00:00
21° | Nublado

Um nobre de guarda


Publicado em 16/07/2012

Desde 1670, com raízes produtoras de vinho, a Domaine du Pegau produz um exemplar muito especial na região. Pegau era o nome dado às jarras de vinho feitas de argila na região no Séc. XIV.
Após todo esse tempo de história, apenas em 1987, Laurence, filho de produtores, retornou à Châteauneauf Du Pape e propôs produzir um grande vinho por lá, de forma familiar e independente, com nove hectares de vinhedos. Após passarem por algumas dificuldades financeiras, no meio da década de 1990 o Domaine entrou no rol dos grandes produtores da região, frequentemente ficando entre os “Top 3” em degustações críticas.
Hoje, eles possuem 19,5 hectares de vinhedo com uvas tintas e 1,5 hectare com uvas brancas, produzindo respectivamente 78.000 e 3.000 garrafas. Os vinhedos são divididos em 19 parcelas, muitas vezes adjacentes. As melhores são situadas em encostas e voltadas para o Sudeste. Os três tipos de solo também diferenciam cada lote, alguns com areia, outros com argila, mas todos com pelo menos um pouco das tradicionais pedras da região, os seixos.
Aqui a Grenache tem uma grande participação (80%), dando excelente mineralidade e profundidade ao vinho. Outras castas são plantadas, como Syrah, Mourvedre e Cinsault, restando 5% dos vinhedos para as outras uvas locais. A idade dos vinhedos varia de 30 a mais de 105 anos. Este fato, somado a uma rigorosa poda, leva a produtividade para apenas 30-35 hectolitros por hectare. O cultivo é feito sem herbicidas ou pesticidas.
A maceração acontece em tanques de concreto e epóxi, permanecendo por cerca de 12 dias. A fermentação inicia sem controle de temperatura e com leveduras indígenas. Diferentes barricas são utilizadas, todas com vida útil entre 10 e 70 anos.
O vinho pode ser encontrado em 40 diferentes países e é uma das referências para o estilo mais tradicional e de grande potencial de guarda. O vinho clássico da casa é um blend com cerca de 75% Grenache, 20% Syrah e 5% Cinsault e outras variedades. Ele permanece por cerca de dois anos em madeira. O Cuvée Laurence é uma seleção especial do mesmo blend que permanece adicionais 20 meses em média em amadurecimento.
Previamente aerado por cerca de uma hora, esse vinho se mostra vivo e muito intenso. Aroma rico, cheio de complexidade e que se mostrava diferente a cada prova. Em meio às amoras e cerejas super maduras surgiram aromas de ervas, como tomilho, por exemplo. Couro, pimenta preta e pedra quente aumentam a variação aromática. Na boca o vinho mostrou-se denso, generoso e encorpado. Taninos ricos, mas refinados, com belíssima textura. Todo esse poder é balanceado com os componentes da estrutura e um final de boca rico e longo, lembrando ameixas maduras. Fantástico vinho, sem o estilo super extraído, que parece uma geleia, mas clássico e que ainda deve evoluir por pelo menos duas décadas.


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


Ver outros artigos escritos?