Das ruas para a EJA: A transformadora jornada de Paulo na Passarela da Cidadania
Sóbrio e pensando em coisas boas, ele está matriculado na Educação de Jovens, Adultos e Idosos
Em um dia comum, Paulo Vitor da Costa Gomes chegou à emergência do Hospital Celso Ramos com um dedo quebrado, consequência de uma briga de rua. Após ser tratado, ele foi liberado e encontrou descanso em um banco da Praça Dom Pedro I. Acordando várias vezes durante a noite, ele sabia que o novo dia traria uma escolha crucial: retornar ao morro em busca de drogas ou tentar a passarela da cidadania.
Paulo, aos 34 anos, escolheu a passarela. Nesse espaço, no sambódromo do Aterro da Baía Sul, ele encontrou não só abrigo, banho e alimento, mas também uma nova direção para sua vida. A biblioteca local, com o inspirador banner "Ler para transformar o mundo. A informação liberta", tornou-se seu refúgio. Paulo trocou o prazer do consumo de drogas pelo prazer da leitura. “Eu comecei a trabalhar na minha própria redução de danos lendo livros”, revela ele, com orgulho.
Foi lá que ele descobriu o EJA Pop Rua, um polo da Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJA), resultado de uma parceria entre diversas entidades municipais e sociais. Matriculou-se, reavivando a chama dos tempos em que participava do ProJovem, um programa nacional para jovens entre 18 e 29 anos. “Aquilo ressuscitou aquele rapaz do ProJovem. E eu fui e entrei de cabeça na EJA”.
Hoje, Paulo é um dos 23 alunos do EJA Pop Rua, com aulas de segunda a quinta-feira, das 18h às 21h, horários ajustados às necessidades dos estudantes. “Quando entro em sala, meu propósito é aprender. Assim, eu fico afastado da bebida e de outras drogas”, ele compartilha, consciente de que esses vícios só tirariam o pouco que ele tem.
Como membro do Conselho Estudantil da EJA, Paulo se dedica a ampliar o diálogo e as proposições da política educacional. Paralelamente, ele busca um emprego e, em breve, com nova identidade (RG), estará pronto para novos desafios. Seu currículo é variado: já foi padeiro, vendedor de planos funerários, vendedor de coxinha, instalador de piscina, garçom e até locutor de rádio.
Chegando ao abrigo em fevereiro, debilitado, ele criou um programa radiofônico imaginário chamado “Jornal da Passarela”. Nele, apresentava um noticiário ao vivo com utilidade pública, brincadeiras e fofocas. “Era uma forma de manter minha mente ocupada e afastada dos vícios”, explica Paulo.
A escolha de Alice
Paulo tem uma filha, Alice Vitória, nascida em novembro de 2019. Embora não saiba onde ela está atualmente, ele sonha em reencontrá-la e abraçá-la infinitamente. Paulo acredita que, assim como ele escolheu entre a cidadania e o vício, sua filha também terá suas escolhas no futuro. Ele quer ser um exemplo positivo para ela, lutando diariamente para se manter focado e limpo. “Quando minha filha tiver uns 15 anos, ela sentirá vergonha ou orgulho de mim”, reflete, determinado a ser a fonte de orgulho para Alice.
A EJA em Florianópolis
A EJA, destinada a pessoas a partir dos 15 anos, tem 1.100 estudantes distribuídos em 22 localidades pela Ilha e Continente. As matrículas estão abertas durante todo o ano, e os interessados podem buscar informações em escolas municipais ou pelo telefone (48) 3212-0925. Com princípios pedagógicos próprios, a EJA coloca a pesquisa e os interesses dos estudantes no centro do planejamento pedagógico, promovendo um trabalho docente coletivo e transformador.
À esquerda, em pé, o professor Felipe Ferreira; na direita, também em pé, a professora Gisele Dela Justina. Bem no centro, Paulo Vitor.
A jornada de Paulo é uma história inspiradora de como a educação e o apoio certo podem mudar vidas. Ele continua sua batalha pela felicidade e um futuro melhor, tanto para ele quanto para sua filha.
Da redação
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