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O clima e a safra

Foto: Reprodução

Publicado em 05/07/2016

Inverno frio, verão quente e com a quantidade de chuva exata durante toda a temporada de amadurecimento das uvas, a expectativa com a chegada do fenômeno La Niña nos leva a ter esperanças de uma safra excelente no Brasil. Ano passado tivemos uma safra com perdas de até 80% para alguns produtores. O inverno quente e as geadas tardias, além de granizo e excesso de chuva no período da floração, comprometeram toda a produção.

Essa variação entre o clima de um ano para o outro torna importante a menção daquele número no rótulo sendo uma referência ao ano da colheita das uvas que foram usadas para produzir o vinho. Variações de temperatura, chuva e ouras variáveis climáticas mudam completamente o estilo e qualidade da fruta madura, o que influencia toda a vinificação. Por exemplo, anos mais frios e úmidos propiciam uvas menos alcoólicas e mais ácidas e, por outro lado, anos muito quentes e secos elevam a quantidade de açúcar na uva aumentando o potencial alcoólico do vinho. Nenhum é positivo, o ideal é o equilíbrio. Dias quentes, noites frias e chuva na medida certa para abastecer as videiras e não diluir a expressão da uva são fundamentais. Ao contrário teremos sempre vinhos desequilibrados de um lado ou de outro, precisando de correções e não alcançando sua máxima expressão.

Essa variação anual é um dos motivos que levam a região de Champagne, por exemplo, a produzir vinhos em sua grande maioria sem a menção da safra do róluto, pois, para manter um padrão “da casa”, utilizam vinhos reserva de outras safras. Somente em anos especiais, em que o clima é praticamente perfeito, eles fazem um Champagne Millésime ou Vintage em que vale a pena expressar todo o potencial com uvas de uma só safra.

Isso é feito também em vinhos ícones ou especiais de diferentes vinícolas. É muito comum perguntarem quando foi um bom ano. Uma dica é observar os vinhos mais especiais de cada produtor, pois, na grande parte das vezes, eles só são produzidos quando a safra foi boa o suficiente para produzir uvas com a qualidade mínima para se fazer vinhos de alto padrão. Em algumas regiões do mundo em que a natureza contribui com um padrão de alta qualidade ano após ano, isso pode aparecer sempre, mas em outras regiões como o Brasil ou até mesmo Bordeaux e Champagne, essas safras especiais acontecem em um a cada três ou quatro anos, até menos se levarmos em conta a filosofia mais exigente de alguns produtores.

A menção de um ano especial num rótulo pode levar ao aumento de preço de um vinho e até mesmo elevar esse vinho para um status de investimento, pois com certeza uma grande safra irá se valorizar com o tempo. Por outro lado isso faz com que safras menos “famosas”, mas de boa qualidade, tenham preços muito interessantes em rótulos famosos, justamente por ficarem à sombra dos anos históricos. Outra opção é comprar vinhos um degrau abaixo dos ícones, quando esses não são produzidos. O motivo é que as uvas que foram selecionadas e cultivadas com intenção de produzir um rótulo especial serão utilizadas num vinho abaixo, geralmente mantendo uma ótima qualidade num vinho de bom preço.

Então, preste atenção nesse detalhe importante. A safra 2012 no Brasil foi de altíssima qualidade, comparável à histórica 2005, que foi fantástica na maior parte do mundo. Em Bordeaux tivemos uma sequência muito boa em 2009 e 2010 que também produziu grandes Borgonhas. Na Itália, 2010 foi histórico para os grandes Barolos e Brunellos, e 2011 produziu vinhos do Porto seculares. Fica a dica!


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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