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Já provou a uva Côt?

Fabien Jouves trabalha com filosofia biodinâmica na França e vinifica alguns rótulos por parcelas de acordo com o solo (Foto: Reprodução/Internet)

Publicado em 16/09/2021

Poucas uvas refletem tanto um país quanto a Malbec. Essa variedade é sinônimo de Argentina e, por décadas, está moldando o que nós conhecemos e sabemos sobre seu estilo. Muita gente ainda se espanta quando eu falo que a Malbec não é nativa de lá, mas, sim, da região de Cahors, no Sudoeste da França. Além disso, não foi nem a primeira região que ela chegou na América do Sul, ela foi levada do Chile provavelmente no meio do século XIX, por Michel Aimé Pouget.

Há cerca de 10 anos, fui visitar a Vinexpo, em Bordeaux, e encontrei um estande dos produtores da região de Cahors. Fiquei surpreso com a forma com que eles estavam começando a comunicar sua região, que estava claramente em decadência, com os jovens deixando as propriedades e indo para as cidades grandes. Ao mesmo tempo, alguns produtores do novo mundo estavam indo ao berço da Malbec, para produzir vinhos por lá também. Nesse estande, estava em letras grandes o nome Malbec e a referência por ser seu lugar de nascença.

A surpresa veio na forma como a uva é tradicionalmente chamada por lá, ela sempre foi chamada de Côt, entre outros sinônimos. Sinal de que eles estavam querendo mostrar ao mundo que também produziam uma uva famosa e não uma obscura do interior da França, apesar de ser a mesma.

A Malbec na Argentina chegou até a sofrer com a própria fama, virou monocromática, mais do mesmo, e, por alguns anos, me cansei de beber aqueles vinhos alcoólicos e amadeirados, com fruta extraída. A primeira taça impressionava, mas as seguintes eram sofridas. Uma garrafa raramente ia facilmente com menos de quatro pessoas. Hoje, claro, temos uma revolução de novos produtores fazendo vinhos mais frescos, com relação ao terroir, novos métodos de produção para o local, como fermentação com cachos inteiros, tanques de concreto e menos intervenção de madeira. O curioso é que são métodos há tempos empregados em Cahors, na sua região de origem.

Criar referência é tudo e, conhecendo a origem, podemos saber como essa uva realmente se comporta. Cahors é um local diferente de Mendoza em diversas maneiras; seu solo tem uma boa proporção de calcário Kimmeridgian no platô do Causses, por exemplo, mas também pedaços de marga calcária e ferro; o clima também é quente, porém temperado, com uma grande influência do Atlântico dando mais umidade no decorrer do ano. A Malbec (Côt) feita aqui é um tanto mais escura, tânica e com uma acidez mais elevada que a maioria dos argentinos. Até mesmo, por isso, ela não tenha feito tanto sucesso, precisava de mais tempo e não era tão “suave” e frutada quanto a dos hermanos.

Porém, novos produtores, alguns recém-chegados, outros jovens de famílias tradicionais da região, têm feito coisas incríveis adaptando métodos, separando micro terroirs por solo e idade das parreiras, e produzindo vinhos que refletem uma energia ímpar. São ótimas referências para aprendermos como a variedade é espetacular e pode ser fiel às suas origens de solo, clima e produção. Ah, além disso, são altamente gastronômicos!

Sugestão para conhecer uma verdadeira Cahors é provar os vinhos de Fabien Jouves e seu Mas del Périé. Ele é uma mente inquieta do local trabalhando com filosofia biodinâmica e vinificando alguns rótulos por parcelas de acordo com o solo.

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Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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