Irene Hahn: Mudar para transformar
Empresária 'dribla' adversidades, empreende e se torna consultora
Assim como na vida pessoal, também nas atividades corporativas resistimos à mudança, desde adaptações no dia a dia até períodos de transição ou que levam a novo patamar. Aceitar o novo exige resiliência, comunicação que alinhe as pessoas, equilíbrio entre as necessidades individuais e os objetivos dos times, redefinição de papéis e de espaços e, acima de tudo, capacidade de adaptação a novas circunstâncias. Sem esse espírito inovador, ficamos no mesmo lugar, pessoas e empresas, enquanto o restante avança.
Nasci em Corupá, no interior de Santa Catarina. Por força das circunstâncias, aprendi desde cedo a ter coragem para realizar e ir além dos limites. Meus pais – pessoas simples e de fé – me ensinaram a reforçar a renda familiar vendendo leite, ovos, lenha, quando eu ainda era criança, e isso deve ter impactado os seis filhos, a ponto de todos terem se tornado empreendedores. Ainda agora, já em idade avançada, meus pais nos deram outra lição ao concordarem em deixar a casa onde viveram cerca de 50 anos, incomodados com uma fábrica surgida na vizinhança. Os dois precisaram vencer temores iniciais, enfrentar novos arranjos, incluindo a revisão do espaço onde retomariam o plantio de árvores frutíferas e de roseiras. Cada um enfrentou sua própria jornada de desafios e nós, os filhos empreendedores, estamos todos agradecidos por mais esse aprendizado que nos proporcionaram.
Eu própria perdi a conta de quantas vezes mudei de casa e acredito ter influenciado meus filhos – ambos empreendedores – nesse desapego ao que não serve mais. Pois, se algo já não traz mais resultados como antes, o que me resta dizer? Dizer que não quero. Sugerir que alguém mude de casa. Que mude de atividade. Que mude a si mesmo e a própria empresa. Mas mude para melhor, entendendo o processo como algo que traz dor, mas depois passa, legando a transformação. E, quando passa, nos deixa mais conectados com o novo, com a transformação, com a capacidade de nos superarmos.
No meio corporativo, mudar ameaça a rotina estabelecida. Por isso, as empresas precisam estar sempre atentas aos sinais de alteração em volta e à necessidade de rever estratégias à medida que os cenários se alteram. Transformação exige revisão de processos, de metas e prioridades, realocação de recursos, muita flexibilidade por parte das pessoas.
Sempre escolhi caminhos para exercer o que mais me encanta: transformar a vida das pessoas para melhor. Aos 18 anos, entrei na WEG, em Jaraguá do Sul (SC). Tive uma experiência na Secretaria Municipal de Saúde de Joinville até passar por uma longa trajetória na Unimed, assumindo posições de liderança em Santa Catarina, no Paraná e no Espírito Santo. Em 2009, decidi empregar meu aprendizado e expertises em um negócio próprio. Assim nasceu a Qualirede (e posteriormente a AsQ), tecnologia que permite interação ágil e segura entre os planos de saúde e as empresas prestadoras de serviço, hospitais, clínicas e laboratórios. Fiquei vinculada por uma década à Qualirede, que hoje gerencia mais de 760 mil vidas.
E, aí, chegamos à palavra-chave para resumir a importância de quem planta árvores e roseiras, do colaborador e suas atribuições na empresa: pessoas, todas alinhadas para garantir o sucesso da mudança, num ambiente inclusivo, que respeite individualidades e diferenças, em que se percebam valorizadas e acolhidas. Desde que passei a me sentir empreendedora, quando comecei a comercializar nossa produção caseira, nunca mais desisti da ideia de ser líder, de contribuir com o que eu posso, de fazer a diferença, de deixar minha marca por onde passo, de mostrar que sempre é possível melhorar ainda mais as entregas. E isso só se realiza com pessoas, desde que abertas à mudança, ao novo, ao fazer diferente, dispostas a ousar, na sua vida pessoal e nas empresas.
Texto por Cláudio Thomas
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