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Vale do Rhône: o paraíso mágico dos Syrahs
Na coluna desta semana, o sommelier Eduardo Araújo irá abordar a primeira das duas regiões, começando com o Norte

Dividido pelo Rio Rhône, as vinícolas do vale produzem estupendos vinhos (Foto:Eduardo Araújo/ arquivo pessoal)

Publicado em 12/04/2024

Tenho certeza que você já viu ou provou um vinho do Rhône, uma das maiores regiões da França que produz uma infinidade de estilos e níveis de qualidade. 

Mas, você sabia que o Rhône é dividido entre duas grandes áreas? O Norte e o Sul! A parte norte do Rhône é o lar dos melhores Syrah do mundo. 

Dando início, o Rhone é um dos rios mais importantes da França e Suíça, onde moldou muito do comércio e da civilização local. Ele começa no glacial do Rhône, a 1800m de altitude nos Alpes, passa pelo Lago Geneva, entra na França pela cadeia do Jura e faz a curva para o mediterrâneo em Lyon, onde se junta ao Rio Saône.

É ali, abaixo de Lyon, que o rio forma o principal terroir do chamado Rhône norte. Vales íngremes e relativamente estreitos de Vienne a Valence, onde um gap de cerca de 50 KM divide esse vale norte do chamado Rhône sul, que irei abordar na próxima coluna.

No Norte, é a terra de Syrah, uva originária do Sul da França, que tem como seu lar perfeito essa parte que não é tão quente quanto o Sul, nem tão frio quanto Beaujolais e Borgonha mais acima.

Nessas encostas temos dois dos mais famosos terroirs de Syrah do mundo, duas colinas de face sul, protegendo do forte e frio vento Mistral que vem do Norte, refletindo o rio e se beneficiando deste microclima com uma maturação intensa e solos pobres, pedregosos e vinhedos em terraços mais antigos. Estou falando de Côte Rôtie, ou "encosta assada", nome dado por sua alta exposição solar, produz um Syrah mais elegante, temos Hermitage, a famosa colina na margem esquerda do rio nomeada pelo Hermitão das cruzadas do século XII, Gaspard de Sterimberg, com sua capela ao topo que produz vinhos há séculos. Ali, temos Syrahs mais intensos e estruturados.

Na margem direita, descendo de Côte Rôtie, temos uma AOP (Appellation D'origine Protégée, do português, Denominação de Origem Protegida), dedicada a Viognier, a principal uva branca desta parte, que, apesar de ser cada vez mais rara, pode ser utilizada no blend final de Côte Rotie.

Em Condrieu e Château Grillet temos um Viognier concentrado, aromático e oleoso, muitas vezes com barrica de carvalho. Seguindo as encostas em direção ao sul, na margem direita, temos Saint-Joseph, uma AOP que foi expandida, mas que seu coração, do outro lado de Hermitage, sempre foi muito procurada. Diferentes estilos de Syrah são produzidos, mas, nas mãos de Jean Gonon e Jean-Louis Chave, saem coisas realmente absurdas.

Aqui também há um pouco de branco, com vinhos feitos com as uvas Marsanne e Roussanne, que, aliás, são 30% da produção de Hermitage, dando vinhos longevos, amendoados e texturais.

Em volta de Hermitage, temos Crozes-Hermitage, a maior AOP regional, muita variação de qualidade, geralmente um Syrah mais ligeiro de maceração semi-carbônica. Porém, nas mãos de bons produtores, em lieux-dits de boa exposição, saem achados com preços incríveis.

A região mais ao sul dedicada 100% a Syrah é Cornas, vinhedos em anfiteatro de face sul e leste muito íngremes, clima mais próximo ao mediterrâneo e com boa proteção do vento Mistral. Isso gera vinhos intensos, tanto em cor quanto em taninos, com potencial enorme para guarda. Aliás, como ficam bons os Syrahs bem guardados e abertos no seu auge após um tempo de evolução preciso. É uma das uvas que mais muda e quase sempre para melhor.

Se você curte Syrah, procure os vinhos do Norte do Rhône, são espetaculares. Não perca a próxima coluna, onde falarei sobre a outra parte, o Sul!

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Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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