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Aos quase 90, Dona Adélia costura memórias e lança livro
Mãe de 11 filhos e ex-aluna da EJA em Florianópolis, ela transforma décadas de experiências em palavras

Aos quase 90, Dona Adélia costura memórias e lança livro
Aos quase 90 anos, Dona Adélia Domingues realiza o sonho de lançar seu primeiro livro, uma coletânea de memórias que atravessam trabalho, perdas, afetos e aprendizados. (Fotos: Divulgação)

Publicado em 25/06/2025

E a nossa Personagem da Semana é Dona Adélia Domingues, uma mulher de quase 90 anos que vive com mais energia e propósito do que muita gente por aí. Em julho, mês do seu aniversário, ela sonha em celebrar de um jeito muito especial: lançando o seu primeiro livro, “Construída em Retalhos”. A obra reúne memórias profundas e preciosas — histórias que ela foi guardando ao longo da vida e que agora ganham forma em palavras.

Natural de Pinheiro Machado, no interior do Rio Grande do Sul, Dona Adélia nasceu em 1935, filha de Ana Joaquina e de Sotero Domingues, que veio ao mundo em uma senzala. Desde cedo, conheceu a dureza da vida. Aos 14 anos, deixou a escola para trabalhar na cozinha de uma fazenda. Criou onze filhos — nove deles vivos — e enfrentou, com coragem, a viuvez por duas vezes.

Foi só depois que os filhos cresceram e seguiram seus caminhos que ela encontrou espaço para algo que havia ficado em suspenso por muito tempo: o desejo de voltar a estudar. Já morando em Florianópolis, onde chegou em 1996 para ficar mais perto de parte da família, ela decidiu retomar os estudos pela Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJA), no polo NETI-UNAPI da Universidade Federal de Santa Catarina. E concluiu o ensino fundamental com orgulho.

 

Dona Adélia é exemplo de que nunca é tarde para aprender, ensinar e viver com propósito.

 

Mas a vontade de escrever veio antes mesmo do diploma. Dona Adélia queria contar o que viveu — a infância no interior, o trabalho duro, os filhos, as perdas, os recomeços, os afetos, a vida que seguiu em frente mesmo nos dias difíceis. Queria transformar lembranças em algo que ficasse.

 

Ex-aluna da EJA, ela concluiu o ensino fundamental em Florianópolis e segue ativa dá oficinas, faz teatro e vende artesanato na Lagoa.

 

Hoje, mora sozinha e quase nunca está em casa. Três vezes por semana, está nas aulas da EJA pela manhã. Às quartas, comanda oficinas de fuxico — técnica artesanal com retalhos de tecido — tanto para os alunos em processo de alfabetização quanto para a comunidade. Participa de três grupos de teatro: no NETI, na Escola Sul em Ponta das Canas e no Instituto Federal. Faz aulas de ginástica na UFSC e, aos domingos, marca presença com seu estande na feira de artesanato da Lagoa da Conceição.

“Gosto de estar por aí, aprendendo coisas novas, conversando, conhecendo gente. Sempre estou envolvida em algum projeto”, conta, com uma leveza que emociona.

Ela tem também uma irmã gêmea, Zélia, que mora em Porto Alegre e também aprendeu a ler e escrever pela EJA. Duas vidas costuradas por coragem, vontade e afeto.

Agora, ela se prepara para lançar seu livro. “Construída em Retalhos” terá uma tiragem de 150 exemplares, sendo que 80 já estão garantidos na pré-venda. Quem quiser apoiar essa realização e adquirir um exemplar pode entrar em contato com a professora e amiga Dóris Furini pelo telefone (48) 98415-9607.

Mais do que um livro, é um gesto de resistência e beleza. Um pedaço de vida compartilhado com o mundo por quem nunca deixou de acreditar que ainda havia tempo — e muita coisa — por viver.

 

Irmãs gêmeas Adélia (E) e Zélia (D).

 

 

 

Da redação

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