A Educação do futuro em SC, por Vinicius Lummertz
O futuro de qualquer população depende, fundamentalmente, de sua Educação. Esta afirmação, que tem sido utilizada pela maioria dos candidatos a governador em nosso Estado, em várias eleições, decisivamente tem que deixar de ser um “discurso sem profundidade”, sem maiores consequências práticas, para se tornar uma “realidade”. De fato, a “realidade atual” da Educação em Santa Catarina ainda está longe do que se pode almejar para um Estado como o nosso que quer se comparar com as melhores regiões do mundo e não apenas com lugares do Brasil e da América Latina. Ou não foi para isso que os imigrantes europeus vieram para SC, para fazer daqui um lugar melhor do que sua origem?
O fato é que a Educação Pública Estadual está ancorada em um modelo pedagógico do século passado, formando os nossos jovens para uma Sociedade Industrial que não mais existe, pois estamos em uma transição evidente de uma Sociedade Analógica para uma Sociedade Digital, de uma Sociedade Industrial para uma Sociedade do Conhecimento, que exige uma nova pedagogia, uma pedagogia adaptada à Era Digital.
A Sociedade Digital pode ser entendida como as mudanças que a tecnologia digital provoca ou influencia na transformação digital – que é uma mudança estrutural da sociedade, economias, cidades e organizações, causada pela aplicação abrangente de tecnologias digitais e modelos de negócios digitais disruptivos – que está se tornando um termo de interesse acadêmico e empresarial em todo o mundo, mas que, infelizmente, a Educação em nosso Estado ainda não incorporou.
Executivos de todos os setores estão usando avanços digitais como análise, mobilidade, mídia social e dispositivos embarcados inteligentes – e melhorando o uso de tecnologias tradicionais – para mudar o relacionamento com os seus clientes, processos internos e proposições de valor.
De fato, a transformação digital é um conceito relativamente novo e alcançou grande popularidade entre pesquisadores e profissionais nos últimos dois anos, mas que foi significativamente acelerado pela pandemia da Covid. Na perspectiva de uma evidente aceleração, estamos testemunhando atualmente uma verdadeira revolução que está acontecendo na Educação, em vários países do planeta, conforme relatório recente publicado pela Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Segundo esse relatório, os professores do futuro deverão ser capazes de desenvolver em seus estudantes as competências digitais, de acordo com essas diretrizes e requisitos obrigatórios a serem estipulados, pois as competências digitais devem ser consideradas como parte integrante da competência docente e da profissão docente, e enfatizada na formação de professores.
Afinal, os avanços nas comunicações digitais, internet das coisas (IoT), inteligência artificial, ‘blockchain’ (um sistema de base de dados que funciona de maneira distribuída, alimentado por diversos computadores de uma mesma cadeia) e toda a transformação digital que está atingindo todos os setores da atividade humana, estão transformando fundamentalmente a maneira como vivemos, trabalhamos, comunicamos, processamos conhecimento e aprendemos. Infelizmente, essa revolução educacional ainda está longe em nosso Estado.
Nessa mesma perspectiva, a OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, formada por 38 países, publicou um documento importante para a Educação do Futuro nas nações a ela associados, no qual ela define as competências que os cidadãos desses países deverão adquirir até 2030, para encararem os desafios e as oportunidades da Era Digital.
Enfim, com a entrada em vigor, neste próximo ano letivo, do Novo Ensino Médio nas Escolas da Rede Pública Estadual, é fundamental não só mudar a estrutura curricular, mas também a estrutura pedagógica, evoluindo de uma pedagogia construtivista sócio interacionista para uma pedagogia conexionista (conectivista) que, além dos três domínios de aprendizagem já conhecidos no Século 20 (cognitivo, afetivo e sensório-motor), incorpore, também, um quarto domínio de aprendizagem, desenvolvido neste século, o “intuitivo”, baseado no pensamento.
De fato, o “pensamento” vem antes do “conhecimento”. E o grande desafio da Educação do Futuro em Santa Catarina é ensinar a nossa juventude a pensar, a resolver problemas, a enfrentar desafios. Pensamento sistêmico, pensamento computacional, pensamento crítico, pensamento analítico, pensamento inovador e pensamento empreendedor são as competências mais relevantes neste novo cenário educacional.
Na próxima coluna vou abordar questões práticas e fundamentais para a Educação do Futuro em Santa Catarina, como as escolas de tempo integral, a valorização real do professor e do profissional de Educação e as profissões que o mercado de trabalho exige agora – e exigirá ainda mais no futuro.
Como disse nas primeiras linhas dessa coluna, o futuro de qualquer população depende, fundamentalmente, de sua Educação. Por isso, é urgente deixar os discursos sem profundidade, sem maiores consequências práticas, para se tornar uma realidade em Santa Catarina.
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