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Ceia de Natal harmonizada
Rótulos imperdíveis que deixarão o cardápio muito mais especial

Crédito de foto: Reprodução

Publicado em 11/12/2019

Incrível, já estou escrevendo a coluna de Natal! Ainda não tinha me dado conta de que o ano “acabou”. Agora é hora de tentar agendar as famosas festas de final de ano e os amigos secretos, passando por horas e horas de negociações de datas e compromissos de cada possível participante. Alguns encontros são marcados, outros ficam no quase e outros fugimos com estratégias bem definidas. Mas, temos uma data importantíssima em que tradicionalmente reunimos a família para rever aqueles que não encontramos desde o dia 24 de dezembro do ano passado.

Se sobrar algum vinho de todos os amigos secretos e festas de final de ano podemos levar algumas garrafas pra ceia de Natal. A dúvida é sempre sobre o que levar. Não só na dificuldade de encaixar vinhos para harmonizar com aquele carnaval de pratos influenciados pela cultura norte-americana ou europeia onde o Natal é celebrado abaixo de zero, mas também por saber que o risco de levarmos um bom vinho e bebermos aquele reservado chileno qualquer levado por um parente é enorme.

Esse último desafio é o mais difícil de contornar, mas o desafio da harmonização fica bem mais fácil quando temos um menu (des) construído pelo chef André Vasconcelos aqui nesta mesma página. Há muitos anos adoro a criatividade e a “mão” do André pra pegar clássicos e deixar com uma cara brasileira. Meu desafio é fazer o mesmo, trazer vinhos nacionais pra esta noite especial.

Para o salpicão de bacalhau, prato com ingredientes crus, cozidos, crocantes e com uma boa dose de azeite, pedimos um vinho coringa que tenha estrutura, acidez marcante e, neste caso, o toque do gás carbônico pra ajudar no equilíbrio e na limpeza da boca. Temos ótima oferta de excelentes espumantes no Brasil, mas minha sugestão é o Casa Valduga Sur Lie, espumante que fica no mínimo 30 meses em contato com as leveduras e vai ao mercado sem a retirada das mesmas, apresentando ainda mais textura, aroma de caju e toque amendoado, mas com excelente acidez.

Já no nosso prato principal, que é o arroz de peru, temos um ragout cheio de temperos dando aromas e sabores, a maciez da carne cozida com vinho, a cremosidade do arroz com a crocância da farofa e a gordura necessária. Aqui voltamos a buscar complexidade e, principalmente, boa acidez, pra dar água na boca e balancear a gordura e a cremosidade do prato. Penso em uma uva que vem ganhando destaque nas mão de bons produtores aqui do nosso estado: a Sangiovese. Ela possui uma acidez marcante e taninos firmes, muita fruta e pode apresentar especiarias e toques defumados se amadurecida em barricas de carvalho, como no caso da Leone di Venezzia. Outro exemplar catarinense fantástico é o Villaggio Bassetti Roberto.

E, pra adoçar a vida, o “pain perdu” de panetone. Aqui temos as gemas, o açúcar, a baunilha e, muito importante: o toque da fritura na manteiga. Buscamos algo que equilibre a doçura, mas traga notas de baunilha tostada e aromas intensos. Assim é o Miolo Late Harvest, que amadurece em barricas francesas. Produzido com uvas aromáticas da Campanha Gaúcha, traz a doçura necessária com os toques terciários complexos para harmonizar bem com o prato.

Só de pensar nessas harmonizações me deu água na boca! E o melhor: todos os vinhos cabem no bolso!

Feliz Natal!


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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