Onde estão nossas dúvidas, por Amanda Lima
Onde estão nossas dúvidas? Há quem as tenha em excesso. Há quem simplesmente não as tenha... zero dúvidas.
No consultório a gente vê isso. Dia a dia. A cada um que entra, e que sai. Um expõe suas dúvidas, esclarece. Outro chega e afirma categoricamente o que aconteceu e os porquês daquilo.
“Quanto tempo vai durar essa prótese nova? Mais do que eu, ou menos? “ - me perguntou esses tempos um senhor de 85 anos, em sua consulta de “revisão”, como ele chama, comigo, no consultório, fazendo uma nova prótese, pois a dele quebrou.
“Creio que, com essa saúde do senhor, acho que o senhor ainda dura mais que a prótese”- eu respondi.
“Na vida a gente tem 3 dentaduras, doutora: a que a gente nasce, a que a gente troca, e a que a gente compra” - ele me disse.
Confesso que algumas dúvidas, de fato, aparecem pra gente refletir e achar respostas como essa que recebi.
Mas as certezas de hoje…
Aaahhh (contém um suspiro), os certos de tudo!
No caos do mundo de hoje (basta abrir o whats, as redes, os jornais, os sites e escolher uma notícia), no cenário de guerra atual (vale escolher qual guerra também, pois tem Israel, palestina, mas também tem Síria, Iêmen, Congo, Mianmar…), as pessoas têm muitas certezas. Você já observou? Discorrem sobre números e dados (muitos que foram tirados de sites ou fontes sem grandes registros históricos), com aquela certeza.
E olha que dessas certezas anunciadas estão uns poucos que estudaram história, ou ciências políticas, ou são estudiosos dos assuntos que tangem o assunto. Em sua maioria leigos, cheios de certezas.
Uma vez - nessas leituras que mães fazem atualmente sobre os desafios de criar filhos (estou nesse time de leitoras) - li que, quando formos questionadas pelos filhos sobre algo que não soubermos a resposta (mesmo que seja tarefa de Fisica, um questionamento religioso, uma pergunta complexa), que não devemos enrolar. Nem responder qualquer coisa. Nem ignorar a curiosidade do filho.
Que o ideal seria a resposta:
“Não sei sobre esse assunto. Mas vamos pesquisar e descobrir juntos”.
Desde que li isso - há uns 5 anos, tenho em mente que o mundo seria mais simples se ninguém tentasse vender “gato por lebre” para ninguém. Se você, quando questionado pelo chefe, pelo filho, pelo amigo, dissesse isso: “Não sei, mas em breve saberei. Vou atrás. Vou descobrir”.
Acho que, em pleno século XIX, Russel (um matemático e filósofo inglês brilhante) já dizia: “ O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas”.
Assim, deixo o questionamento: "onde estão as nossas dúvidas?
Por que há tantas certezas sobre coisas que não estão ao nosso alcance e nem na “aba” do nosso “conhecimento” ?
Será que, por vezes, não é melhor um sonoro “não sei sobre esse assunto”, “ não tenho muito conhecimento pra opinar sobre isso agora”, do que darmos certezas apenas por dar?
Aristóteles já há muito se foi, viveu 300 anos antes de Cristo, mas deixou essa “pérola” para os dias em que todos exigem uma opinião, um posicionamento, uma certeza:
“O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete.”
Em tempos em que sensatez está em “falta no mercado”, cabe a nós - mesmo sem ter certeza - ou duvidar, ou refletir.
Na dúvida, fiquemos com nossas incertezas.
Vamos pelo menos, refleti-las. Né?
Dra Amanda Lima
@dentistaamandalima
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Sobre o autor
Amanda Lima
Cirurgiã dentista - Especialista em prótese dentária / Pós graduada em odontogeriatria
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