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Você segue tendências? O mercado do vinho sim


Publicado em 04/05/2017

Lembro que, há cerca de 10 anos atrás, no auge da “Parkerização” dos vinhos, quando todo vinho tinha que ter muita madeira nova, uma fruta super extraída e álcool acima de 14%. Tanto que alguns consumidores começaram a propagar a falsa informação de que vinho bom precisa ter álcool acima de 13,5%. Besteira! Época do auge dos super Malbecs, dos grandes Bordeaux, dos opulentos vinhos californianos e, até mesmo, da mudança de filosofia de produção em diversos locais que sempre produziram vinhos delicados e frescos. Tudo era feito pra aportar cor, estrutura e notas amadeiradas nos vinhos. Um grande exemplo foi a famosa região de Bordeaux e seus principais vinhos que, na década de 1980 tinham entre 11,5% e 12,5% de álcool, enquanto alguns rótulos da safra 2009 ostentavam 14%.

Não se sabe o que veio antes, se a vontade de beber vinhos mais leves ou se vinhos mais leves entraram goela abaixo e viraram a nova sensação. Mas, o fato é que algumas das grandes – e mais famosas – regiões vinícolas do mundo produzem “vinhos de chuva”, ou seja, têm a característica de ter um clima não desértico como Mendoza, por exemplo. As chuvas e o clima mais ameno ajudam a manter frescor, acidez, manter o álcool a níveis normais e produzir vinhos que podemos dizer “de terroir”.

Esse fato se juntou à crítica ferrenha à padronização dos vinhos, que ficaram parecidos entre si, mesmo produzidos em lugares bem diferentes no mundo, e a produção em massa dos vinhos chamados “modernos”. Alguns críticos e sommeliers influentes começaram a redescobrir ou apenas a falar mais sobre os vinhos frescos de cada local. Produtores começaram a respeitar mais a natureza e o que ela realmente passa e, até mesmo produtores de locais em que a maturação é facilmente alcançada, começaram a se aventurar em locais mais longínquos e difíceis para os seus padrões. Um grande exemplo disso é a descoberta dos vales mais ao sul de Mendoza, como Vale de Uco, e a parte sul e também litorânea do Chile. Muitos críticos e sommeliers, me incluindo, que não conseguiam mais beber uma taça daquele conhecido Malbec pesado e até enjoativo, hoje reconhecem o “renascimento” do vinho argentino nas mãos desses produtores que se aventuram nas partes mais frias de Mendoza, como os irmãos Michelini.

Não custa lembrar que alguns dos grandes vinhos nacionais saem do gelado Planalto Catarinense ou da úmida Serra Gaúcha, e que uvas como a Pinot Noir, considerada por muitos como a mais elegante e expressiva, se dão bem em climas “complicados” quando são cuidadas com muito cuidado e com baixíssimo rendimento, vide Borgonha. O fato é que a procura por vinhos menos concentrados e não tão doces têm sido alta, e a vontade de provar algo de novas regiões com essas características tem se tornado constante. Aposto nessa ideia e procuro sempre selecionar vinhos nesse estilo, pois, além de serem muito gastronômicos, são frescos e fáceis de beber.


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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