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Guardião da natureza
Paulo Lindner se rendeu aos encantos das artes plásticas após experiência de anos como guia da floresta

A preservação da natureza está presente nos desenhos e também nas telas utilizadas pelo artista plástico, que são de lonas de PVC (Foto: HBN/ Imagem da Ilha **Clique para ampliar

Publicado em 14/12/2022

Uma história inusitada contada por ele mesmo em tom de nostalgia. Quem vê Paulo Trajes Lindner, 60, hoje, não imagina o que ele fazia há algumas décadas. Na Serra Dona Francisca, ele avistava ladrões de palmitos e caçadores de animais. Porém, esse flagra não passava batido. Ele era um informante da Polícia Militar juntamente com o amigo Valdir. “Íamos para o mato e quando tinha sinal que eram mais de quatro caçadores ou ladrões, voltávamos, descíamos a serra, ligávamos para a PM e voltávamos para prender os caras”, conta.

Paulo destaca que o amor pela fauna e pela flora fazia os riscos que corriam valerem a pena. “Em 1980, por exemplo, não escutávamos um pio de passarinho. Hoje, toda a fauna voltou a habitar a região: pássaros, antas, porco do mato, veado. Tenho depoimentos de moradores que dizem que, graças ao meu trabalho e do Valdir, isso voltou a acontecer”.

Essa missão começou na década de 1970, quando ele tinha 18 anos, e foi finalizada em 2005, por conta do pedido de sua esposa, Ana, que não aprovava o que o marido fazia.

Também por influência de Ana, em 2013 ele lançou uma grife de camisetas com o objetivo de chamar a atenção das pessoas para a importância das florestas. “Eu virava a noite desenhando. Um dia vim pra Floripa e mostrei os desenhos para uma amiga que me incentivou a pintar”, conta.

Então ele voltou para Joinville (SC), onde mora, e comprou telas, tintas e pincéis e pensou: “vou viver disso aqui”. Na época, Paulo tinha uma empresa de construção civil com 18 funcionários contratados. Com a decisão tomada, ele fechou a empresa, pagou os funcionários e foi atrás do novo objetivo de vida. “A partir daí eu passei a viver exclusivamente da minha arte”. As telas utilizadas por Paulo Lindner são de lonas de algodão, uma forma sustentável de reutilizá-las, já que ganha de caminhoneiros.


Paulo Lindner escreve a "Oração da Mata" em um painel gicante que foi destaque no evento Rio+20

 

A preservação das florestas sempre foi seu foco principal e tema de muitas reflexões.  “Esse modelo de crescimento desordenado das cidades... sem florestas vai se perdendo a qualidade de vida”, salienta.

Cacos da Mata

Seu projeto, intitulado “Cacos da Mata”, é o resultado da indignação de Paulo Lindner com a degradação que foi acontecendo ao longo dos anos e com a intenção de chamar a atenção para a importância da preservação da natureza.

Toda a arte de Paulo é baseada no conceito de preservação. Ele conta que o grande responsável pelo encanto que tem pela natureza é seu pai, que é madeireiro e preserva 12 mil hectares de florestas na Serra da Dona Francisca desde a década de 1960. “Ele queria que eu fosse madeireiro e eu não. Mas ele me ensinou esse amor, ele abraçava e beijava árvores. Na época eu achava que ele era maluco, mas hoje eu faço isso”, ri.

A primeira unidade de conservação do Brasil, homologada em 1979, na Dona Francisca, foi oriunda dos cuidados de seu pai, quando o então Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal reconheceu suas florestas como refúgios particulares de animais nativos.


Alunos de escola municipal de Joinville 
fizeram uma releitura dos tbalhos do artista para decorar a escola (Foto: Acervo pessoal)
 

Educação ambiental

O artista plástico define “Cacos da Mata” como um projeto de arte-educação ambiental direcionado principalmente para escolas e empresas com o objetivo de difundir o conhecimento sobre a importância da natureza e o papel das pessoas diante dela.

Em 2012, Paulo participou do evento Rio + 20, quando o seu projeto ganhou a participação de estudantes de uma escola municipal de Joinville. Durante seis semanas, os 1,3 mil alunos da Escola Ada Sant'anna da Silveira tiveram contato com as obras do artista e fizeram uma releitura desses trabalhos para decorar a escola.

Da parceria com o comitê catarinense para a Rio+20, da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), surgiu a proposta de fazer o painel gigante de lona de caminhão pintado por algumas dessas crianças. O painel, uma lona de caminhão em algodão com 96 m², foi coberto por 24 desenhos coloridos e uma "oração da mata", e estendido no Aterro do Flamengo. A intenção foi provocar uma reflexão das pessoas sobre a importância das florestas para a qualidade de vida das presentes e futuras gerações.

Ao final do evento, Paulo trouxe a lona de volta para Joiville, onde ficou exposta por alguns meses no Centreventos Cau Hansen e depois direcionada para a Escola Ada Sant'anna da Silveira.

Por Gabriela Morateli dos Santos

 

 

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