Jeferson Branco leva borogodó e provocação para o Estúdio Manifesto
Amendoeira, rede de palha, filtro de barro, prato Duralex, espelhinho de moldura laranja e armários azul calcinha. Essa é a casa brasileira que o arquiteto Jeferson Branco representa no seu Estúdio Manifesto. No espaço de 51m² batizado de Meu.coração.queima, peças que decoram e causam questionamentos estão entre os pontos a serem notados no projeto do arquiteto que, aos 27 anos, vive sua segunda participação na mostra. A primeira, em 2018 e ainda estudante, foi o prêmio por vencer um concurso da marca Deca com o projeto de um banheiro público sem distinção de gênero.
“Projetamos o palco para vida. Sou apaixonado por criar espaços inspirados na natureza e no comportamento sociocultural do povo brasileiro, porque seus diferentes tipos de beleza são ferramentas para projetos que constroem memórias", diz Branco sobre a inspiração que vai sugerir de nostalgia à reflexões sobre os contrastes do Brasil.
O estúdio cheio de borogodó assinado por Jeferson é uma instalação manifesto porque retrata, entre outros desagrados, a indignação do arquiteto com a desvalorização dos bens naturais e o extrativismo desenfreado. Esta causa, inclusive, será apresentada ao público com a exposição de rochas exóticas extraídas na Bahia e Minas Gerais, e majoritariamente exportadas para EUA e Ásia. Ao mesmo tempo, na sala, cozinha, quarto e banheiro, itens de decoração da cultura popular brasileira como as plantas Espadas de São Jorge e tapete de sisal, por exemplo, agregam no mix de elementos em voga nos lares contemporâneos compondo o atual design high-low, onde marcas ou produtos de alto valor lado a lado com acessórios e acabamentos de baixo custo.
“Norteado pelo conceito geral da mostra, “A casa original”, este projeto quer traduzir a verdadeira casa brasileira de hoje em dia, onde elementos de decoração tradicionais protagonizam no ambiente lado a lado com acabamentos de alto padrão, contraste que retrata a desigualdade social e descaso com essas questões que o país enfrenta”, define Jeferson sobre seu projeto.
Dedicado a uma arquitetura que vai além de resultado estético, e que inspira questionamentos, esta é a segunda vez que Jeferson assina um espaço provocativo na CASACOR Santa Catarina. Em 2018, ainda estudante, foi o vencedor de um concurso de jovens talentos da marca DECA e como prêmio assinou um banheiro público na CASACOR de Itapema sem distinção de gênero, traduzindo com naturalidade a ida ao toilette. “Trabalhamos na arquitetura que acreditamos, que traz questionamento da nossa realidade sociocultural, que tem conceito, que tem alma”, detalha Branco sobre suas motivações tanto para o espaço de 2018, quanto para o que traz à tona em 2021, e completa: “Estamos aqui eu, minha equipe e a produção CASACOR Florianópolis aliados na continuidade desse legado de projetos que ultrapassem as barreiras visuais”.
Entre as parcerias que contribuíram para a materialização do projeto de Jeferson estão nomes como a Evviva, que em suas unidades de produção reaproveita água da chuva, faz o uso de produtos biodegradáveis, tratamento de resíduos, coleta seletiva e a fabricação com materiais atóxicos e não poluentes. A grife sustentável de móveis assinou os planejados da cozinha e do closet, ambos azul-celeste, e um painel ripado que foge da tendência atual que é o monocromático, e surge num degradê de cinzas que representa as diversas etnias e cores de pele do Brasil.
A Portobello, maior indústria de cerâmica do Brasil, também é parceira do ambiente de Jeferson fornecendo o revestimento do piso que é uma reprodução fiel da Araucária com microgrânulos de quartzo e um ciclo especial de queima que passam a sensação de relevo das fibras naturais de madeira. Já na parede da cozinha e banheiro, a Portobello assina uma das marcas registradas do ambiente, o revestimento cerâmico da Linha Gouche na cor mandarim que remete ao movimento do pincel na superfície com as nuances de camadas dando vitalidade ao espaço.
A Reveev está presente no projeto de Jeferson com o ponto central de repouso em meio ao caos do cotidiano, uma Cama Nuvem, peça assinada pelo arquiteto Gabriel Bordin para a CASACOR 2019. Feita de eucalipto de reflorestamento e de tauari, madeira de origem brasileira, o móvel dá continuidade ao ambiente revestido no tom azul-celeste visto na cozinha e no closet. Um carregador por indução para celular está embutido na cabeceira da cama que recebeu colchão de linha eco. Um Vicenza com tampo em algodão orgânico, produzido sem a utilização de fertilizantes, mantendo as fibras naturais, foi a opção do arquiteto.
A DECA forneceu louças e acabamentos de áreas molhadas, e a Coral Tintas é responsável pelo tom do ambiente, predominantemente terracota, que dá o ar acolhedor ao projeto. A Organne contribuiu para o cenário com vasos artesanais que receberão Espada de São Jorge, Lírio da Paz e outras plantinhas da varanda da casa da vó, e até uma amendoeira. A Via House agregou ao Estúdio Manifesto com cortinas de bambu, e a Pia Laus com mantas e almofadas feitas de reaproveitamento de malha.
Jeferson Branco (Crédito: Vanessa Alves)
Da redação
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