Imagem da Ilha

Quantas vezes muitos de nós, ao caminharmos pela orla dessa encantadora ilha, ou mesmo ao cruzarmos algumas de suas ruas e praças, não ficamos a nos perguntar o que poderia ser feito para tornar esses locais mais agradáveis, mais amigáveis ou inclusivos, possíveis de serem frequentados com muito mais qualidade? Sabemos, no entanto, que quando esse desejo de mudança é individual, talvez a chance de concretizá-lo, de torná-lo realidade, possa ser bem menor do que quando ele emerge de um coletivo de pessoas com propósitos em comum.

Em 2016, a partir de uma conversa informal entre os arquitetos e urbanistas Giovani Bonetti e Silvia Lenzi, quando o assunto girava em torno do descontentamento geral com o rumo que vinham tomando as tratativas sobre o novo Plano Diretor de Florianópolis, foi idealizada a criação de um Movimento que passou a denominar-se “Traços Urbanos”.

Arte de Rua – Rua José Boiteux (Foto Fernando Teixeira)
 

Planejar e colaborar com ações que contribuam para a requalificação de espaços públicos e de uso coletivo de nossa cidade tornou-se a meta principal desse Movimento, que logo se consolidou como um grupo transdisciplinar, formado por pessoas de diferentes competências e áreas de atuação.

Em comum, todas compartilham o interesse em contribuir generosamente para o fortalecimento da cultura urbana na cidade. O movimento também atua em conexão com outros coletivos e instituições que estejam imbuídos de propósitos paritários a sua proposta de atuação. Desde sua criação, muitas ações foram sendo desenvolvidas, umas mais incisivas e com efeitos concretos mais evidentes, outras de caráter mais simbólico, porém não menos importantes.

Projeto Nossa Rua – Foto André Hoecke
 

As primeiras reuniões do “Traços Urbanos”aconteceram ainda em 2016, quando foram definidos os conceitos, o objetivo, o foco e a abrangência das ações que viriam a ser planejadas. Em novembro desse mesmo ano ocorreu o lançamento oficial do Movimento, com a realização do Evento “Nossa Rua”, que integrou manifestações artísticas, exposição de filmes e debates sobre intervenções urbanas em espaços públicos e uma oficina de cocriação de projetos de pocketplaces para a região do Centro Histórico Leste, em parceria com o Centro Sapiens.

A partir desse momento, diferentes ações e projetos passaram a ser desenvolvidos pelo Movimento, dando mostras de sua importância como elemento propulsor de um novo olhar sobre o espaço urbano e suas múltiplas possibilidades. Surgem assim o Projeto Arte de Rua para Idosos, envolvendo pessoas da região do entorno da Escola Antonieta de Barros, a oficina de prototipagem Centro Leste-Distrito Criativo, que contou com a participação de alunos e professores dos Cursos de Design da UDESC e da Faculdade Energia e do Curso de Arquitetura da UNISUL, além de integrantes da URBE - Ateliê de Arquitetura e de próprio grupo multidisciplinar do Movimento “Traços Urbanos”.

Projeto Cidade Inteligente (Foto Fernando Willadino)

Além desses, Caminhadas Culturais pelo Centro Urbano, Projeto Cidade Limpa e Varal dos Desejos, este último envolvendo alunos de um colégio de Florianópolis localizado no lado leste da Praça XV de novembro, deram sequência a esse período efervescente do “Traços”, como é carinhosamente chamado. Por iniciativa do Movimento e contando com a participação de profissionais de arquitetura e engenharia ligados a ele, além da UNISUL, UDESC, Faculdade ENERGIA e Grupo Via, em junho de 2017 surgia o projeto DECK URBANO, primeira intervenção de requalificação urbana planejada para a região do centro histórico leste da cidade.

Ainda em 2017, a convite da WOA Empreendimentos Imobiliários, o Movimento assumiu a coordenação e o desenvolvimento dos projetos de arquitetura e paisagismo, visando à implantação de uma praça num antigo terreno da CASAN, localizado no Monte Serrat. Inaugurado em 2019, o local é hoje um dos principais pontos de encontro da comunidade, recebendo feiras de moradores, além de acontecimentos culturais dos mais diversos.

A participação em eventos como o Cidade Inteligente, organizado pela Guarda Municipal de Florianópolis, Cidade e Tecnologia, em parceria com a SOFTPLAN, o Ciclo de Palestras “Em Conversa”, discutindo projetos desenvolvidos na cidade e que possuem conexão com o Movimento, a Maratona Cultural de Florianópolis, o Mutirão de Limpeza e de Arte Urbana no terreno localizado na Rua José Boiteux, tendo por objetivo a implantação, ali, da futura praça da Criança, também são ações que podem ser destacadas.

Deck Urbano (estudo) - Imagem: Arquivo Traços Urbanos
 

Em 2020, auxiliando no reerguimento de casas incendiadas no Monte Serrat, o “Traços Urbanos” envolveu seus participantes, que colaboraram, juntamente com outros parceiros, na execução de projetos e busca por materiais para sua reconstrução. As novas casas foram entregues aos moradores em 2021. Nas discussões sobre remoção dos paralelepípedos do Centro Histórico de Florianópolis, o Movimento também esteve presente através de alguns de seus membros, participando efetivamente das discussões que envolveram e embasaram essa importante questão referente à preservação da memória urbana.

Mais recentemente, em parceria com a Ong ACGB, de Curitiba, e WOA Empreendimentos, foram desenvolvidos projetos para a instalação de painéis que formarão o Mural das Lavadeiras, na Praça do Monte Serrat, o qual homenageará as antigas lavadeiras e essa importante atividade realizada por muitos anos na localidade. Após passar pelo difícil período da pandemia e ver suas atividades diminuídas em função dela, o Movimento vem procurando se reerguer e se reoxigenar. Neste último sábado, no MESC - Museu da Escola Catarinense, a casa que sempre o acolheu, foi dado o primeiro passo rumo à sua renovação.

A partir de agora contará com a participação efetiva do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI, no qual o Movimento ficará sediado. Que este novo período venha carregado de grandes ideias e bons projetos, ratificando a importância do “Traços Urbanos” frente às discussões, reflexões e ações que buscam a conquista de avanços na qualidade urbana de nossa cidade e de toda a região.

Esta coluna teve a colaboração da jornalista Letícia Wilson

 

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