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Jejum de dopamina: o perigo de nova prática adotada por empreendedores digitais

“É só mais uma invenção de marketing incoerente”, afirma o PhD em neurociência Fabiano de Abreu (Foto: Reprodução/Internet)

Publicado em 21/02/2022

Um dos mais novos métodos para aumentar a produtividade e bem-estar adotado por empreendedores do polo tecnológico do Vale do Silício (EUA) é o “jejum de dopamina”. Sem nenhuma comprovação científica dos benefícios, os defensores do método passam dias evitando atividades prazerosas e agradáveis com o objetivo de melhorar o funcionamento do cérebro. Alguns adeptos até mesmo suspendem a alimentação. 

Segundo o neurocientista Doutor Fabiano de Abreu, a prática vai na contramão do que promete: não eleva a produtividade e aumenta os riscos de depressão. "O erro começa pela palavra, já que o significado de jejum é referente à comida e a dopamina é um neurotransmissor sintetizado a partir do aminoácido tirosina na glândula suprarrenal e em quatro regiões do cérebro”, adverte Fabiano de Abreu.

Os adeptos do jejum de dopamina acreditam que o ser humano passa muito tempo com atividades improdutivas devido ao fato de buscar cada vez mais dopamina, um neurotransmissor que promove sentimentos de prazer, motivação e recompensa. 

“Um "jejum" desta substância promove sensações opostas e prejudica o organismo como um todo. Uma das possíveis consequências é desencadear precursores que afetam as condições de ordem psicológica e que comprometem o bem-estar a longo prazo” afirma Fabiano de Abreu, que é Mestre em Psicanálise e Doutor em Ciências da Saúde.

Uma entrevista da BBC com um adepto do jejum de dopamina narra as práticas: ele suspende a alimentação, ingere apenas água, evita interagir com outras pessoas e abdica o uso do smartphone. De todas as práticas, Fabiano de Abreu salienta que apenas a suspensão de celular é vantajosa: “devemos usar o aparelho com sabedoria, períodos sem celular podem ser benéficos. Já suspender a ingestão de nutrientes essenciais para o corpo… isso é prejudicial para o organismo”, afirma. 

“Nosso cérebro é plástico, molda-se mediante às circunstâncias duradouras. Pessoas com depressão, por exemplo, têm a anatomia do cérebro modificada, apresentando uma redução de tamanho no hipocampo, a amígdala e o córtex pré-frontal. Quando nos colocamos em uma atmosfera negativa, desmotivada, sem prazer, com o passar do tempo o cérebro é moldado da mesma maneira”, informa o Doutor Fabiano de Abreu.

Quando a prática de jejum de dopamina é recorrente, pode afetar a personalidade da pessoa e gerar comportamentos maléficos recorrentes e também depressão. Mas existe “vício de dopamina?” Sim. O vício de dopamina acontece em determinadas situações, principalmente as da contemporaneidade, como o uso abusivo do celular. 

“O vício está também na facilidade, onde para a recompensa não é necessário gastar muita energia. Mas a solução para isso não é um jejum de dopamina, é parar de fazer aquilo que se sabe das consequências ruins e adotar mudanças no modo de vida para ter uma saúde mental e produtividade melhor. Tenha cuidado antes de adotar métodos sem respaldos científicos: jejum de dopamina é só mais uma invenção de marketing incoerente”  orienta o Doutor Fabiano de Abreu. 

Da redação

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