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Mobilidade urbana da Capital, por Fernando Teixeira
Infraestrutura do município não acompanha as transformações provocadas pelo aumento acelerado de moradores e visitantes

Por conta de seus atrativos naturais e da constante exposição na mídia nacional, Florianópolis atrai anualmente um grande contingente de pessoas (Fotos: Fernando Teixeira) **Clique para ampliar

Publicado em 31/08/2022

Assim como outras médias ou grandes cidades brasileiras, Florianópolis tem sentido, nas últimas décadas, os reflexos da forte migração no país. Grande parte do contingente de pessoas que vêm para cá é oriundo do campo e, principalmente, de cidades menores, que vêm em busca de uma nova oportunidade de vida/trabalho.

Além disso, por conta de seus atrativos naturais e da constante exposição na mídia nacional como uma das cidades com melhor qualidade de vida do Brasil, o município também tem recebido considerável número de profissionais liberais oriundos de centros maiores, que mesmo não exercendo aqui suas funções, acabam trazendo suas famílias e estas fixando residência.

Nas últimas décadas, o país tem passado por modificações substanciais no modelo de ocupação de seu território. Hoje possuímos aproximadamente 85% da população vivendo em cidades, contra apenas 15% habitando o campo. Dados oficiais dão a dimensão de como essa questão tem atingido a capital catarinense. Se em 1960 a população era de 98.000 pessoas, em 1990 esse número já chegava a 255.000 e, em 2022, já ultrapassa a marca de 515.000 habitantes, ou seja, um aumento superior a cinco vezes o constatado há apenas seis décadas.


O crescimento populacional acelerado e a ausência de um processo contínuo de planejamento provocaram fortes reflexos na mobilidade
 

Diferentemente desse crescimento verificado em termos populacionais, a infraestrutura do município não tem acompanhado as transformações que possam atender, a contento, essa grande quantidade de pessoas que se deslocaram e se deslocam para cá, todos os anos. O crescimento populacional acelerado e a ausência de um processo contínuo de planejamento, levaram Florianópolis a atingir um modelo de urbanização desordenado, com fortes reflexos na mobilidade.

Evidentemente, esse problema não está apenas relacionado ao caos urbanístico que estamos vivenciando por conta das dificuldades anteriormente mencionadas. Grande parte dele podemos creditar a um modelo que privilegia o transporte motorizado individual e da forte presença da indústria imobiliária no município.
 


Modelo viário da Capital privilegia o transporte motorizado individual 
 

Com relação ao primeiro item, o que temos visto no Brasil, nas últimas décadas, é uma tendência em se privilegiar a execução de estruturas rodoviárias, em detrimento de outras opções, como por exemplo, a ferroviária. Em Florianópolis, isso não é diferente. Dados apontam que em Santa Catarina circulam atualmente, por ruas e avenidas, aproximadamente 5,5 milhões de veículos automotores. Somente na capital catarinense, no ano de 2021 foram licenciados quase 6 mil novas unidades, atingindo-se um total de aproximadamente 350 mil veículos.

No quesito relacionado à indústria imobiliária, verifica-se que esta também exerce forte pressão na composição do problema da mobilidade. Por conta da facilidade de financiamento de moradia para classes mais abastadas, que podem pagar valores mais elevados, o setor passou a produzir habitações em grande escala, em locais privilegiados e centrais de nossa cidade, visando dar resposta a essa demanda. Esse movimento gerou, por consequência, um deslocamento de grandes populações com menor poder aquisitivo, para regiões periféricas, dependentes, sobretudo, de transporte coletivo e de um sistema viário que possa dar fluidez ao mesmo.

Florianópolis, ao contrário disso, conta com um serviço que não consegue atender, com qualidade e eficiência, as necessidades de parcela considerável de seus habitantes em seus deslocamentos diários. Substancialmente centrado sobre o modal rodoviário e sem articulação deste com outras possibilidades de transporte, como o marítimo, o ciclo viário, ou mesmo os famosos veículos leves sobre trilho, este modelo, ao não conseguir atender as demandas existentes, faz com que muitos dos que possuem condições materiais, optem por se deslocar em veículo próprio, de modo individual, gerando cada vez mais problemas à já complicada mobilidade urbana no município. 

A abordagem deste tema segue na próxima coluna.

 

 

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Sobre o autor

Fernando Teixeira

Formado em Arquitetura e Urbanismo (UFSC), mestre em Geociências e Doutor em Educação Científica e Tecnológica (UFSC), natural de Florianópolis. Atualmente tem se dedicado à fotografia.


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