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Centros de Eventos, hora de aprender com os erros

Como uma obra como esta pode ter ficado parada por 3 anos e 5 meses? (Foto:Santur/Divulgação)

Publicado em 21/06/2022
Houve um tempo em Santa Catarina em que o Turismo ocupou o centro da pauta do Governo do Estado – esse tempo foi durante as duas gestões de Luiz Henrique da Silveira, entre 2003 e 2010, e também dos dois vice-governadores que assumiram nos anos eleitorais, Eduardo Pinho Moreira (2006) e Leonel Pavan (2010), que mantiveram essa prioridade. Foi no Governo LHS, o qual tive oportunidade de servir como secretário de Articulação Internacional, na criação e presidência da SC Par e também acumulando a Secretaria do Planejamento no período Pavan. Nesse tempo – em que realizamos, por exemplo, o WTTC em 2009, o maior evento do turismo internacional já feito no Brasil – foram estabelecidas políticas públicas, com origem em estudos profundos para projetar o Turismo de SC, entre elas a criação de Centros de Eventos ou Arenas Multiuso em pontos estratégicos das diversas regiões, para fomentar a economia, o esporte, o lazer e, especialmente, os destinos turísticos. 
 
Recorro a essa memória para comentar aqui as notícias da imprensa catarinense sobre dois centros de eventos que sofreram e ainda sofrem em virtude da falta de execução de boas políticas públicas para o Turismo em nosso Estado nos últimos anos. Refiro-me ao Centro de Eventos de Balneário Camboriú, com muita justiça batizado com o nome do saudoso Júlio Tedesco, e o Centro de Eventos Luiz Henrique da Silveira, em Canasvieiras, Norte da Ilha de Santa Catarina. 
 
Sobre o primeiro quero aqui agradecer ao amigo Osmar Nunes Filho, o Mazoca, uma das figuras mais significativas do trade turístico catarinense, ex-presidente da Santur e atual secretário de Obras de Balneário Camboriú, que me sugeriu escrever sobre a inauguração do Centro de Eventos Júlio Tedesco, realizada no dia 17 de maio último. Mazoca conta que meu nome e de outros que lutaram por essa obra tão importante foram citados no evento – e aqui agradeço mais uma vez.
 
No entanto, não posso deixar de registrar o inexplicável tempo em que esse equipamento tão importante para SC ficou parado feito um “elefante branco” às margens da BR-101. Foram 3 anos e 5 meses desde que no dia 21 de dezembro de 2018 nós fizemos a entrega da obra física, eu como ministro do Turismo, e o então governador Eduardo Pinho Moreira, o secretário estadual de Turismo Tufi Michreff e o presidente da Santur, Valdir Walendowsky. 
 
Com a obra pronta, naquele dia liberamos R$ 15,6 milhões pelo Ministério do Turismo via Caixa Econômica para climatização, mobiliário, elevadores, escadas rolantes, catracas, cancelas, sonorização e iluminação, que era o que estava faltando para a inauguração. A licitação para esses equipamentos estava marcada para 14 de janeiro de 2019, ou seja, duas semanas após o início do atual governo. E também o processo de licitação para a concessão à iniciativa privada estava pronto, sendo encaminhado à Assembleia Legislativa. 
 
Pergunto a você contribuinte: o que explica uma obra desse porte, que custou R$ 142 milhões (R$ 72,2 milhões do Governo Federal – sendo R$ 60 milhões liberados por mim no Ministério, R$ 50,8 milhões do Governo do Estado e R$ 19 milhões da Prefeitura de Balneário Camboriú), ter ficado parada por 3 anos e 5 meses? Para se ter uma ideia do prejuízo, basta lembrar que o primeiro evento realizado no Centro Júlio Tedesco, no começo deste mês, o Fenin Fashion Verão 2022/23, gerou R$ 300 milhões em negócios, atraindo 8 mil lojistas e 250 marcas. Quantos eventos desse porte deixamos de realizar? 
 
Mas também por uma questão de justiça, como lembrou o Mazoca, quero registrar aqui a luta dos ex-prefeitos de Balneário Camboriú, Leonel Pavan e Edson Piriquito, dois batalhadores na realização desta obra – e não posso deixar de mencionar todo o empenho do atual prefeito Fabrício Oliveira, que cumpriu sua parte no projeto e fez o que pode para evitar o enorme atraso da inauguração. 
 
Talvez nem eles saibam, pelo meu ângulo de observação em Brasília, como tudo começou: foi ainda quando eu era secretário nacional de Políticas de Turismo do Ministério e chegou às nossas mãos uma proposta de R$ 700 milhões do então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para restauração do Anhembi. No entanto, o prefeito não cumpriu os prazos, desistiu da obra, e resolvemos buscar seis ou sete cidades onde houvesse um projeto para centro de convenções que pudessem ser realizados. Balneário Camboriú tinha um projeto e hoje ele é uma realidade, mesmo que tardia.
 
Sobre o Centro de Convenções Luiz Henrique da Silveira, na região norte da Capital, cuja concepção também acompanhei na equipe de Governo LHS, o que posso dizer é que também sofre por incompetência administrativa – e não é de hoje. Inaugurado em 2015 para ser “multiuso”, prevendo inclusive grandes eventos esportivos, foi vítima de construção de pilares e uma laje, hoje sem pai nem autor, que descaracterizaram o projeto inicial e inviabilizaram o uso múltiplo. Virou um “elefante branco” de R$ 80 milhões.
 
Há dois anos o Codeni, o Conselho de Desenvolvimento do Norte da Ilha, vem pedindo ao Governo do Estado que conceda o Centro LHS à iniciativa privada. Mas em entrevista à imprensa nos últimos dias, o presidente da entidade, o empresário Luiz César da Costa, desabafou toda a sua frustração: “Nos ignoraram, não atenderam nem retornaram nossas mensagens”, afirmou Luiz Carlos, ao liderar um ato público em frente ao Centro de Eventos para pedir mais uma vez pela concessão. 
 
Este artigo não tem a intenção de buscar culpados pelos atrasos, pelas perdas de faturamento, nem de apontar o dedo para ninguém. Mas relembrar fatos que, se não se transformarem em aprendizagem, vão sempre ser recorrentes – tanto que os dois Centro de Eventos, de origem, têm o mesmo problema.
 

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