Rainhas da quarentena
Elas precisaram se reinventar para atender às necessidades dos filhos durante o distanciamento social
Estamos vivendo momentos desafiadores, com certeza, desde que fomos surpreendidos pela pandemia provocada pelo novo coronavírus. Tivemos que alterar as nossas atividades, estabelecer uma nova rotina, preferencialmente dentro de nossas casas. Porém, para as mães, um desafio ainda maior: além de cuidar da casa e do trabalho, que agora é “home office”, os filhos requerem uma atenção especial. As aulas também acontecem em casa, assim como as brincadeiras e outros passatempos. Assim, elas inovam para que esta fase fique mais leve e amorosa.
A comemoração dos 15 anos de Mariah, que seria em uma viagem com a família para o exterior, de repente ganhou um novo recorte. Ficar em casa foi a opção necessária diante dos acontecimentos que estavam por vir. Os casos de contaminação pelo vírus estavam aumentando, inclusive em Florianópolis, e cuidados precisariam ser tomados. “Precisei cancelar a viagem e, para o aniversário não passar em branco, resolvi fazer uma surpresa com as melhores amigas da Mariah”, conta a mãe, Maitê Candaten.
O jeito foi inovar para surpreender a filha. Foi quando surgiu a ideia de fazer um “drive-thru” para receber as amigas de Mariah na frente de casa, que fica em um condomínio fechado. Maitê combinou com as mães das meninas pra que todas chegassem juntas. Mariah foi surpreendida com os parabéns de cinco amigas e o bolo de aniversário feito pela mãe. O irmão João Luiz, 13, filmou tudo para que o momento tão inusitado ficasse armazenado para a posteridade. “A Mariah ficou muito feliz, queria abraçar todas, mas manteve a distância", conta Maitê. Sem beijos e abraços, os cumprimentos ficaram apenas nas batidas de cotovelos.
Quem também ganhou uma festa de aniversário em casa foi a Lara, de 10 anos. Juntos desde o início do isolamento social, ela, a mãe, Francine Mendes, e o irmão, Luca, 8 anos, prepararam o bolo, organizaram os salgadinhos e cantaram os parabéns com os familiares – à distância! – através de um aplicativo de videoconferência. Francine conta que as chamadas de vídeo são frequentes para aliviar a saudade das pessoas queridas.
Rotina necessária
Desde o início do isolamento social, Francine Mendes precisou adaptar o seu trabalho e os estudos das crianças de forma planejada para manter, na medida do possível, a rotina de antes, só que agora dentro de casa. “Eles acordam cedo, assistem às aulas online e eu mantenho o mesmo horário de trabalho. À tarde, incentivo os dois a fazerem atividades criativas, como desenhos e pinturas, e os estimulo a realizarem atividades domésticas, como arrumar a cama e lavar louças. Tento preservar a sanidade mental deles sempre estimulando novas atividades”.
A escola dentro de casa
“A partir do momento em que as crianças ficaram sem as aulas presenciais, pensei em continuar a rotina deles dentro de casa, fazendo tudo o que fosse possível”, conta Juliana Teixeira de Barros, mãe de Letícia, 7, Gustavo, 5, e Lucas, de 3 anos. A sala de casa foi adaptada para receber os materiais - muitos deles produzidos pela própria Juliana com o auxílio das crianças -, para reproduzir o método Montessori, aplicado no colégio onde estudam.
Tem cestas com brinquedos, com lápis, com papéis, com materiais para limpeza do ambiente. “Eles sabem que as atividades têm começo, meio e fim. Por isso, escolhem uma atividade, brincam e guardar todo o material utilizado”, lembra Juliana. As atividades enviadas pelo colégio, ela prepara e eles escolhem o que desejam fazer no momento. “Assim eles sempre fazem tudo, sem pressão”, conta. As aulas de Educação Física, por exemplo, têm circuito pulando almofadas, andando na corda, que pode ser um cachecol ou o que as crianças adaptarem para isso.
“Sei que a escola faz falta, porém decidimos continuar o que podemos fazer, com a ajuda das professoras, pois um dia as aulas presenciais voltarão, e, enquanto isso, eles estão crescendo, e esses dias não voltarão”, lembra. Juliana destaca ainda que esse tempo em casa está sendo de muitas descobertas: “acho maravilhoso escutar de longe as aulas online da Letícia, as perguntas que ela e os colegas fazem para a professora. Acompanhar o Gustavo, de 5 anos, lendo o seu primeiro livrinho inteiro. E mesmo o Lucas, o mais novo, está aprendendo a ser mais paciente, pois com as aulas online aprendeu que precisa esperar para falar, por exemplo”.
Matéria escrita por Gabriela Morateli