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Prevenção em odontologia: após os 60 anos, quais são os cuidados devo ter com minha boca e meus dentes?


Publicado em 20/07/2018

A Odontologia está percebendo que a população de idade mais avançada está à procura de cuidados com profissionais capacitados para realizar tratamentos específicos em pessoas idosas. A atenção à saúde odontológica do idoso busca desenvolver ações na promoção do envelhecimento saudável; prevenção de doenças; recuperação da saúde dos doentes; reabilitação daqueles que venham a ter a sua capacidade restringida, de modo a garantir que avanços odontológicos permitam que as pessoas possam desfrutar uma vida com mais qualidade. A receita é uma só em qualquer idade: higiene bucal adequada e visitas regulares ao dentista. Não é natural os dentes caírem. Se forem bem cuidados durante toda a vida, permanecerão saudáveis.

Higiene bucal na terceira idade: o que muda?

Muita coisa muda quando chegamos à terceira idade, O corpo se transforma, a experiência aumenta, e os hábitos, muitas vezes, já não são mais os mesmos. Nessa fase, alguns cuidados maiores com a saúde passam a ser necessários. Isso também vale para a saúde bucal. As consultas ao odontogeriatra devem começar aos 60 anos, para que esse profissional oriente sobre as precauções necessárias e previna contra possíveis problemas. Com tantos fatores mudando nessa etapa da vida, será que a higiene bucal também precisa ser alterada?

A higiene bucal na terceira idade deve ser feita com escova e fio dental, normalmente. Para isso, é preciso escolher a escova dental ideal, com cabeça arredondada e cerdas macias, e um bom creme dental com flúor. Na hora da escovação, a boca pode ser dividida em quatro partes, e cada uma delas deve ser limpa por aproximadamente 30 segundos, com movimentos de vai e vem circulares. Não se esqueça de usar também o fio dental! Ele deve ser passado diariamente, para evitar o acúmulo de placa bacteriana, que pode resultar em diversos problemas bucais se não for removido.

É fundamental realizar a limpeza adequada da prótese

Esse acessório tem a função de repor a estrutura dentária do paciente, recuperando seu sorriso. Mas é bom lembrar que nem todo mundo que atinge essa idade precisa usar prótese. Para os que utilizam, alguns cuidados específicos precisam ser tomados. A higiene da prótese deve ser feita com ela fora da boca. Existem no mercado opções de materiais que ajudam, mas ela pode ser feita com a pasta de dente comum.

O enxaguante bucal pode se tornar um grande aliado

Com a idade aumentando, em alguns casos a habilidade motora pode ficar um pouco prejudicada. Devemos levar em conta essa diminuição da destreza manual com o tempo, pois isso leva à dificuldade na higienização. Nos casos em que o idoso está acamado por algum motivo, ou que apresenta problemas periodontais recorrentes, como a gengivite e a perda óssea, é indicado o uso do enxaguante bucal para complementar a limpeza da boca. Outro item que pode ajudar nessa fase é a escova de dentes elétrica. Ela precisa de menos esforço para ser manuseada, uma vez que já realiza a maior parte dos movimentos. Além disso, com seu uso, o processo se torna mais rápido, sem deixar de ser igualmente eficiente.

Maiores riscos

Algumas doenças em outras partes do corpo podem comprometer a saúde da boca, e isso é mais frequente depois dos 60 anos. Por outro lado, com o acompanhamento profissional, é possível prevenir esses efeitos e garantir qualidade de vida aos idosos. Os portadores de diabetes, por exemplo, têm, aproximadamente, quatro vezes mais chances de sofrer com inflamações nas gengivas e perdas do suporte ósseo dos dentes. O aumento de glicose no sangue deixa o sistema imunológico vulnerável a processos infecciosos causados por bactérias e fungos. É este quadro que favorece o surgimento de doenças periodontais (gengiva).

Por sua vez, a periodontite é uma inflamação gengival que, em casos mais graves, pode levar à perda do osso de suporte dos dentes. Isso pode ocorrer mais na terceira idade, mas não em decorrência do envelhecimento, e sim pela falta de cuidados preventivos em relação à saúde bucal. Ao cuidar da higiene da boca também é possível afastar doenças como a cárie – umas das maiores responsáveis pela perda dos dentes. Os procedimentos preventivos precisam ser bem realizados nessa fase da vida, desde a escovação, uso do fio dental/escova interdental, limpeza correta das próteses e mucosas.

A vilã

Alguns desses problemas podem estar relacionados com a xerostomia, conhecida como boca seca. A diminuição do fluxo salivar é causada pelo efeito colateral de cerca de 60% dos remédios que o idoso ingere normalmente. Além da falta de saliva estar ligada a problemas como cárie, periodontite e mau hálito, a complicação pode ser ainda maior. Com a xerostomia, as próteses podem se soltar, provocando mudanças na dieta, que levam a desnutrição e problemas estomacais nesses indivíduos.

Multidisciplinaridade

Uma abordagem global faz toda a diferença no tratamento ao idoso. O paciente necessita de um tratamento mais individualizado, em que seu histórico médico é levado em consideração. É importante que o dentista tenha um bom relacionamento com os demais médicos do paciente, porque nem sempre ele [o paciente] vai dizer ao seu dentista se está com o diabetes controlado, por exemplo. E essa é uma informação importante, que pode ter influência no tratamento.

O caminho inverso também é importante. O principal problema bucal que afeta os idosos, a redução do fluxo salivar, é efeito colateral do consumo contínuo de remédios receitados pelos demais médicos para controle de hipertensão e diabetes, doenças crônicas comuns na terceira idade. Como consequência dessa redução, ocorre maior incidência de cáries e lesões na mucosa da boca, que sustentam as próteses, levando o paciente a sentir dor.

Por causa da dor, o paciente para de usar a prótese e, portanto, deixa de consumir todos os alimentos importantes para uma dieta saudável. Com isso, ele fica mais suscetível às doenças. Também pode acontecer o aumento no consumo de certos nutrientes, pois a saliva é importante na limpeza das papilas gustativas, que são responsáveis pelo reconhecimento do sabor dos diferentes alimentos. Pouca saliva significa pouca limpeza nessas papilas e o resultado é que a percepção de sabores como doce ou salgado fica prejudicada. Assim, a pessoa idosa passa a temperar mais a comida, podendo exagerar no açúcar ou no sal e tendo problemas no controle de diabetes ou hipertensão.

Da nutrição ao bem estar psicológico

Nossa profissão só descobriu como prevenir cáries e problemas de gengiva nos anos 1950. As pessoas que hoje são idosas não tiveram contato com essas descobertas e chegavam aos 30 anos de idade já com os dentes irremediavelmente danificados ou com dentaduras. O grande problema das próteses é que nem sempre os pacientes cuidam dela. Próteses muito antigas não permitem mastigação eficiente. A mastigação ineficaz impede boa absorção dos nutrientes da dieta, função muito importante para fortalecer a saúde dos idosos.

Os médicos pedem para o idoso manter uma dieta balanceada, consumir muitas fibras, mas se os dentes, ou a prótese, não estão bem, a pessoa não consegue seguir essas orientações. Além da importância fisiológica, uma boa dentição é importante para o idoso para garantir  boa aparência e melhora a fonética. Dentes quebrados influem na passagem do ar, resultando em alterações na fonética e impedindo boa compreensão do que a pessoa quer dizer. Com boa aparência, e fala melhorada, o paciente recupera a auto-estima, se socializa mais, e pode até tentar se reinserir no mercado de trabalho.

Essas atividades são importantes para o idoso, que está mais sujeito à depressão, por exemplo. Não apenas a carência nutricional contribui para as doenças. A saliva tem propriedades antibióticas, capazes de controlar as bactérias que habitam a boca. Essas bactérias podem alimentar os problemas de pulmão do paciente, então a boca e a língua devem estar sempre limpas. Mas nem sempre os profissionais que cuidam do idoso sabem disso. É por isso que temos que compartilhar a informação.


Sobre o autor

Dr. Ibrahim Jamil

Dr. Ibrahim Jamil, CRO 6900/SC, é especialista em Implantodontia-ortodontia e Perito Odontológico


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