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21° | Nublado

Meu vinho, minhas regras


Publicado em 07/08/2018

Estamos no inverno. Apesar do calor fora de hora, nesta época do ano somos bombardeados com propagandas falando que "no frio é tempo de beber vinho", pois estamos no inverno e que essa é a época para comprar umas garrafas, escolher alguns queijos e sentar-se à beira da lareira para apreciar umas taças. Nada mais antigo e inadequado para uma bebida tão versátil e que precisa de popularização, do que associar o vinho somente ao pouco período de frio neste país tropical. A indústria repete esse "tiro no pé" todos os anos, há anos!

E os outros trezentos e vinte dias do ano?

Já falei muito aqui sobre a variedade de estilos e a ótima relação de qualidade versus preço que temos nos vinhos brancos, e como eles combinam com nossa gastronomia e com o estilo de bebida que o brasileiro está acostumado. Mas, mesmo assim, o vinho tinto domina e é muito associado aos dias frios.

Motivos culturais e históricos não faltam e vocês podem numerar diversos sem pensar muito. De fato, um dos maiores culpados é a própria indústria que bombardeia os consumidores com ações, promoções, propagandas, degustações e feiras somente nesse período do ano, criando uma relação subliminar na cabeça das pessoas.

A sensibilidade é tanta e tão perceptível, que dentro do The Wine Pub isso se reflete diretamente nas taças vendidas. No primeiro dia de frio deste inverno, as vendas aumentaram muito e os tintos abocanharam cerca de 90% das taças consumidas. Um dia depois entrou a onda de calor e não só a venda deu uma diminuída, como os brancos e rosés dominaram.

É comum chegar um cliente e pedir um vinho tinto "pra combinar com o friozinho". Logicamente existem vinhos mais encorpados, pesadões, que dominam o mercado brasileiro, como Malbec e Cabernet Sauvignon, que não são os mais agradáveis para se degustar no calor do verão. Mas, temos tantos tintos leves, como os do centro de Portugal, costa do Chile, diversos brasileiros que podem ser bebidos o ano todo, seja com um jantar sofisticado como em um churrasco descontraído.

E como já falei em outra coluna, podemos beber brancos encorpados o ano todo, na mesma proporção e versatilidade gastronômica! Relembrando meus últimos vinhos, levei um Riesling refrescante para um churrasco num dia frio e um Pinot fresquinho pra bater papo numa noite quente. Usando o lema da nova campanha do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin): "Meu Vinho Minhas Regras!"


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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