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Dissabores do clima na produção do vinho
Clima gelado, na Primavera, trouxe enormes prejuízos para vinivinticultores franceses

Nem o fogo junto ao parreiral amenizou o enorme prejuízo dos agricultores franceses nesta primavera (foto: divulgação)

Publicado em 18/05/2021

Você já parou para se perguntar tudo que envolve produzir um vinho? Temos centenas de fatores que influenciam a produção e a qualidade, mas sem dúvidas, o principal deles é o clima. Já escrevi por aqui que alguns dos melhores vinhos do mundo são produzidos em regiões com climas “marginais”, no limite dos fatores que trazem qualidade e, que geralmente, fazem com que as videiras se esforcem para proteger suas uvas, aportando mais polifenóis, acidez, cor, etc.

Muitas vezes não nos damos conta de que um enólogo tem poucas chances para fazer certo. O ciclo das videiras é bem definido, temos uma colheita por ano, ou seja, o produtor tem uma chance por ano para produzir o melhor possível. Traçando um paralelo com diversas outras atividades em que podemos tentar e recomeçar todos os dias, é um tanto drástico pensar que um enólogo pode fazer vinhos cerca de 35 vezes em toda sua vida.

Voltando a falar das dificuldades de cada ano, é exatamente aí que entra um dos fatores mais complicados em algumas das mais prestigiosas regiões do mundo: o clima. Tirando regiões desérticas, que possuem climas com menor variação ano após ano, as regiões vinícolas têm um fator de imprevisibilidade enorme, ainda mais nessas épocas de mudanças climáticas bruscas.

Um dos maiores desafios hoje é a maneira como as estações estão mudando de padrão. Temos muitas vezes invernos com alguns períodos mais quentes, o que provoca uma brotação precoce nas vinhas. Até aí tudo bem, se não fosse pela chegada de chuvas, granizos e geadas após o início do ciclo, onde as vinhas estão somente com os primeiros botões ou no início da floração. Nesse período, os danos podem ser enormes e inviabilizarem toda uma safra, pois é nos botões, e depois nas flores, que temos a base pra formação dos cachos.

Nos últimos anos, temos visto com maior frequência a chegada de grandes frentes frias após a brotação nas mais diferentes regiões europeias. O que antes era problema mais comum em regiões mais frias, como Champagne, Chablis e algumas partes do Loire, hoje praticamente todas as regiões estão sofrendo, incluindo os países vizinhos. 

Nas primeiras semanas de abril deste ano, uma das maiores ondas de frio atingiu principalmente a França. Esse frio atingiu diversas regiões que produzem variedades precoces, como Chardonnay e Pinot Noir, por exemplo. Essas videiras já haviam iniciado seu ciclo e, apesar dos brutais esforços dos produtores, houve uma enorme perda.

Para mitigar os efeitos de geadas, os produtores podem acender “velas” e fogueiras em toda a extensão do vinhedo, utilizar ventiladores para movimentar o ar frio que se acumula na parte mais baixa, próximo às videiras, e também utilizar um método de aspersão onde sprinklers jogam água em todo o vinhedo, fazendo com que congelem gerando calor latente e protegendo as gemas.

Neste ano, os produtores do Grand Cru Clos de Vougeot contrataram um helicóptero para permanecer em cima do vinhedo movimentando o ar.

Infelizmente, a onda de frio deste ano foi tão forte, trazendo temperaturas de -7ºC, que praticamente todo esse esforço foi em vão. A França declarou Desastre Agrícola, pois, centenas de milhares de hectares de diversas culturas, como peras e pêssegos, foram afetados.

Produtores da Borgonha e Champagne, como Thibault Liger-Belair, afirmou ter sido afetado em 2/3 de seus vinhedos, e Deutz, teve danos de até 30% nas suas videiras. As próximas semanas serão muito importantes para avaliar os prejuízos.

Eduardo Araújo

Certified Sommelier, e proprietário do The Wine Pub

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Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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