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Um catarinense que odiava o que fazia
Grande nome do Jornalismo e colunista do Imagem da Ilha, Raul Sartori completa 50 anos de carreira

“Enfrento obstáculos. Tem pessoas que sempre acham que podem mandar e desmandar, inclusive no que as pessoas pensam. Mas não dou trégua a isso e sigo adiante”, destaca Raul Sartori (Foto: ACI/ Reprodução) **Clique para ampliar

Publicado em 14/06/2023

Nosso Personagem da Semana é uma figura muito conhecida pelos leitores do portal Imagem da Ilha e pelos catarinenses, por sua autenticidade – e muitas vezes – polêmica -, ao informar sobre Política e Economia. Com uma trajetória na comunicação que completa 50 anos, o jornalista Raul Sartori conta que entrou na área por acaso.

“Ao me formar no antigo curso Normal, em Nova Trento (sua cidade natal), aos 17 anos, a opção que me restava era ser professor ou continuar a trabalhar na roça, o que meu pai, agricultor, não aceitava. Não queria que nenhum de seus filhos fosse um sofrido agricultor como ele”, conta. Então, Raul escolheu ser professor numa escola isolada no interior da cidade, onde lecionou por seis meses. 

Porém, seu próximo destino seria Florianópolis, pois havia passado no vestibular da UFSC, no então novo curso de Ciências Sociais. A escolha foi feita porque queria ser pesquisador, “não verdadeiramente cientista, mas pesquisador do Ibope, coisas assim”, lembra. Para se sustentar na nova cidade, voltou a dar aulas durante um ano, mesmo contra sua vontade. “Odiava o que fazia e sempre estava em busca de outro emprego. Fiz concurso e fui ser operador de raios-x. Consegui trabalhar por cerca de dois meses no Hospital Governador Celso Ramos. 
Odiava o serviço”, lembra.

Uma luz no fim do túnel surgiu quando o jornal O Estado fez um concurso de conhecimentos gerais só para universitários que queriam ser jornalistas. Na época, em 1973, ainda não havia curso de jornalismo em Florianópolis. Dentre os mais de 150 candidatos, Raul ficou entre os quatro primeiros. “Tudo parecia um sonho”, afirma. Raul conta que, quando viviam em Nova Trento, ele e seus irmãos eram muito informados, ouviam as principais rádios brasileiras (Bandeirantes, em especial, com seu radiojornalismo) e estrangeiras (Voz da América). Ele acredita que isso contribuiu para que se saísse muito bem na prova e fosse selecionado.

Raul Sartori permaneceu no jornal O Estado até 1983, para depois ocupar outros cargos, dentre eles como colunista político durante 18 anos do jornal A Notícia, e como correspondente de Santa Catarina dos jornais O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e Folha de S. Paulo, e da revista Istoé. Atuou na área pública como assessor de comunicação do Governo do Estado nas gestões dos governadores Colombo Salles, Jorge Bornhausen, Esperidião Amin e Vilson Kleinubing, e no Legislativo Municipal de Florianópolis, por dois anos.

Projetos de vida

“Florianópolis passou a ser a cidade da minha vida. Amo esta cidade, onde nasceram meus filhos e netos”, conta. Mesmo morando na capital catarinense, ele sempre manteve um vínculo forte com a cidade onde nasceu.  Em 2008, criou O Trentino, um jornal impresso semanal, com distribuição gratuita, ainda em atividade em Nova Trento.

Com personalidade reservada, aos 71 anos Raul tem entre seus projetos de vida, continuar as atividades que desempenha atualmente à frente do seu jornal e também como colunista do portal Imagem da Ilha e de alguns jornais impressos do Estado, como O Município, de Brusque, e A Gazeta, de São Bento do Sul. 

Ele conta que gostaria de ter mais tempo para realizar outras atividades que lhe dão prazer, como reler os livros que tem, ler outros que adia há anos, ouvir suas músicas preferidas (sinfonias) e assistir a documentários sobre gente e natureza. Outro desejo é escrever um livro de pequenos contos a partir da realidade que vive “muito de perto” em Nova Trento, as riquezas locais e também sobre as pequenas misérias.

Momentos desafiadores da carreira

Os momentos mais desafiadores em seus 50 anos de profissão, conta, foram nos anos 1973 a 1984, “quando imperou a censura entre nós”, destaca. “Muitos textos, arduamente cavados, não eram publicados. Sempre se tinha a sensação de que éramos seguidos. Não me surpreendi com a inesperada visita da Policia Federal duas vezes, à noite, no apartamento de aluguel na Rua Antonio Luz. O agente achava que como eu era estudante de Ciências Sociais e jornalista, era socialista”, relembra. 
 
Porém, nos anos à frente, começou a ter autonomia em suas publicações e, por isso, está livre para receber todos os tipos de retornos de seus leitores. “Sou apolítico – mas mesmo assim todo dia tem alguém me taxando de comunista, bolsonarista, lulista e outros epítetos – considerações típicas de quem lê a coluna de vez em quando e não conhece o ‘histórico’ dela”, define.

O jornalista destaca que precisa sempre provar que é possível fazer um jornalismo honesto. “Enfrento obstáculos. Tem pessoas que sempre acham que podem mandar e desmandar, inclusive no que as pessoas pensam. Mas não dou trégua a isso e sigo adiante”.

Balanço dos 50 anos

Sobre as cinco décadas de carreira na comunicação, ele resume: “Não me arrependo de nada, nem do que fiz de ruim porque não posso voltar no tempo e fazer diferente. O que fiz de ruim me ajudou a refletir para fazer melhor adiante. Fui e sou feliz no jornalismo e grato por tudo o que ele me deu. Durmo o sono dos anjos, sem remorsos  e pesadelos”, finaliza.

Texto escrito por Gabriela Morateli dos Santos

Da redação

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