? Quantas vidas teriam sido perdidas? Por acaso, fiz um favor a muitas pessoas, mas não deveria ser assim. Eu não queria passar por isso", diz ele, visivelmente abalado.
O caso de Edmilson é mais do que uma história de sobrevivência; é um alerta para as condições das vias públicas de Florianópolis e um apelo por ações preventivas que coloquem a segurança dos moradores em primeiro lugar. Enquanto a cratera permanece como um símbolo de descaso, a experiência de Edmilson serve como um lembrete de que tragédias podem ser evitadas com responsabilidade e planejamento. "Isso foi um grande erro, uma grande falha das autoridades", conclui, com a voz entrecortada. "E eu sou um exemplo do que pode acontecer quando a negligência toma conta."
Da redação
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