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UMA UVA PARA CHAMAR DE SUA

Foto: Reprodução

Publicado em 01/03/2016

Para tenta consolidar uma região vitivinícola, uma das características fundamentais é estabelecer uma identidade. Podemos pensar em centenas de regiões já clássicas no mundo do vinho e veremos que todas elas são diretamente associadas a uma ou duas variedades de uvas. O caminho inverso também é verdadeiro, quando falamos de uma uva, geralmente pensamos em algumas regiões que têm capacidade de produzir ótimos vinhos com ela. São vários exemplos, como: Pinot Noir e Borgonha, Malbec e Mendoza, Shiraz e Barossa Valley na Austrália, Nebbiolo e Piemonte com os fantásticos Barolos e Barbarescos, Sauvignon Blanc e Marlborough ou Loire, Chardonnay e Chablis, Tempranillo e Rioja, entre tantos outros exemplos conhecidos nesse universo quase infinito.

Alguns desses casamentos entre região e uva aconteceram rapidamente, como na Argentina e Nova Zelândia, por exemplo, mas outras mais tradicionais existem há centenas de anos e confirmam a adaptação de uma variedade ao seu local de origem, sendo que, na maioria das vezes, essas uvas são autóctones e estão completamente adaptadas às características de solo e clima típicos do local.

O Brasil busca uma identidade e a medida em que exploramos novas regiões encontramos novos desafios quanto ao terroir. Temos já bem definido que o vinho Espumante é nosso carro-chefe no Vale dos Vinhedos e a uva Merlot uma representante de excelência nos tintos nessa denominação de origem. Já a Campanha Gaúcha, mais ao sul, ainda busca em diferentes castas a identidade necessária com destaque para a Tannat em algumas vinícolas.

Santa Catarina não poderia ficar de fora e os produtores locais perceberam após quase 10 anos do início das atividades vitinícolas na região de altitude da Serra Catarinense que uvas de maturação tardia, como Cabernet Sauvignon, por exemplo, tem certa dificuldade em amadurecer por completo num clima em que o frio chega cedo e as uvas têm um ciclo vegetativo mais lento devido às condições típicas da altitude acima de 1.000 metros. Porém, diferentes testes vêm sendo realizados em micro vinificações, principalmente com castas italianas, como Montepulciano e Sangiovese, e variedades brancas como Sauvignon Blanc e Chardonnay, essa primeira resultando em vinhos muito bem feitos e típicos na grande maioria dos produtores.

Essa confirmação deu destaque para a Sauvignon Blanc, que vem chamando a atenção há algum tempo e se confirmou com um painel de degustação realizado pela ABS-SC com a presença de 13 amostras de 12 vinícolas diferentes numa apresentação de José Eduardo Bassetti.

A uva se mostrou já adaptada às condições locais e refletindo bem a micro região que se encontra além da filosofia do produtor, com qualidade média muito boa e alguns destaques com notas típicas dos bons Sauvignon Blanc do mundo foram encontradas durante a degustação. Inclusive com dois representantes trazendo um toque diferente pra uva, como o Donna Enny, da Villagio Bassetti, com passagem por barrica, e o Quinta da Figueira Garapuvu Amarelo trazendo um vinho laranja, estilo que está em alta e leva uma maceração prolongada aportando mais estrutura e aromas.

Apesar de uma média muito boa, destaquei alguns que me chamaram a atenção com aromas que variavam nos espectros frutados, como goiaba, maracujá e lima/limão, além de vegetais e erbáceos como grama cortada, arruda e folha de tomate. São eles: o Suzin, o Quinta da Neve e o Villa Francioni.

Após esse painel e sabendo da qualidade do terroir de altitude catarinense, fico ansioso para provar as novas amostras das uvas tintas que estão em teste na região. Quem sabe não temos uma para chamar de nossa.


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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