O Sul da Ilha, por Vinicius Lummertz
A região da Ilha de Santa Catarina que guarda a maior originalidade, a olhos vistos, é o Sul. É uma parte de belezas e exuberâncias, costas, florestas, arquitetura histórica relevante dos séculos 18 e 19, a memória das 60 famílias açorianas que chegaram em 1756 ao Ribeirão da Ilha, e o carisma dos pescadores, os manezinhos e suas tradições - mas que se esvanecem. Não à toa que Antoine de Saint-Exupéry, o autor de ‘O Pequeno Príncipe’, tenha escolhido as brilhantes areias do Campeche para fazer os pousos do avião da Aéropostale francesa entre 1921 e 1931 – e acabasse adotado como Zé Perri.
Este mesmo espaço mágico tem sofrido com o crescimento desorganizado – população e estruturas urbanas – e pelo desamparo de um Plano Diretor coerente, que pudesse abraçar o passado, o presente e projetar o futuro sustentável. Hoje, em vez de abrigar suas vocações, o magnífico Sul da Ilha vive sob o espectro de conflitos velados que transbordam na ilegalidade e na instabilidade. Vários itens da discussão de mudanças no Plano Diretor poderão corrigir e alinhar estas vocações que o PD atual potencializa em inação e conflito.
O mais importante item de discussão é promover as centralidades também no Sul da Ilha. É primordial não só proteger a Natureza, mas transformá-la em atrativos. Iniciativas como o projeto de produção de ostras, pelos maricultores da região, deram sobrevida ao ambiente marítimo e perspectiva à vida ligada ao mar, bem como o avanço na gastronomia – hoje conhecida internacionalmente e fundamental para a escolha de Florianópolis como Cidade Unesco da Gastronomia -, melhorou o conceito do viver, morar e trabalhar.
Também a recuperação arquitetônica e urbanística do Ribeirão da Ilha merece enlevo, assim como a da Tapera, em sucessivas gestões municipais. Porém, faltam ainda condições para o desenvolvimento da indústria náutica de marinas para revigorar a cultura marinheira dos herdeiros dos pescadores - do contrário, o que lhes restará é pegar vários ônibus para trabalhar em oportunidades fora de lá.
E também os parques naturais bem estruturados, com ecoturismo e ecoaventura, gerariam bons empregos na região e confirmariam a Florianópolis seu status único de Capital mais verde do planeta. Estas vocações deverão estar abarcadas na revisão do PD, lembrando que natureza e a cultura não cabem ser apenas protegidas, mas sim promovidas.
O Sul da Ilha tem o melhor e mais belo aeroporto do Brasil. Já é um bom motivo para os muitos que aqui chegam se situarem na região, e não apenas disparar para o Centro ou o Norte da ilha. O receptivo hoteleiro de pequenas pousadas e bons serviços cabem num projeto que organize estas oportunidades. O Plano Diretor atual não faz isso. Trata de prédios de apartamentos no Campeche com o mesmo desincentivo que trata a hotelaria. Logo, não há hotéis e ‘residences’ com vista para o mar. Logo, não são gerados os empregos diretos e indiretos possíveis, incluídos os referentes a cultura, artes e artesanato. Prédios geram muito menos empregos do que receptivos hoteleiros, o ano inteiro.
Como aeroportos são hubs, ao PD caberia incentivar o que interessa a região e à cidade. Incentivar polos de tecnologia, pesquisa, educação e saúde também é compatível com a lógica de elevação de renda e oportunidades, afastando o caos do crescimento desordenado. Moradias sociais, perto das fontes de emprego, são evidentes meios de combater a favelização e o ambiente do crime organizado. A revisão do Plano Diretor aparenta trazer à discussão da sociedade não mais apenas o número de pisos de um prédio, mas sim os fluxos e incentivos às vocações das regiões e seus efeitos. Planos diretores modernos pensam em compensações e estímulos ex-ante e não ex-post.
Com o Plano atual teremos somente mais dos mesmos problemas - mas, como todo ser humano que amadurece, também a sociedade que amadurece planeja o seu futuro positivamente, com juízo e fé - e assim o Sul da Ilha, seus habitantes e suas tradições poderão ter muito do que se orgulhar. E a todos os catarinenses nascidos e os que adotaram esta que é uma das mais belas cidades de todo o planeta.
COLOMBO SALLES
Quero agradecer ao publisher do Imagem da Ilha, Hermann Byron, por ter me dado conhecimento da mensagem que recebeu da Sra. Maria José Salles, filha do ex-governador Colombo Salles, com comentários sobre a minha última coluna, ‘A lição do Aterro’. Reconheço que tem razão ao observar que não citei o pai dela como idealizador e realizador do Aterro da Baía Sul. Porém, gostaria de dizer que propositadamente não fiz a citação porque teci várias críticas ao que aconteceu com essa importante obra após o Governo Colombo Salles. Se o citasse, talvez o leitor imaginasse que o estava incluindo como alvo das críticas, o que seria totalmente injusto. A pedido do Byron, enviei à Sra. Maria José vários artigos de minha autoria em que detalho e enalteço a gestão planejada e executora realizada por seu pai. E aproveito cumprimentá-lo pelos 96 anos comemorados na última sexta-feira, 20.
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