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Velha(o) sim, com orgulho, por dra. Amanda Lima

Seria anormal ou triste não passar pelo envelhecimento e, simplesmente, morrer (Foto: Internet/ Reprodução) **Clique para ampliar

Publicado em 04/08/2023

O ciclo da vida que (sempre) ouvimos é: você nasce, cresce, se reproduz e morre.

Assim, seco, simples. Como se fosse super fácil. Ok, fácil não é. Simples também não.

O correto talvez seria que o ciclo fosse: você nasce, cresce, se reproduz (se quiser ou não), curte a vida como bem quiser, realiza os sonhos que ainda não realizou e morre.

Terminei uma pós em Geriatria e Odontologia recentemente, e me “flagrei” fazendo um texto para uma amiga e paciente jornalista. Cheguei à conclusão, enquanto escrevia, que parecia palavrão escrever “velhice”, “velho”, “envelhecimento”. Isso também piorou quando mencionei “geriatria”. Chegamos a cogitar que muitos não gostariam de se enquadrar nisso.

Verdade? Pode ser. Porém besteira.

Besteira. Isso mesmo que você leu. Besteira.

Glória Maria que não acesse essa matéria do céu, mas ocultar a idade é bobagem.

Estamos todos envelhecendo, o tempo todo, a cada instante. Agora, enquanto você lê isto, por exemplo.

E que bom, e está tudo bem. Anormal ou triste seria não atravessar nem passar pelo envelhecimento e, simplesmente, morrer. Ter o ciclo que mencionamos lá no início, interrompido.

Nascer, e não crescer, e já morrer.

Nascer, crescer e não poder se reproduzir, e morrer antes. Ou imediatamente depois.

Por isso, hoje, em um estado um pouco contestador, questiono que:

Não deveríamos temer pronunciar palavras como “velho", velhice", "idade", "geriatria”.

Não deveríamos ter sonhos interceptados pelo tempo; eles deveriam ser realizados antes de falecermos, independente de qual sonho ele seja (sendo ele mega sena, conhecer um grande ator, viajar pelas ruelas de um pais que você não conheceu ainda, saltar de paraquedas, fazer uma aula de dança, se apresentar em um teatro,..)

Não deveríamos ter doenças neurais, nem demências, nem males como o nome alemão que não vamos mencionar: deveríamos morrer com nossa lucidez. Intacta.

Não deveríamos ter medo de ouvir que “somos velhos”, que estamos ficando velhos. Nem temer sinônimos. Que bom que estamos, pois é sinal de que estamos vivos. Só daríamos um salvo conduto para a ingenuidade das crianças, como quando meu filho maior, quando tinha 3 anos, perguntou pra avó (minha mãe):

“Vovó Rosane, você foi amiga dos dinossauros?”

Não deveríamos ter doenças. Nem ficarmos internados. Não deveríamos padecer de males nem sermos hospitalizados e, sim, ter a chance de dormir após uma vida bem vivida, e ter um sonho que mostrasse - como um flash - os grandes momentos da vida.

Pensando assim, as crianças deveriam somente padecer de gripe e pequenos males e viroses, nada que as fizessem ficar hospitalizadas.

Não deveríamos ter preocupações financeiras após uma vida de dedicação á família, ao trabalho, ao lar. A terceira idade deveria ser só para usufruir.

E, pensando bem, não deveríamos chamar de melhor idade. Melhor pra quem? Cada um que escolhesse a sua melhor idade em vida. E se você acha que viver 80 anos “já esta bom”, prepare-se para a 4ª e 5ª idade, pois poderemos em breve viver até os 100, 110, 120 anos. Quem duvida?

Também não deveríamos apoiar essa “velhofobia”. Hoje – perdoem os psicólogos - tudo é fobia. Pois bem, se instaurarem uma velhofobia, não deveríamos ser acometidos, e deveríamos ter orgulho dos nossos “velhos” e de sermos “velhos” também. Afinal, como eu mencionei antes, os sortudos que viverem também ficarão velhos.

Não deveríamos ter tabu de sexo, relacionamentos, prazeres da vida, nem questões intimas nessa idade. Na verdade, como já passamos da idade de ter vergonha e preconceito, que os idosos tivessem liberdade para serem como quisessem assim ser.

Também não deveríamos ter sonhos talhados, vozes cortadas, opiniões menosprezadas.

Também deveríamos ter mais clubes e associações, grupos e pessoas com afinidades reunidas: não só para o dominó ou para bailões (aliás, onde estão os bailões?), mas para o grupo do vinho, da dança, da música, do crochê, da arte.

Ao ler tudo isso, se você é um senhor ou uma senhora, vai pensar:”isso tudo é sonho, é bobagem”, ou “jamais será assim”. Pode ser. Mas eu acredito no oposto disso: se estamos vivendo mais, se todos nós – no mundo todo - vamos viver mais, precisamos encontrar uma maneira de viver melhor. Planejar essa vida melhor.

E ai meu contraponto é :

Para esse planejamento acontecer, alguém precisa começar a sonhar com essa realidade.

Que sejamos nós esses sonhadores.

Sonhadores de sermos e estarmos ficando “velhos”.

 

Amanda Lima
@dentistaamandalima

 

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Sobre o autor

Amanda Lima

Cirurgiã dentista - Especialista em prótese dentária / Pós graduada em odontogeriatria


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