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Varal da Trajano – um lugar de encontros, por Fernando Teixeira

O Varal da Trajano, emoldurado pelo Palácio Cruz e Souza. (Fotos: Fernando Teixeira)

Publicado em 09/10/2024

Da conversa entre dois amigos que possuem em comum a paixão pela fotografia, mas que não queriam ver aprisionados entre “quatro paredes” os resultados do belo ofício que desempenham e, como que inspirados pela canção de Milton Nascimento que diz que todo artista tem de ir aonde o povo está, nasceu em 2015 um dos movimentos culturais e artísticos mais importantes de nossa cidade: o Varal da Trajano.

Para os fotógrafos Milton Ostetto e Alexandre Freitas, idealizadores da proposta, levar para as ruas as imagens que frequentemente capturavam do cotidiano da cidade era a possibilidade de poder dividir com o público diferentes visões sobre uma mesma realidade e, ao mesmo tempo, fomentar uma discussão acerca de nossas transformações como sociedade. Sem muitos recursos financeiros, mas com vontade de fazer acontecer, o formato encontrado para que pudessem transformar o sonho em realidade foi pendurar as fotos que faziam em um varal estendido numa das ruas da cidade. A Trajano, conhecida e importante via urbana, chamada em outros tempos de rua do Livramento, foi a escolhida para receber a novidade daquele momento. Já na primeira exposição, reuniu-se à entusiasmada dupla o também fotógrafo Kleber Steinbach, que passou a colaborar com as futuras edições do evento.

A rua é o lugar do encontro.

 

O que era para ser uma única mostra da produção de duas pessoas, que possuíam em comum o desejo de compartilhar com o público o que registravam, acabou transformando-se num espaço que abrigou, ao final daquele ano, dez exposições. Daí em diante nunca mais parou. Desde o primeiro momento percebeu-se que o lugar que havia sido escolhido não poderia ser mais apropriado. Envolto por uma atmosfera histórica, tendo o palácio Cruz e Souza como cenário, o Varal transformou-se num ponto de encontro dos que gostam de conversar sobre diferentes assuntos do cotidiano, mas sobretudo daqueles que fazem da fotografia sua grande paixão. A rua é sempre democrática - por ela passam famílias inteiras, gente de todas as idades, de diferentes realidades, gostos e visões de mundo. Gente que para e se maravilha com a beleza de imagens expostas de forma tão gratuita e generosa.

Eu me reconheço.

 

Desde o início, este sempre foi o objetivo de seus idealizadores: possibilitar que todos pudessem ter acesso ao que se produz nessa área em Florianópolis. Muitos dos que se encantam com o Varal jamais tiveram oportunidade de entrar em uma galeria de arte ou num museu, jamais tiveram a chance de estar diante de uma obra fotográfica e, através dela, perceberem outras facetas do próprio espaço em que circulam diariamente. Mas por ali também trafegam críticos de arte, fotógrafos experientes, pessoas que frequentam espaços expositivos mundo afora e que, com seu olhar crítico e apurado, ajudam a estabelecer paralelos com o que de melhor se produz em outras partes do mundo, numa perfeita simbiose.

Cleber Steinback, Milton Ostetto e Alexandre Freitas, a alma do Varal.

 

Prestes a completar uma década de existência, o Varal, que acontece sempre no último sábado do mês (quando chove é transferido para o próximo), tem sido palco de belíssimas exposições. Um espaço de convivência para antigas e novas amizades. Por ele já passaram mais de 150 fotógrafos em 76 exposições, individuais e coletivas. Nem mesmo a pandemia o derrubou. Durante dois anos esteve fora das ruas, mas presente de forma virtual, mantendo a conexão entre todos aqueles que amam e respiram fotografia.

 No abraço, a contemplação da beleza.

 

Desde seu primeiro ano de existência, o Varal contou com o fundamental apoio da Multicor Atelier de Impressão. Além de possibilitar valores mais acessíveis aos expositores, o material utilizado nas reproduções é da mais alta qualidade, o que possibilita uma beleza ainda maior às obras nele divulgadas. Em dezembro sempre acontece uma exposição coletiva, e a Trajano se engalana para receber, além dos artistas que expuseram ao longo do ano, o grupo de choro da Escola Portátil de Música, que lindamente abrilhanta o evento sob a regência do maestro Geraldo Vargas.

Grupo de chorinho da Escola Portátil de Música.

 

O Varal também criou asas. Chegou ao outro lado do Atlântico com alguns de seus membros estabelecendo intercâmbio permanente com o Instantes - Festival Internacional de Fotografia de Avintes, em Portugal. Representantes desse país já estiveram em Florianópolis, mostrando um pouco da fotografia que se produz no velho continente. Por aqui também rompeu fronteiras, fez escola. Já tem coirmãos, como o Varal da Veneza, no belíssimo município do Sul catarinense, assim como em Antônio Carlos, a terra das hortaliças. Já não é mais possível pensar Florianópolis sem sua presença, pensar a Trajano sem aquele Varal repleto de belas imagens e de gente que pensa a cultura como elemento vital para o desenvolvimento humano e social. Que o Varal da Trajano tenha vida longa, que ele seja sempre inspiração para todos aqueles que acreditam ser a arte essencial à nossa existência e a rua, por excelência, um lugar de encontros.

 

 

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Sobre o autor

Fernando Teixeira

Formado em Arquitetura e Urbanismo (UFSC), mestre em Geociências e Doutor em Educação Científica e Tecnológica (UFSC), natural de Florianópolis. Atualmente tem se dedicado à fotografia.


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