Silvia Lenzi: De olho na transformação da cidade
Com anos de prática na gestão pública, Silvia Ribeiro Lenzi discorre seu olhar sobre as políticas públicas na arquitetura de Florianópolis
Desde a sua chegada à capital catarinense, no final da década de 1970, a arquiteta sempre esteve envolvida em ações que pudessem contribuir com o desenvolvimento sustentável da cidade
Publicado em 31/01/2022
PERSONAGEM DA SEMANA
Sempre atenta aos projetos que envolvem a área da arquitetura relacionada às políticas públicas de Florianópolis, Silvia Ribeiro Lenzi tem um vasto histórico na área. Ela iniciou os estudos de arquitetura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, em 1972. Naquela época, começou a acompanhar de perto a execução de obras civis. Natural de Lages, logo ela retornou à sua cidade natal para trabalhar como voluntária em um projeto de habitação popular na administração municipal, ainda na década de 1970.
A convite do então prefeito Esperidião Amim, em 1978 mudou-se para Florianópolis para fazer um trabalho similar de habitação chamado Projeto Sapé, um conjunto de casas populares feitas em regime de mutirão através de campanha para arrecadação de materiais de construção.
Logo foi contratada para trabalhar no Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF). Ao longo de sua trajetória de mais de duas décadas no órgão municipal, Silvia conta que participou de inúmeros planos e projetos e ocupou cargos técnicos e de direção, tendo assumido a presidência do instituto durante dois anos. “Trabalhar no IPUF é trabalhar com politicas públicas, assunto que sempre me atraiu”, conta.
No início da década de 1990, a arquiteta participou da coordenação da 1ª Oficina de Desenho Urbano de Florianópolis, evento realizado pelo IPUF e o Departamento de Arquitetura da UFSC, com o chamamento de arquitetos oriundos de outros órgãos públicos, da academia e de escritórios privados, para desenharem propostas, em escala humana para todo o território da cidade. O trabalho resultou num livro que serviu de referência para muitos trabalhos posteriores. “É possível afirmar que foi uma pequena demonstração de uma boa forma de se fazer política pública: discutida por muitos, acordada por um coletivo e implementada pelo poder público”, destaca.
Desde a sua chegada à capital catarinense, Silvia Ribeiro Lenzi também participou ativamente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), tendo assumido a presidência por duas vezes. Trabalhou também em outras secretarias municipais e na então recém-criada Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente – SEDUMA, quando coordenou o grupo técnico que contribuiu com a elaboração de propostas para os capítulos de Política Urbana e do Meio Ambiente para a Constituição Estadual de 1989. Na área do urbanismo, realizou trabalho de consultoria em outros municípios, incluindo a participação na equipe técnica de planejamento urbano da Cidade Pedra Branca, em Palhoça.
Ela fez parte do grupo inicial do Movimento Traços Urbanos, formado por arquitetos dispostos a encontrar formas de contribuir com a requalificação e o melhor uso de espaços públicos em Florianópolis. Inicialmente com 17 profissionais voluntários, hoje o grupo tem em torno de 200 pessoas. Atualmente, Silvia participa da curadoria do Movimento.
Silvia participa de uma atividade do Movimento Traços Urbanos (Foto: Luiza Felippo)
A arquiteta ressalta que, com exceção de algumas mobilizações que está mais envolvida, não tem acompanhado diretamente as ações da Prefeitura de Florianópolis, mas afirma que o Ipuf avançou bastante em relação à politica de acessibilidade, com a criação da Rede de Espaços Públicos e a implantação de várias praças, destacando-se o Jardim Botânico no Itacorubi, a remodelação da Praça da Alfândega, a implantação da Parque Linear do Córrego Grande e a implantação de quadras de esportes na Avenida Beira-Mar. “Ainda com relação aos espaços públicos, é exemplar a parceria da Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram) com os Amigos do Parque da Luz nos cuidados e manutenção daquela área”, destaca.
Porém, destaca questões que considera relevantes, mas que, segundo ela estão em débito por parte da Prefeitura de Florianópolis: “Questões que vem gerando bastante polêmica, como a intenção de retirada dos paralelepípedos do Centro Histórico, sem ouvir o posicionamento dos órgãos responsáveis pela preservação do Patrimônio Histórico nas três esferas do governo, e também a implantação de uma pista de skate no lugar de um gramado, no Parque de Coqueiros, alterando as características e usos já consagrados de caráter público desse lugar, são ações complexas e delicadas que exigem diálogo, escuta e respeito à história e valores desses lugares por parte do poder público”, diz.
A revisão do Plano Diretor da cidade
Um dos assuntos que estão em destaque em Florianópolis neste início de ano é a revisão do Plano Diretor da cidade. Com reuniões gerais e distritais canceladas, não se sabe até agora quando serão retomadas.
De acordo com a arquiteta Silvia Lenzi, “o Plano Diretor poderá contribuir para mudanças positivas na cidade se for o resultado de um pacto social gerado a partir de estudos técnicos bem fundamentados, disponibilização de informações sobre o município e oficinas distritais com metodologias participativas que levantem as necessidades e desejos locais”, afirma.
Ainda, segundo ela, o plano precisa ser claro na sua formulação e incorporado nas diretrizes orçamentárias e nos orçamentos anuais do município, através da definição de ações de curto, médio e longo prazo. “É necessária também a formulação de metas e indicadores que possibilitem o seu acompanhamento, ajustes e controle pelos gestores públicos e por toda a sociedade civil”, finaliza.
Da redação
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