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Coluna Raul Sartori - 2ª quinzena outubro/2018

Foto: Reprodução

Publicado em 18/10/2018

Silêncio (FOTO: Reprodução/Ivan Cabral)

Os grandes perdedores no primeiro turno das eleições foram os ibopes, datafolhas e congêneres. Os furos pelo governo em diversos Estados, entre eles SC, mostraram seus erros e incapacidades. E não estão fazendo nenhuma autocrítica. O silêncio é completo.

Nova força política

O diretório estadual do PSL, que anda mais que assoberbado com a campanha para o governo estadual e federal, não consegue dar conta de uma demanda extraordinária desde o penúltimo domingo e que promete cuidar com toda atenção depois do segundo turno. São dezenas de pedidos de pessoas de municípios do interior do Estado, principalmente de pequenas cidades, que querem constituir, desde já, comissões provisórias do partido, que só alguns notavam sua existência há três meses atrás. Aliás, há prefeitos muito preocupados com a extraordinária receptividade do PSL e temem que seja uma força poderosa e inesperada a enfrentar na eleição municipal de 2020. A conferir.

Prêmio

Pelo menos um catarinense estará no escalão superior de Jair Bolsonaro, se ele for eleito presidente da República. É o que se diz na direção do PSL de SC. Seria o “prêmio” pelos catarinenses terem dado ao capitão da reserva do Exército a maior votação proporcional no primeiro turno entre os 27 Estados e o Distrito Federal no primeiro turno. Premiação que pode ter um “plus” se for repetida ou até ampliada no segundo turno.

Imposição

O governador Pinho Moreira mandou para a Assembleia Legislativa a proposta da Lei Orçamentária Anual para 2019. A destacar a previsão de aplicação de R$ 222 milhões via “emendas impositivas” (uma verdadeira imoralidade) propostas pelos deputados estaduais. Sinceramente, porque perguntar não ofende: quanto daqueles R$ 222 milhões vão chegar a seu verdadeiro destino? Quem conhece alguns meandros sabe dos imorais desvios no meio do caminho.  Ademais, distribuir dinheiro não é tarefa de legislador.

Inflando

A bancada do PSL na Câmara dos Deputados deve se tornar a mais numerosa, após a posse em fevereiro de 2019. Ao menos 10 deputados já iniciaram conversas para aderir ao partido de Bolsonaro. De SC não será surpresa a adesão Rogério Peninha Mendonça (MDB), um dos mais entusiastas cabos eleitores do capitão da reserva do Exército no Estado.

Tarda e falha

Um exemplo de que nossa justiça, apesar dos esforços, ainda é tarda e falha. Dezoito anos depois, um cidadão chamado Agnaldo Goes foi condenado a sete anos de prisão em regime semiaberto. Dirigindo embriagado, atropelou e matou um ciclista de 20 anos em maio de 2000 no município de Araquari, vizinho de Joinville. 

Estratégia arriscada

Se o candidato Gelson Merísio (PSD) pensa bater no Comandante Moisés (PSL) por este não ter um currículo político-administrativo, é bom repensar. Milhões de eleitores mandaram dizer, pelas urnas, que querem gente nova, não só quanto à idade, mas também de ideias, e que não tenham os conhecidos e infames vícios de nossa política.

PT católico

Eminência parda da Igreja Católica, o catarinense de Forquilhinha dom Leonardo Ulrich Steiner, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, também bispo auxiliar de Brasília, assumidamente de esquerda, recebeu Fernando Haddad. Mas logo distribuiu nota dizendo que a entidade “é uma instituição aberta ao diálogo com pessoas e grupos da sociedade brasileira”. Perguntar não ofende: receberia Jair Bolsonaro?

Recusa 1

Difícil de entender como Balneário Camboriú, através de sua prefeitura, se dê ao luxo de recusar um porto turístico para receber transatlânticos, cuja outorga para implantação e exploração acaba de ser dada anteontem pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

Pesquisas

Os institutos de pesquisas perderam muito de sua credibilidade com os enormes furos na eleição do dia 7. Não é por acaso que há vários projetos no Congresso Nacional, tentando limitar sua atuação. Entre eles uma proposta de emenda constitucional (PEC) de 2015, de autoria do falecido senador catarinense Luiz Henrique da Silveira (MDB-SC), bombardeada pela mídia – Rede Globo em especial, que a criticou em editorial no Jornal Nacional – proíbe a divulgação de pesquisas eleitorais nos 15 dias que antecedem a eleição.

Inimigo íntimo

Enquanto parte do PP comemora o sucesso eleitoral do dia 7, principalmente com a eleição de Esperidião Amin para o Senado, outra faz um silêncio ensurdecedor. É aquela que tirou Amin da presidência do partido, no ano passado. Duas de seus cabeças (Valmir Comin e Silvio Dreveck) não conseguiram reeleger-se para a Assembleia Legislativa.

Voto regional

O sul de SC, de Laguna a Araranguá, elegeu dia 7  três deputados federais e oitos estaduais. É o resultado exitoso de uma campanha pelo voto regional que uniu as principais entidades da sociedade organizada.

Ironia

Foi em Paris, onde Chico Buarque, numa mesa de café, disse que não voltaria ao Brasil se Lula fosse preso, onde Jair Bolsonaro colheu uma de suas raras derrotas de brasileiros que votaram no exterior. Na Venezuela, que o PT insiste em achar que é uma democracia, o capitão da reserva do Exército conquistou 68,93% dos votos.

Filme velho?

A mesma sensação momentânea de mudança que milhões de brasileiros sentem agora, com os acachapantes resultados das urnas no dia 7, foi festejada há 16 anos, quando Lula ascendeu ao poder. E deu no que deu. O país está num atoleiro, em todos os sentidos.

Margem de erro

Roga-se aos institutos de pesquisa que fizeram vários levantamentos de intenções de voto em SC que na próxima eleição reformem suas metodologias, principalmente quanto à margem de erro, que neste ano ficou em 5% em quase todas elas. Uns 20% seria mais confiável e honesto. Os furos na eleição de domingo, tanto para governador como senador, foram muito além da conta.

Conselho

Alguns dos jovens deputados estaduais eleitos dia 7 para seu primeiro mandato na Assembleia Legislativa não podem e nem devem esquecer o recado a eles dado por muitos eleitores: que assim que assumam, acabem com as “mamatas” (palavra muito usada por irados contribuintes) que tanto maculam a imagem do Parlamento estadual há décadas. Isso já aconteceu, em menor escala, na eleição de 2014 mas, como se constatou, todos os “novos” foram cooptados pelos velhos e arraigados hábitos dos veteranos. Resumo:  ninguém renuncia a privilégio nenhum.

Puro

O PSL e seu candidato a governador, Comandante Moisés, escrevem mais um capítulo na história da política de SC: não querem fazer acordos para o segundo turno. Sabem que há oportunistas de plantão para nadar na “onda” favorável. Mas também não querem passar a imagem de calçar sapato alto.

Herança

O sonho daquele que foi um dos mais influentes empresários e políticos de SC (deputado federal e vereador) Diomício Freitas, se materializa. Seu neto, Daniel Freitas, empresário, do PSL, elegeu-se deputado federal com a segunda maior votação, de 142.571 votos.

Verde

Pela primeira vez o Partido Verde (PV) elegeu um deputado estadual em SC. Ivan Naatz, com 14.551 votos, 51 anos, já foi vereador em Blumenau e candidato a prefeito em 2016.

Desfaçatez

É a mais pura expressão da verdade: a quase totalidade dos 140 candidatos a deputado estadual em SC que não conseguiu mil votos só se candidatou para fazer campanha para outro ou para conseguir pelo menos licença remunerada no serviço público ou na iniciativa privada. E o contribuinte ali, bancando esta malandragem. Quem se habilita a acabar com isso?


Sobre o autor

Raul Sartori

Jornalista e colunista de política do Imagem da Ilha


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