Guardião da natureza
Paulo Lindner se rendeu aos encantos das artes plásticas após experiência de anos como guia da floresta
Uma história inusitada contada por ele mesmo em tom de nostalgia. Quem vê Paulo Trajes Lindner, 60, hoje, não imagina o que ele fazia há algumas décadas. Na Serra Dona Francisca, ele avistava ladrões de palmitos e caçadores de animais. Porém, esse flagra não passava batido. Ele era um informante da Polícia Militar juntamente com o amigo Valdir. “Íamos para o mato e quando tinha sinal que eram mais de quatro caçadores ou ladrões, voltávamos, descíamos a serra, ligávamos para a PM e voltávamos para prender os caras”, conta.
Paulo destaca que o amor pela fauna e pela flora fazia os riscos que corriam valerem a pena. “Em 1980, por exemplo, não escutávamos um pio de passarinho. Hoje, toda a fauna voltou a habitar a região: pássaros, antas, porco do mato, veado. Tenho depoimentos de moradores que dizem que, graças ao meu trabalho e do Valdir, isso voltou a acontecer”.
Essa missão começou na década de 1970, quando ele tinha 18 anos, e foi finalizada em 2005, por conta do pedido de sua esposa, Ana, que não aprovava o que o marido fazia.
Também por influência de Ana, em 2013 ele lançou uma grife de camisetas com o objetivo de chamar a atenção das pessoas para a importância das florestas. “Eu virava a noite desenhando. Um dia vim pra Floripa e mostrei os desenhos para uma amiga que me incentivou a pintar”, conta.
Então ele voltou para Joinville (SC), onde mora, e comprou telas, tintas e pincéis e pensou: “vou viver disso aqui”. Na época, Paulo tinha uma empresa de construção civil com 18 funcionários contratados. Com a decisão tomada, ele fechou a empresa, pagou os funcionários e foi atrás do novo objetivo de vida. “A partir daí eu passei a viver exclusivamente da minha arte”. As telas utilizadas por Paulo Lindner são de lonas de algodão, uma forma sustentável de reutilizá-las, já que ganha de caminhoneiros.
Paulo Lindner escreve a "Oração da Mata" em um painel gicante que foi destaque no evento Rio+20
A preservação das florestas sempre foi seu foco principal e tema de muitas reflexões. “Esse modelo de crescimento desordenado das cidades... sem florestas vai se perdendo a qualidade de vida”, salienta.
Cacos da Mata
Seu projeto, intitulado “Cacos da Mata”, é o resultado da indignação de Paulo Lindner com a degradação que foi acontecendo ao longo dos anos e com a intenção de chamar a atenção para a importância da preservação da natureza.
Toda a arte de Paulo é baseada no conceito de preservação. Ele conta que o grande responsável pelo encanto que tem pela natureza é seu pai, que é madeireiro e preserva 12 mil hectares de florestas na Serra da Dona Francisca desde a década de 1960. “Ele queria que eu fosse madeireiro e eu não. Mas ele me ensinou esse amor, ele abraçava e beijava árvores. Na época eu achava que ele era maluco, mas hoje eu faço isso”, ri.
A primeira unidade de conservação do Brasil, homologada em 1979, na Dona Francisca, foi oriunda dos cuidados de seu pai, quando o então Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal reconheceu suas florestas como refúgios particulares de animais nativos.
Alunos de escola municipal de Joinville fizeram uma releitura dos tbalhos do artista para decorar a escola (Foto: Acervo pessoal)
Educação ambiental
O artista plástico define “Cacos da Mata” como um projeto de arte-educação ambiental direcionado principalmente para escolas e empresas com o objetivo de difundir o conhecimento sobre a importância da natureza e o papel das pessoas diante dela.
Em 2012, Paulo participou do evento Rio + 20, quando o seu projeto ganhou a participação de estudantes de uma escola municipal de Joinville. Durante seis semanas, os 1,3 mil alunos da Escola Ada Sant'anna da Silveira tiveram contato com as obras do artista e fizeram uma releitura desses trabalhos para decorar a escola.
Da parceria com o comitê catarinense para a Rio+20, da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), surgiu a proposta de fazer o painel gigante de lona de caminhão pintado por algumas dessas crianças. O painel, uma lona de caminhão em algodão com 96 m², foi coberto por 24 desenhos coloridos e uma "oração da mata", e estendido no Aterro do Flamengo. A intenção foi provocar uma reflexão das pessoas sobre a importância das florestas para a qualidade de vida das presentes e futuras gerações.
Ao final do evento, Paulo trouxe a lona de volta para Joiville, onde ficou exposta por alguns meses no Centreventos Cau Hansen e depois direcionada para a Escola Ada Sant'anna da Silveira.
Por Gabriela Morateli dos Santos
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