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Jingle Bell, Jingle Bell, acabou o papel!
Grupo NSC põe fim a quatro diários impressos enquanto outros importantes players do mercado editorial, como os jornais Imagem da Ilha, Notícias do Dia e centenas de periódicos do interior anunciam investimentos e reforçam o potencial e a cultura do jorna

Ilustração: Thiago Moratelli

Publicado em 06/11/2019

A morte do tradicional jornal impresso, há anos decretada pelo turbilhão digital que vem sacudindo mercados, profissões e governos nos últimos anos, tem sido um processo mais lento e doloroso do que o previsto. Redações foram sendo enxutas ao limite do suportável, ameaças aqui e ali de fechamento assombrando os profissionais, fusões e reposicionamento de veículos de comunicação aos borbotões, mas efetivamente o tal processo de transformar em online os diários rodados em papel estava custando a acontecer de fato em Santa Catarina. Foi quando, no fim do último mês, ouviu-se como um badalo apocalíptico de Natal o “Jingle Bell” que anunciava de forma definitiva o fim do papel em quatro importantes jornais diários: o Diário Catarinense (há 33 anos em circulação), o Jornal de Santa Catarina (fundado nos anos 70 ), o A Notícia (o mais velho da turma, rodando diariamente há quase um século) e o novato A Hora (com 13 anos de mercado), todos do Grupo NSC, ex-RBS.

O anúncio do fim, precedido de uma boa dose de demissões, chegou para muitos como uma má notícia, para outros como o fim de um ciclo. Mas uma grande parte do mercado jornalístico e editorial em Santa Catarina viu nesse episódio uma forma de valorizar ainda mais a cultura do impresso e de mostrar ao mercado como o tradicional papel com notícia ainda tem força e faz parte da rotina de muita gente. Exemplo clássico é este jornal que você lê neste momento: o Imagem da Ilha. Na estrada desde 1995, o jornal quinzenal impresso chega a mais de 9 mil domicílios só em Florianópolis. Desde os anos 2.000 também está na plataforma digital, hoje com informações em tempo real, além de exibir o conteúdo integral de todas as edições. “Para nós do Imagem da Ilha, o jornal impresso atinge a uma faixa de público que cresceu consumindo informação neste formato, e com ele se sente mais confortável. Mesmo estarmos em todas as plataformas, constantemente escuto de nossos leitores que mesmo recebendo o online, preferem o impresso", conta Hermann Byron, fundador e proprietário do Jornal Imagem da Ilha.

Na mesma pegada de valorização do formato impresso, duas das principais associações que congregam mais de uma centena de veículos diários que circulam no interior de Santa Catarina, a ADI (Associação dos Diários do Interior SC) e a Adjori (Associação dos Jornais do Interior de SC) são enfáticas ao enaltecer o jornal como importante e insubstituível veículo de comunicação diária e propulsor das notícias regionais. O mesmo ocorre com o jornal Notícias do Dia, do Grupo RIC, que logo após o anúncio do fim dos jornais impressos do Grupo NSC, investiu numa ampla campanha de marketing e contratou novos profissionais para dar qualidade maior ao conteúdo oferecido.

Ou seja, a maior parte dos veículos de comunicação em Santa Catarina está correndo em direção totalmente oposta à NSC. Todos, sem exceção, também estão investindo nas plataformas online, mas por ora não pensam em interromper a rodagem impressa.

Na contramão do pensamento de que a decisão do Grupo NSC passe pela análise e prognóstico do novo mercado digital de comunicação, há muita gente do meio – jornalistas “das antigas” e especialistas de mercado - que acredita que o motivo do fim dos impressos da NSC é outro. A aposta é de que a política de desvalorização dos veículos impressos começou muito antes pelo grupo proprietário, logo depois de adquirir os ativos catarinenses da RBS. E que transformá-los em online foi apenas uma sucessão dos fatos. Isto porque a NSC, gerida por família do segmento de laboratórios de medicamentos, não tem o negócio da comunicação no seu DNA e nunca lhe agradou manter a operação da TV (afiliada da Rede Globo) sustentando a operação historicamente deficitária dos jornais. Ou seja, para este grupo de especialistas, a decisão do fim não foi motivada pela revolução digital, mas por uma questão meramente de gestão visando maior lucratividade ou, em uma perspectiva menos otimista, para evitar mais prejuízos.

Só digo que, se estes observadores estiverem corretos em sua análise, também podemos afirmar que não chegou ainda a derradeira hora do tradicional jornal impresso. Ele resiste e é valorizado nos mercados onde recebe investimentos para manter sua qualidade jornalística. E caso essa morte venha a acontecer, realmente provocada pela hecatombe digital, vai sofrer de uma doença terminal ainda mais longa e dolorosa. Enquanto isso, só sei que é impossível estar alheio à avalanche de notícias diárias que recebemos pelo smartphone, mas que também aprecio e quero continuar tomando meu café preto todas as manhãs temperado com uma boa dose de jornais impressos.

Frase de destaque:

“O jornal – o mais legítimo e duradouro veículo impresso depois do livro – condicionou o ser humano contemporâneo a um processo de saber”, Alberto Dines, decano da imprensa brasileira, falecido em 2018 aos 86 anos