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Saneamento Básico x Crescimento Urbano, por Fernando Teixeira

Crescimento Urbano x Saneamento Básico – um permanente embate (Foto: Fernando Teixeira) **Clique para ampliar

Publicado em 21/06/2023

O século XIX estava quase chegando ao seu final, e Florianópolis, à época uma pequena cidade com pouco mais de 25 mil habitantes, buscava firmar-se como a capital dos catarinenses. Se para se chegar aos singelos povoados localizados no interior do município era preciso percorrer longos e difíceis caminhos, o Distrito-sede já possuía uma estrutura urbana mais adequada às exigências de sua natureza, enquanto polo administrativo e comercial da região.

Entretanto, apesar dos avanços verificados, uma questão ainda era tratada de forma incipiente e em nada se adequando aos novos tempos que estavam por vir: as precárias condições verificadas nos aspectos sanitários e ambientais em que se encontrava o sítio em análise. Para se ter uma ideia, era prática comum que todos os resíduos e esgotos produzidos pelas famílias fossem lançados ao mar, nas praias mais próximas, em cursos d’água, em áreas pantanosas ou mesmo nas ruas à espera de uma enxurrada que os levassem para mais longe.


Estação Elevatória de Esgotos construída em 1913 – Praça dos Namorados Beto Stodieck (Foto Fernando Teixeira)

Até mesmo alguns trapiches foram construídos para que os esgotos pudessem ser lançados um pouco mais afastados da costa. Era também comum que as residências fossem edificadas de costas para o mar, facilitando-se dessa forma o descarte, nas baías, de tudo aquilo que não possuía mais serventia. No início do século XX, mais precisamente entre os anos de 1910 e 1916, verifica-se uma verdadeira revolução nesse setor: a implantação, na porção central do município, do primeiro sistema de coleta e tratamento dos esgotos sanitários.

Esse fato colocou Florianópolis, naquele momento, na vanguarda do saneamento no Brasil. Iniciado no governo de Vidal Ramos e concluído na administração de Felipe Schmidt, o audacioso plano contava também com incinerador para tratamento dos resíduos sólidos, além do abastecimento de água para a região. Ainda hoje é possível ver as marcas desse período histórico, pois as três estações elevatórias que compunham o sistema mantêm-se de pé. Uma na Praça Celso Ramos, outra na Praça dos Namorados Beto Stodieck e a terceira na Praça Fernando Machado, todas no Centro da Capital.

Muitos esgotos ainda são lançados às baías através de rios e canais, sem tratamento (Foto Fernando Teixeira)

Em 1923 esse sistema já apresentava problemas, principalmente em decorrência do crescimento populacional. Já em 1951, a estação de tratamento foi totalmente desativada e novamente todo esgoto produzido pelos moradores voltou a ser lançado nas águas das baías Norte e Sul. Somente em 1978, começaram a ser implementadas novas ações no sentido de se buscar soluções que pudessem atender à  grande demanda, verificada sobretudo pelo aumento não só da população local, como também do número de turistas que se deslocam todos os anos a Florianópolis.

Em 1990 foi inaugurada, no Aterro da Baía Sul, uma nova estação de tratamento de esgotos, atendendo à região central da cidade e bairros circunvizinhos. Enquanto isso, a porção continental do município vem há algum tempo sendo atendida por estações localizadas em seu próprio território. Outros sistemas independentes também foram sendo implantados ao longo desse período, como por exemplo os de Jurerê Internacional, Canasvieiras, Lagoa da Conceição e Base Aérea.

Não obstante as ações desenvolvidas e os investimentos realizados pelos órgãos responsáveis, tendo como finalidade suprir o setor com a infraestrutura necessária, o que se verifica é que ainda estamos distantes de atingir a cobertura de todo o território municipal com um eficiente sistema de coleta e tratamento de esgotos.


Estação de Tratamento de Esgotos – CASAN (Foto Divulgação CASAN)
 

Enquanto o abastecimento de água foi praticamente universalizado e os resíduos sólidos possuem destinação adequada, o município de Florianópolis conta com apenas 46% de seu esgoto tratado, e a meta da CASAN é que, se tudo der certo, somente em 2032 tenhamos 100% de cobertura nesse setor.

Com a aprovação do novo Plano Diretor Municipal, o qual incentiva a verticalização e uma ocupação ainda maior dos territórios já consolidados na Ilha de Santa Catarina, esse problema tende a ganhar maiores proporções. É inadmissível que a nova carta que define os rumos do município não venha acompanhada de um Plano de Saneamento que contemple as novas exigências que esse crescimento irá demandar.

Não é possível que, com toda a tecnologia e conhecimentos disponíveis, ainda tenhamos parte considerável de nossos esgotos sendo jogados diretamente em praias, baías,  rios e córregos, como no início do século passado. Investimentos se fazem necessários e urgentes para mudarmos de vez essa triste realidade.       

Texto de apoio: O Saneamento Básico na Ilha (Elsom Bertoldo dos Passos e Flávia Guimarães Orofino)       

 

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Sobre o autor

Fernando Teixeira

Formado em Arquitetura e Urbanismo (UFSC), mestre em Geociências e Doutor em Educação Científica e Tecnológica (UFSC), natural de Florianópolis. Atualmente tem se dedicado à fotografia.


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