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Kobra, Galileu Galilei e o poema de Drummond, por Luzia Almeida

O mural sobre Galileu Galilei pintado por Kobra, na Itália, faz menção ao poema 'O amor bate na aorta' (Foto: Internet/ Reprodução) **Clique para ampliar

Publicado em 17/11/2023

Os séculos não foram capazes de apagar a genialidade de Galileu Galilei que desponta das mãos do brasileiro Eduardo Kobra. Sim, para apagar esse gênio será necessário mais que tempo. Será necessário um outro tipo de fenômeno que a Física ainda não descobriu. E, enquanto a Física pensa ou a Filosofia anda em círculos, as pessoas podem admirar a arte de quem nasceu com sangue-azul, quer dizer, com sangue-grafite nas veias.

E, quando um gênio é despertado de sonos seculares pelas mãos mágicas de outro gênio — da arte — fica consolidado o encontro das estrelas e, isso, na Itália. Já pensaram em algo mais abrasador? Mas, esperem que a orquestra ainda não está completa: ainda falta um instrumento poético neste mural. Primeiro, vamos lembrar a fala do gênio italiano — “O sol, com todos aqueles planetas girando em torno dele e dependentes dele, ainda pode amadurecer um cacho de uvas como se ele não tivesse mais nada no universo para fazer” — para depois olharmos, como raposas, para as uvas do poeta: “Entre uvas meio verdes, / meu amor, não te atormentes. / Certos ácidos adoçam / a boca murcha dos velhos / e quando os dentes não mordem / e quando os braços não prendem / o amor faz uma cócega / o amor desenha uma curva / propõe uma geometria” poética.

Bem! De curvas e de geometria, Galileu Galilei entendia e foi a partir dos seus estudos que hoje temos a fórmula “Q=m.v” (movimentos dos corpos) e essa fórmula também contempla os versos de Drummond. “Amor é bicho instruído. / Olha: o amor pulou o muro / o amor subiu na árvore / em tempo de se estrepar. / Pronto, o amor se estrepou”. Quanto movimento! Todavia, se para o físico italiano este estudo era real a partir de massa, de corpo e de velocidade... eu paro diante da rima do poeta porque sua caneta é do tamanho de uma torre que, de tão alta, alcançou meu coração.

A poesia também é massa, há movimento nela. E a Física não pode concebê-la na perspectiva da metáfora, porque a poesia é ficção e a Física é real. Mas, há quem faça a união dessas áreas com a palavra que “vira o mundo de cabeça / pra baixo” de modo tão fácil, tão simples... só com o movimento da caneta e ainda nos consola: ”Meu bem, não chores, / hoje tem filme de Carlito!”  

Da Física ao impulso que faz o Kobra pintar — ou grafitar — está o quilômetro do seu talento. Dizendo de outra maneira, ele fez uma ressignificação do gênio com um binóculo metaforizado em torre, quer dizer, a metáfora que é um tipo de ficção ou poesia define o alcance do talento do artista. Ele faz um tipo de mágica sem cartola. É pura onda colorida que se espraia nos olhos de quem passa e sonha. Ele não desperdiça imagem... vai buscar o seu ouro nas minas do passado. O ouro de Kobra é como um lagar, ele mesmo pisa as uvas, diante do sol, no reino europeu para um brinde com o vinho mais velho do planeta. Um brinde a todos que se movimentam a partir da lógica do sentimento e eu torno ao poeta: “O amor bate na porta / o amor bate na aorta, / fui abrir e me constipei”. O poema “O amor bate na aorta” de Drummond é um tipo de equação para desesperar os desatentos que pensam que só números importam. Não! Há mais, muito mais que estrelas e torres!...

Eis a aventura da Física: a recuperação de uma fórmula que pode calcular a quantidade de movimento sem tombar para o lado e assim...

Brindamos aos gênios!

      

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Sobre o autor

Luzia Almeida

Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação


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