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Os encantos da uva Nebbiolo

A Nebbiolo é uma variedade clássica do Piemonte, região Norte da Itália aos pés dos Alpes (Foto: Reprodução)

Publicado em 19/08/2021

Poucas variedades de uva me chamam tanto atenção quanto a Nebbiolo. Ela é uma variedade clássica do Piemonte, região Norte da Itália aos pés dos Alpes. São duas histórias que explicam o seu nome: a primeira diz respeito às fortes névoas (nebbia), que são muito comuns na região; a outra, mais convincente, é relacionada à visível camada branca de pruína, uma cera protetora que fica na pele das uvas, parecendo uma névoa. A Nebbiolo é uma uva muito antiga. Sua primeira menção foi em 1266; ela capaz de produzir vinhos incríveis, expressivos e perfumados com um potencial de guarda enorme. Já ouvi produtor francês dizendo que se a Nebbiolo fosse de lá, seria a grande uva do mundo. Não duvido.

Essa uva tem uma brotação precoce e uma maturação tardia, precisando de tempo no vinhedo. Ela é temperamental quanto ao local em que é plantada, e prefere os solos brancos ricos em calcário das regiões de Barolo e Barbaresco. Assim como a Pinot Noir, ela tem uma capacidade enorme de refletir os detalhes de cada vinhedo. Por esses motivos, essas duas regiões são clássicas. Ainda por isso, assim como na Borgonha, as regiões foram divididas em diferentes “crus”, para que cada parcela possa ser expressa unicamente de acordo com a composição do solo, exposição solar inclinação e altitude.

Foi a Nebbiolo, em Barolo, que foi conhecida como “O Vinho dos Reis, o Rei dos Vinhos”, pela afinidade que o Rei Carlo Alberto e sua corte tinham com esse vinho.

Uma das suas principais característica é a sua cor delicada, que ganha bordas com laivos alaranjados muito facilmente, e que enganam quem pensa que isso quer dizer leveza. Ela geralmente apresenta alta acidez e taninos ainda mais marcantes, características perfeitas para manter um equilíbrio elegante e para o envelhecimento em garrafa. Muito aromática, tem algumas notas clássicas que são difíceis de confundir, como rosas, cerejas, alcaçuz e alcatrão.

A Nebbiolo sempre foi conhecida por fazer vinhos muito austeros e que precisavam de muito tempo para “amaciar”. Um dos motivos era a longa maceração, forçada pela chegava de um inverno rigoroso logo após o início da fermentação, fazendo o processo demorar muito tempo. Hoje, com práticas modernas aliadas às tradicionais, os produtores conseguem fazer vinhos mais prontos, porém, os grandes sempre serão vinhos de longa guarda. Existem, inclusive, duas escolas em Barolo. Os mais modernos, com barricas menores, novas, uvas mais maduras e mais extração; e os mais tradicionais, que usam geralmente grandes bottis de madeira neutra, colhem as uvas num ponto de maturação com equilíbrio de acidez e apesar das longas macerações, evitam uma extração excessiva. Esses são meus preferidos, sem dúvidas.

A Nebbiolo é muito importante para outras regiões como Valtelina, na Lombardia, onde é conhecida como Chiavennasca, e em Gattinara e Ghemme, também no Piemonte, onde é chamada de Spanna. Inclusive, essas regiões podem apresentar estilos muito interessantes e com uma boa relação de preço.

Para conhecer bem essa variedade, sugiro fazer uma degustação de algumas versões, como por exemplo um Langhe Nebbiolo, um Barbaresco e um Barolo de alguma zona específica como La Morra. São interpretações incríveis que se assemelham a provar diferentes apelações da Borgonha. Alguns produtores tradicionais são certeiros, como Rinaldi e Gaja, mas também vem com um preço, outros emergentes podem ser incríveis e entregar muito, a dica é conhecer as expressões de Nebbiolo da jovem Giulia Negri, são excelentes.

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Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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