Esteban Campanela une Uruguai e a Ilha da Magia
A trajetória do tradutor e produtor cultural uruguaio que transformou Florianópolis em palco para a cultura de seu país
Em 2003, Esteban Campanela, um jovem uruguaio com um profundo carinho por sua terra natal, tomou uma decisão que mudaria sua vida e a de muitos ao seu redor. Motivado pelo afeto por sua companheira, Milena, uma atriz e produtora cultural brasileira, ele deixou Montevidéu e desembarcou em Florianópolis. A Ilha da Magia não só se tornaria seu novo lar, mas também o palco onde ele criaria uma conexão inabalável entre o Brasil e o Uruguai, transformando suas paixões por tradução e cultura em uma ponte cultural entre os dois países.
Foi aqui, na capital catarinense, que Esteban encontrou sua verdadeira vocação. Embora sua formação acadêmica tenha começado no Uruguai, foi em Florianópolis que ele aprofundou seus estudos em Literatura e Tradução, especializando-se na tradução de textos teatrais e consolidando uma carreira que uniria duas culturas. O ponto de virada aconteceu em 2005, quando ele comprou um livro de peças teatrais em Montevidéu, incluindo Mi Muñequita, do renomado dramaturgo Gabriel Calderón. Durante o voo de volta ao Brasil, Esteban sentiu uma necessidade irresistível de traduzir a obra. Mal sabia ele que aquela decisão marcaria o início de uma trajetória que ganharia destaque no teatro e no cinema tanto no Brasil quanto no Uruguai.
A peça foi traduzida e encenada com grande sucesso no Brasil, e seu impacto foi tão profundo que até hoje é lembrada como um marco no teatro de Florianópolis. O texto não só viajou por todo o Brasil, mas também foi apresentado em festivais no Uruguai, alcançando um público internacional. Foi o primeiro passo para Esteban, que se tornaria não apenas tradutor, mas um verdadeiro embaixador da cultura uruguaia na Ilha da Magia.
Em 2017, Esteban, junto com outros artistas uruguaios e brasileiros, deu início a um projeto ambicioso: a Mostra de Cinema Uruguaio. O objetivo inicial era simples, mas significativo — reunir a comunidade uruguaia em Florianópolis e promover a cultura do país. No entanto, o evento rapidamente cresceu, conquistando não só a comunidade uruguaia, mas também brasileiros, argentinos, colombianos e muitos outros que passaram a frequentar as sessões e debates após as exibições. "No começo, queríamos apenas manter um vínculo com o Uruguai", diz Esteban. "Mas a mostra cresceu tanto que hoje temos um público diverso e cada vez mais engajado, não só pela qualidade dos filmes, mas também pelos debates que surgem após as sessões."
A Mostra de Cinema Uruguaio, que começou de forma modesta, hoje é um evento grandioso e esperado por muitos, trazendo à tona um cinema que, muitas vezes, não entra no circuito comercial. O critério de Esteban para a curadoria é variado e busca explorar diferentes facetas da cultura uruguaia, desde comédias até documentários e filmes policiais, como o aguardado Carmen Vidal Mujer Detective deste ano. Esteban faz questão de destacar que a intenção é sempre divulgar a autenticidade das histórias uruguaias, reconhecíveis até para os brasileiros que, em suas primeiras viagens ao exterior, costumam visitar o Uruguai.
Com o passar dos anos, a Mostra se expandiu ainda mais. Em 2024, o evento trouxe novidades, como a inclusão de curtas catarinenses e o MuyCONECTA, uma iniciativa para promover o intercâmbio entre cineastas e produtores do Uruguai e de Santa Catarina, fomentando parcerias e diálogos culturais entre os dois países. Esteban vê nesse tipo de troca uma oportunidade valiosa de fortalecer as relações culturais e abrir caminho para novas produções cinematográficas que, quem sabe, possam surgir desse encontro.
Mas não é só no cinema que Esteban deixa sua marca. Em 2020, ele foi agraciado com o Prêmio Aldir Blanc SC, um reconhecimento por sua trajetória cultural. Para ele, esse prêmio representa uma motivação extra para continuar promovendo a interculturalidade entre Brasil e Uruguai. "É uma carícia para a nossa alma", diz ele com humildade e gratidão.
Enquanto Esteban continua a planejar a próxima edição da Mostra de Cinema Uruguaio, ele já pensa em novos projetos para 2025, como uma exposição de artistas plásticos uruguaios em Florianópolis e eventos culturais em celebração aos 200 anos da independência do Uruguai. Sua visão é clara: manter vivo o elo entre os dois países e continuar promovendo o diálogo cultural.
A história de Esteban Campanela é uma narrativa de paixão, perseverança e um desejo inabalável de unir culturas. Seja na tradução de uma peça teatral ou na organização de uma mostra de cinema, ele constroi pontes que conectam as pessoas, enriquecendo tanto brasileiros quanto uruguaios. E enquanto suas iniciativas continuam a crescer, ele prova, ano após ano, que a cultura é o meio mais poderoso de compartilhar histórias e fortalecer laços.
Sobre a Mostra de Cinema Uruguaio
A Mostra de Cinema Uruguaio chega à sua sexta edição, que começa hoje e vai até o dia 5 de outubro, na Sala de Cinema Gilberto Gerlach, localizada no Centro Integrado de Cultura (CIC), em Florianópolis. Com uma programação gratuita, o evento deste ano apresenta cinco longas uruguaios e cinco curtas catarinenses, além de novidades como a MuySC e a MuyCONECTA, que promove momentos de networking entre cineastas e produtores dos dois países. O encerramento, no dia 5, contará com o MuySHOW, um espetáculo musical que inclui a participação de artistas uruguaios e brasileiros, reforçando ainda mais o elo entre as duas culturas.
Programação completa, classificação indicativa e medidas de acessibilidade podem ser conferidas no site.
Da redação
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