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Morder a fronha? Não, morder a toalha, por Dra. Amanda Lima
Leia pra entender

Uma noite com bruxismo, na charge de Ed Carlos ***CLIQUE PARA AMPLIAR

Publicado em 28/01/2024

Não vou entrar em méritos profissionais, nem enaltecer meu atendimento (quem é meu  paciente sabe rsrs). Mas além da odontologia de hoje ter cientificamente evoluído, ir ao dentista pode ser desagradável, mais do que ir ao ginecologista ou ao urologista. Mas eu  explicarei em 3 exemplos. 

- Esse dente?

- Fiz num dentista que me cobrou menos, pois estava enfrentando uma crise financeira, e foi como conseguir arrumar na época.

- Essa restauração?

- Quebrei o dente, aliás esse e mais outros, porque quando me separei desenvolvi um bruxismo e quebrei vários dentes.

- Essa erosão?

- Ah meus dentes desgataram depois que comecei a tomar shot de limão em jejum todo dia, fiquei fora do peso muitos anos e estou tentando emagrecer agora.

Essas frases, os pacientes nos contam ao explicar um dente quebrado, uma restauração, uma prótese, enfim. Ir ao dentista revela intimidade, mesmo que você não saiba disso. 

Tive um paciente homem, na faixa de 50 anos, que se separou aos 40 e poucos, com 2 filhos, mas que quis “encerrar” sua vida amorosa na época. Passou uns 10 anos sem namorar ninguém. Isso só soube quando ele mesmo me contou, 10 anos depois, agora com uma nova namorada. 

- Dra Amanda, lembra daquela placa de bruxismo que fizemos há uns 10’anos atrás quando me separei? Pois bem, continuou ele, usei muito. Foi muito útil na época. Agora preciso uma nova. Assumi um emprego bem desafiador e sinto que meu bruxismo voltou. Junto com isso voltei a namorar e vamos viajar!

Entenda: era um paciente reservado e que pouco falava, então isso já parecia quase uma missa revelação.

Moldamos, mandamos pro laboratório, chegou a placa rígida pro bruxismo .

Chegou o dia da consulta, fiz a entrega da placa. Ajustes, uns papos, orientações de uso, explicações e mais ajustes.

Meses depois volta esse paciente, para uma profilaxia (limpeza dos dentes). E rindo me diz assim: 
- Doutora, pensei em ti várias vezes na viagem com minha namorada. Lembra que me dissestes para levar a placa e não esquecer de usar? 

- Pois eu  esqueci! Não coloquei na mala. E aí, deitado com ela, antes de dormir, comecei a colocar uma toalha de rosto entre os dentes, para não quebrar nenhum, nem fazer barulho e atrapalhar o sono dela. Estava indo bem. Eu esperava ela dormir e colocava a toalha. Até que ela um dia despertou e me viu mordendo a toalha. Achou esquisitíssimo. Tive que explicar tudo sobre o bruxismo pra ela não me achar um cara estranho. 

Rimos muito por isso. Deu tudo certo. Ainda estão namorando; e ela virou paciente também. 

Por isso (e por todos os mil motivos que você já sabe) é importante escolher um(a) profissional que tenha (além de ética, profissionalismo e dedicação) empatia com você. 

Que você aprecie ir, conversar, e através do seu sorriso “entregar” o ouro rsrs.  Parece que não? Pense bem.  Um profissional que o acompanhe por toda a vida, até seus 100 anos. Ahhhhh isso seria bom não? 

Exato. 

Por isso (e por mais vários outros motivos) estou adorando estudar mais sobre geriatria e Odontogeriatria. É nosso futuro próximo, certo? E que bom. Que aos 100, ainda tenhamos amigos vivos para celebrarmos, que consigamos não depender de outros para atividades básicas, que ainda tenhamos lucidez, memória e profissionais que cuidem de nós com profissionalismo e afeto. (anota aí meu nome?)

Enquanto os 100 não chegam,
Te espero por aqui. 

 

Texto por Dra. Amanda Lima (dentista)

 


Sobre o autor

Amanda Lima

Cirurgiã dentista - Especialista em prótese dentária / Pós graduada em odontogeriatria


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