Elias Andrade e a arte como forma de reinvenção
Como um simples almoço virou uma paixão que transformou sua vida
Índio, com é conhecido o artista plástico Elias Andrade, é autodidata. Nativo de uma roça na Barra do Sambaqui, mais precisamente, do outro lado da rua da Praia da Geralda, ele cresceu em meio a uma Florianópolis pacata. Em frente a casa onde nasceu, as bananeiras existem até hoje, a família na época tinha uma roça de milho e farinha. Quando menino, Índio pegava os cachos de banana que cresciam na propriedade, os colocava em uma pequena canoa e remava rio acima para a venda das mesmas. O rio era um afluente do Rio Ratones. Em seguida, ele levava o dinheiro de volta para ajudar a mãe. No tempo livre, na praia, Índio fazia desenhos em folhas de papel da escola.
Precisando ajudar mais a família, e sempre um bom conversador, ele buscou um padrinho político para que lhe conseguisse um emprego em uma empresa de turismo do estado. Segundo Elias, “lá tinha um departamento de arquitetura, eu era o único daqui que trabalhava naquele local, levava marmita para comer o almoço na empresa. Em alguns momentos, mexendo com as tintas e pinceis, comecei a pintar. Os arquitetos viram que eu levava jeito com a coisa e começaram me ajudar, indicando clientes. Quando saíam no intervalo do meio-dia às 13h da tarde, eu ficava pintando. Os materiais de pintura eram os melhores, era o Estado na época das vacas gordas, então não tinha muito controle de gastos. A tinta era francesa, os pinceis pingo de Malta, papel era Fabrian, papel espanhol... Era tudo do melhor que tinha. Eu ficava pintando na hora do almoço e depois saia para vender, na repartição. Uma boa parte vendia para diretores, eles tinham hoteis em Camboriú, levavam os quadrinhos para lá”.
Pinturas que revelam a conexão entre o artista e a terra onde nasceu. (foto:Imagem da Ilha)
E Elias continua: “esse começo foi bom, mas com isso fiquei meio relapso com o serviço. Como eu era contratado e não concursado, fui demitido. Me colocaram na rua! Senti que tinha feito uma burrada, já que eu precisava muito daquele dinheiro. Eu ajudava a minha mãe e estudava em casa também. Me deu um sustão. Ah, aí eu peguei a rescisão trabalhista e pensei... Então o que eu sei fazer mais ou menos, é pintar e fazer cachecol. Ganhei um tear manual para fazer cachecol. Aí fui lá, comprei uma parte do dinheiro em material para o tear e outra parte em material de pintura. O inverno começou e eu já tinha uma profissão: fazer 30 cachecois por dia, que entregava nas boutiques do Centro, vendia na Assembleia, Universidade, repartição pública etc... Quando acabava o inverno, eu “aposentava” o cachecol”.
Depois do inverno, o que Elias mais gostava era voltar para sua pintura. Mas era corrido igual. Produzia, colocava os quadros enrolados em um canudo de PVC e saía para mostrar sua arte. A partir de algum conhecido, pegava a indicação de um médico ou advogado, e lá ia ele com o quadro de baixo do braço e o papelzinho da indicação na outra mão. Assim, Elias foi sendo conhecido pela sua arte, de um consultório a outro, sempre com uma nova indicação, e a alegria de seus quadros sempre contagiando a quem os comprava. E ele conta: “Eu saia com uns quatro quadros de baixo do braço, e não podia ser grande, porque ia de ônibus, eu não tinha carro. Foi assim por uns 25 anos. Graças a essas indicações que fui conseguindo me manter, fui crescendo e fui sendo mais conhecido. Hoje tenho quadros espalhados pelos 7 cantos da Capital, pelo Brasil e até no Exterior”.
Cada quadro de Elias Andrade é uma janela para as paisagens e tradições que moldaram sua história, da infância na Barra do Sambaqui até sua arte. foto:Imagem da Ilha)
Em suas pinturas, Elias resgata memórias da sua juventude, trazendo para a tela as cores vibrantes da Ilha e do tradicional chitão, tecido muito utilizado pelas pessoas nativas do Sambaqui. As roupas, típicas e alegres, refletem a essência das paisagens locais e o espírito colorido da cultura da região.
Elias, ao lado da miniatura da casa onde nasceu, e que hoje abriga a galeria de arte onde estão algumas de suas obras. (foto:Imagem da Ilha)
A Galeria
Restaurada pelo arq. Roberto Rita, a casa de Elias Andrade, no Sambaqui, se tornou um espaço onde arte e memória se encontram. (Foto: Susane)
Susane - O lado operacional do Elias
Elias ainda mora no Sambaqui, ao lado da casa onde nasceu, que recentemente foi restaurada com projeto do arquiteto Roberto Rita, para abrigar uma galeria onde estão vários dos seus quadros, e um antigo forno a lenha onde ainda se produz rosca de polvilho, trazendo de volta um sabor da infância bucólica do local.
Ao lado da esposa Susane, Elias Andrade equilibra criação artística e a administração prática da arte. (foto:Imagem da Ilha)
É também nesse espaço que Susane Krischnegg, sua companheira há décadas, desempenha um papel essencial. Enquanto Elias cria e dá vida às suas obras, é Susane quem organiza toda a parte burocrática e operacional das vendas. Natural de Itajaí e formada em Psicologia pela UFSC, com especialização em Criatividade, ela traz não só o olhar estratégico, mas também uma conexão profunda com o processo criativo.
O casal se conheceu em 1985, em um baile no Sambaqui, pouco depois de Susane ter escolhido o bairro como moradia. Encantada pela inteligência e carisma de Elias, ela rapidamente se tornou não apenas sua parceira na vida, mas também um pilar de apoio para que ele pudesse se dedicar integralmente à arte. "A propaganda dele era boa, e meus amigos ajudaram a reforçá-la", brinca Susane. Desde então, a dupla construiu uma trajetória marcada pelo equilíbrio entre a sensibilidade artística e a organização prática, tornando o sonho de viver da arte uma realidade.
A galeria pessoal do artista reúne obras que contam sua história, enquanto o forno a lenha revive tradições familiares. (foto:Imagem da Ilha)
Conheça as obras de Elias Andrade e mergulhe nas cores da Ilha! Acesse o Instagram.
Da redação
Por Hermann Byron e Carolina Beux
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