Mudança radical: a economia da vida em SC
Quando dois projetos catarinenses desenvolvidos em tempo recorde inferior a 120 dias viabilizam a produção nacional de ventiladores mecânicos pulmonares que já estão saindo das fábricas Delta Life, de São José dos Campos (SP) e GreyLogix, de Mafra; ou então quando a Fundação de Amparo à Pesquisa de SC anuncia que já existem 188 trabalhos de pesquisa e extensão para o combate à pandemia em desenvolvimento no Estado, na verdade estamos falando de parte do desenho do que será no futuro, o “novo normal”.
Aliás, sobre esse tal novo normal vale dizer que, na verdade, ele não existe, porque será construído no dia a dia daqui para frente, como um lego colorido, pelo mundo inteiro. As rápidas e radicais mudanças que agora fazemos são apenas as primeiras adaptações de um novo social, a uma nova economia que de desenhava tecnológica e disruptiva ao qual se agregou o “violento biológico”. O século passado foi o século da ideologia, das guerras, das revoluções, da Guerra Fria, do Muro de Berlim.
Este poderá ser o século da biologia e, portanto, teremos de mudar radicalmente nossos conceitos, planos e metas. Agora temos predadores declarados, após termos atingido a supremacia antropocêntrica. Tudo indica, por exemplo, que a nova condição hospitalar será um pedaço concreto do novo normal.
É preciso mudar também a visão do que é mesmo importante neste novo normal – hoje o planeta investe mais em pesquisa de batata chips do que com câncer. A esta nova visão o economista e escritor Jaques Attali, que foi conselheiro do presidente francês François Mitterrand, chama de “l’economie de la vie”, a economia da vida. Para Attali, novos setores da economia ligados à vida como saúde, gestão de resíduos, distribuição de água, esporte, alimentos, agricultura, educação, energia limpa, digital, habitação, cultura e seguros deverão ter maior peso na economia dos países, saindo de 40 a 50% para 80%.
Só fazendo essa migração do que Attali chama de “economia da sobrevivência”, a atual, para “a economia da vida”, poderemos enfrentar a crise econômica, filosófica, ideológica, social, política e ecológica “surpreendente, quase inimaginável”, que teremos pela frente. De acordo com o economista francês, essa será a maneira de evitar que as crianças de hoje sofram da pandemia aos 10 anos, da ditadura aos 20 e do desastre climático aos 30.
Como diante de todas as grandes crises anteriores, nacionais ou planetárias, desde que exportava carvão para o esforço dos aliados na Segunda Guerra Mundial, inteligência e adaptação têm sido os maiores ativos catarinenses. Tudo indica que serão eles que nos possibilitarão construir nossa própria “economia da vida” e, mais uma vez, transformar cenários desfavoráveis em oportunidades de crescimento.
Por Vinicius Lummertz – Secretário de Turismo de São Paulo