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“Pedro, tu me amas?” por Luzia Almeida

O Senhor esperou Pedro na praia para o ajuste em forma de perguntas…

Publicado em 31/05/2024

        Vivemos encantados com a tecnologia e assim deletamos e salvamos continuamente. Quase tudo é descartável: os romances, os compromissos, as alianças e as garrafas pets. Mas, há algo que aconteceu numa praia distante, algo que o tempo jamais poderá apagar: uma pergunta feita a um homem que estava perdido no labirinto do amor próprio, mas foi despertado pelo canto de um galo.  

         O galo era um código, um outdoor, uma ampulheta: “Darás a vida por mim? [...] jamais cantará o galo antes que me negues três vezes” (Mateus 26.34). Isso era uma advertência: quando os guardas chegaram e prenderam o Senhor, Pedro ficou andando pelas periferias e ao ser confrontado por uma criada negou que conhecia o Cristo: “Não és tu também um dos discípulos deste homem? Não sou, respondeu ele” (João 18.17).

         Não há maior tragédia ou ruína do que a negação ao Nome do Senhor Jesus. Não há desequilíbrio ou loucura pior do que o afastamento deste Nome e a entrega do coração aos ídolos: sejam ídolos bíblicos, como o apóstolo Paulo, sejam ídolos verdes como os dólares ou mesmo ídolos de momentos como a fama. E mesmo havendo tantas religiões, denominações e investimentos religiosos... tentar enganar o Senhor é a pior de todas as idolatrias.

         “Ananias e Safira” tentaram, mas a idolatria deles os arruinou (Ato 5.1-10). O homem rico tentou também: “Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres [...]; então, vem e segue-me. Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades” (Marcos 10.21-22). O que chama a atenção é que ele preferiu seus bens num tempo tão curto enquanto tinha diante de si a própria eternidade que o convidava. Mas não foi assim com Zaqueu: “Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais” (Lucas 19.8). A restituição é uma marca de amor, de arrependimento e de conversão. 

         A mulher samaritana estava preocupada com o lugar de adoração, mas tinha uma vida amorosa ilegal (gostaram do eufemismo?), no encontro com o Senhor aconteceu o ajuste. Ela afirmou: “Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar”. Então, o Senhor fez o ajuste: “... os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade”. A adoração ao Senhor não procede do lugar, mas do coração a partir de uma lealdade, de uma busca: “No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro...” (João 20.1). Amor que vence a solidão e o medo. Amor que afugenta os temores da madrugada. Lá vai Maria Madalena ao túmulo ver o que fizeram com o Corpo de Cristo. Ela, preocupada, nem dormiu. Seu coração batia acelerado e com a cabeça coberta ela caminhava ligeira, na madrugada, até o sepulcro. Estava determinada, estava liberta dos demônios e das tradições dos anciãos. Estava livre para amar o seu Deus, o seu “Raboni”. 

         E, assim, o Senhor esperou Pedro na praia para o ajuste em forma de perguntas (por três vezes): “Pedro, tu me amas?” Ele entendeu que o critério para o ministério era o amor ao Senhor. Pedro ouviu o pronome possessivo “minhas” três vezes: “Apascenta as minhas ovelhas.” As ovelhas não eram dele, mas a ele cabia a tarefa de apascentar (João 21).

         Senhor, sou semelhante a Pedro, por misericórdia, espere-me na praia.

 

Luzia Almeida é professora, escritora, mestra em comunicação.


Sobre o autor

Luzia Almeida

Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação


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